sexta-feira, 21 de julho de 2023

Drave e JMJ: Desprendimento e Serviço

Drave e JMJ: Desprendimento e Serviço"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 21 de julho 2023 no jornal diário "Correio do Minho"

1. Como uns dias em Drave podem alterar a nossa vida

Drave é uma aldeia que, nesta altura, não tem habitantes residentes, está construída a 600 metros, numa cova entre três serras: Freita, São Macário e Arada, nela confluem três pequenos rios, integrada no Geoparque de Arouca, é uma típica aldeia de xisto, aí designado como “pedra lousinha”, sendo a cobertura feita por grandes lousas de xisto. É muito isolada e sem traços de modernidade: não é acessível de carro, Regoufe é a aldeia mais próxima e fica a 4 quilómetros, não tem eletricidade, água canalizada, saneamento, gás, correio, telefone e a rede de telemóvel é escassa. Foi neste “mundo quase jurássico” que realizamos o nosso acampamento de verão.

Fizemos a aproximação pelo lado de S. Pedro do Sul, utilizando, a partir de determinada altura, uma estrada de terra batida que se parecia ter instalado na crista da serra e quando, de repente, avistamos Drave, estávamos já na alta encosta da montanha. Estacionamos os carros num espaço que, pomposamente, se designa como sendo o “quarto parque”, sentimos a densidade do silêncio humano que nos permitia escutar sons que não identificávamos.

Carregamos todo o material e equipamento necessário, que dividimos por cada um de nós, e lá fomos descendo esta estrada, até um novo troço, agora uma espécie de caminho de cabras, onde as pedras soltas abundam e onde o declive do caminho aumentava, só nos sendo permitido avançar a “passo de caracol”. Quando alcançamos a aldeia parecia que tínhamos chegado à “Terra Prometida”. todos sentimos, literalmente, o peso do supérfluo.

A vida em campo obrigava-nos a um processo de entreajuda permanente, como era fácil rezar naquele ambiente, como a ajuda ao outro, fosse do nosso ou de outro grupo, surgia com naturalidade. Como era acolhedor o ambiente na casa do silêncio, onde no passado dormiam os trabalhadores da extração do volfrâmio, agora transformada em espaço de espiritualidade. Como parecia leve o trabalho comunitário do dia, que consistiu no corte de mato e infestantes, numa parcela de terreno.

Como foi intensa a oração que organizamos e na qual participaram uma centena de caminheiros e dirigentes, realizada a meia encosta, num dos antigos socalcos agrícolas, qual espaço de oração coberta por um belíssimo céu estrelado e tendo como “banda sonora” o som surdo dos chocalhos das vaquinhas que pastavam.
Ao terceiro dia subimos a montanha e regressamos a nossas casas, com a certeza de que valeu a pena ter vivido esta experiência de desprendimento.

2. «Maria levantou-se e partiu apressadamente»

Esta é a citação bíblica (Lc 1, 39) escolhida pelo Papa Francisco como tema da Jornada Mundial da Juventude que acontecerá, pela primeira vez, em Lisboa. A frase bíblica (uma citação do Evangelho de São Lucas) dá início ao relato da Visitação (a visita de Maria a sua prima Isabel), um episódio bíblico que se segue à Anunciação, estabelecendo, desta forma, uma ligação ao tema da anterior JMJ “o anúncio do anjo a Maria de que iria ser a mãe do Filho de Deus”, na cidade do Panamá).

Por todo os cantos do mundo, os jovens preparam-se para este encontro com o Papa Francisco para, a partir desta experiência de vida da Senhora do Caminho, descobrirem, definirem ou viverem o seu “Caminho”, com a mesma intensão de Maria: dar testemunho do Amor de Jesus.

Maria é a Senhora de todos os nomes: da Anunciação e do Caminho, mas também da Luz e da Esperança. Certamente que o Santo Padre não deixará, face aos tempos que vivemos, de incentivar os jovens a serem: anunciadores de um futuro caminho de paz, um farol num porto seguro e esperança na construção de um mundo melhor para todos.

Neste momento, todos os jovens se preparam para serem portadores da Boa Nova, pelo exemplo das suas vivências. Assim, esta JMJ deverá ser a consolidação desta preparação para que seja profícua, duradoura e caritativa, isto é, portadora do Amor de Cristo. Certamente que o Papa Francisco, pela palavra, carinho e exemplo de vida, a todos cativará para seguirem o exemplo de Maria.

Votos de boas vindas a Sua Santidade e que Portugal se mobilize por caminhos de mudança de verdadeiro serviço samaritano, para que cada um de nós possa dizer como Fernando Pessoa: «Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido».?

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