segunda-feira, 15 de julho de 2024

Folhinha interparoquial nº 22 de 15 a 21 julho de 2024

Folhinha interparoquial nº 22 de 15 a 21 julho de 2024

Paróquias de:
- Divino Salvador de Nogueiró.
- Santa Maria de Lamaçães
- S. Tiago de Fraião

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Folhinha interparoquial nº 21 de 8 a 14 julho de 2024

Folhinha interparoquial nº 21 de 8 a 14 julho de 2024

Paróquias de:
- Divino Salvador de Nogueiró.
- Santa Maria de Lamaçães
- S. Tiago de Fraião

“O CNE e o V Congresso Eucarístico Nacional (Conclusões) (I) e (II)"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigos publicados a 6 (conclusões), 21 de junho (I) e 6 de julho (II) de  2024 no jornal diário "Correio do Minho"


Conclusões do V Congresso Eucarístico Nacional"

No final da Eucaristia solene de encerramento do Congresso, celebrada, no recinto do Sameiro, sendo presidida pelo Cardeal José Tolentino de Mendonça, enviado especial do Papa Francisco, foram lidas as conclusões do V Congresso:
«De 31 de maio a 2 de junho de 2024, realizou-se em Braga, nos dias seguintes à Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue do Cristo, o 5.º Congresso Eucarístico Nacional (CEN) por ocasião dos 100 anos da sua primeira edição. Com o tema “Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. «Reconheceram-n’O ao partir o Pão»” (Lc 24,35), o congresso reuniu cerca de 1400 participantes, 4 cardeais e 30 bispos, estando representadas todas as dioceses portuguesas.
Ao longo de três dias, além de conferências, painéis com testemunhos e workshops, tiveram lugar relevantes momentos celebrativos e culturais: Eucaristia, adoração, laudes, vésperas, oração do terço, cantata eucarística, exposição e uma peregrinação a pé ao Santuário do Sameiro onde a Eucaristia de encerramento foi presidida pelo cardeal José Tolentino de Mendonça, delegado do Papa Francisco ao 5.º CEN.
Estes foram dias festivos em que a Igreja em Portugal se reuniu para refletir e rezar a centralidade da Eucaristia na vida dos crentes e amissão confiada a cada um que comunga o Corpo de Jesus, de ser esperança no mundo e para o mundo, numa época desafiante e de vertiginosas transformações.
Em ano de oração convocado pelo Papa e em pleno processo sinodal, depois da JMJ Lisboa 2023 e antes do Jubileu de 2025 – “Peregrinos da Esperança” – saem deste congresso algumas linhas orientadoras para a Igreja em Portugal:
1. Redescobrir que a centralidade eucarística vai para além do Domingo. A Eucaristia deve ser preparada e celebrada como verdadeiro encontro com Cristo Ressuscitado, evitando que seja apenas o cumprimento de um preceito. Para uma presença alegre, consciente, ativa e frutuosa da celebração urge uma mais cuidada formação litúrgica.
2. Manter as igrejas abertas e revalorizar a adoração eucarística. Os horários de abertura das igrejas devem ser adequados ao ritmo do mundo de hoje, procurando estimular os momentos de oração pessoal e envolver os leigos, confrarias do Santíssimo Sacramento, catequistas e demais agentes pastorais na dinamização dos momentos de adoração eucarística comunitária.
3. Procurar o equilíbrio entre a Tradição e a necessidade de introduzir novas linguagens na liturgia, integrando os jovens nesse processo de renovação e adequando a espiritualidade cristã aos ambientes digitais e ao mundo secularizado.
4. Reforçar a Eucaristia como escola de fraternidade e sacramento de unidade. O encontro comunitário na celebração do Domingo ultrapassa todas as fronteiras. Ao partilhar o pão, na mesa do altar, tornamo-nos companheiros de caminho e somos chamados a criar comunhão. A Eucaristia convoca todos, está aberta a todos e não afasta ninguém.
5. Garantir a autenticidade e coerência entre o que se vive e anuncia. Quem participa, celebra e comunga tem de se sentir comprometido e impelido à missão. A Eucaristia celebrada na igreja tem de ser expressa para além das suas portas, através das respostas reais às necessidades concretas das pessoas, estendendo o seu abraço a todos, especialmente aos mais pobres, indefesos e os que estão afastados.
6. Assumir a sinodalidade a partir da Eucaristia como lugar onde a Igreja se renova na comunhão, na participação e na missão.
7. Ser sinal de Esperança. O amor dos crentes à Eucaristia acreditada, celebrada, adorada e vivida consolida a fraternidade, promove o perdão e a paz, tornando-se fonte inesgotável de esperança para o mundo.
Ao realizar o 5.º Congresso Eucarístico Nacional fica também patente o desejo de uma periodicidade mais regular na sua realização, esperando que seja um contributo para a construção da paz, da esperança e um veemente apelo à promoção de uma ecologia integral.
Confiamos a Maria, Mãe da Esperança, os bons frutos deste Congresso para que a Igreja em Portugal seja cada vez mais eucarística, samaritana e mariana.
Braga, 2 de junho de 2024.1»

https://congressoeucaristico.pt/conclusoes-do-5-o-congresso-eucaristico-nacional/



“O CNE e o V Congresso Eucarístico Nacional (I)"

Na última crónica partilhei com os leitores as conclusões do V Congresso Eucarístico Nacional1, que foram apresentadas aos participantes e aos peregrinos no Monte do Sameiro, no final da Eucaristia Campal, aí celebrada e presidida pelo Cardeal D. José Tolentino de Mendonça, representante especial do Papa Francisco, encerrando o Congresso.
Hoje, gostaria de partilhar as oportunidades criadas pelas conclusões apresentadas a toda a Igreja em geral, mas de uma forma específica ao Escutismo Católico Português, por forma a enriquecer o Programa Educativo e o Método Escutista.

Definindo-se o Escutismo como um movimento de educação integral, isto é, atende a todas as éreas do desenvolvimento de crianças e jovens, onde estes são protagonistas da sua autoeducação, que o fundador procurou sempre valorizar com um conselho que ficou célebre com a seguinte expressão: «impele a tua própria canoa».
Por tudo isto, a primeira conclusão «Redescobrir que a centralidade eucarística vai para além do Domingo.», isto é, esta centralidade é uma caminhada, mas uma caminhada onde cada um deixa o suave perfume do Senhor, que se procura e, se tivermos vontade, sempre o entramos no troço do caminho percorrido. É um corajoso apelo a rompermos com a centralização do nosso olhar, não naqueles que nos podem ajudar num caminho, mas nos que nós podemos amparar no caminho. É um apelo a olharmos para a Eucaristia como um espaço agradável onde podemos sempre encontrar os outros e o Senhor, de certa forma é como os encontros que o Senhor proporcionou, a tanta gente, junto ao rio, na praia, na montanha, na cidade ou no campo. Neste sentido, o CNE deve procurar linhas de abordagem mais simples e diretas, procurando interlaçar a Fé e a sua vivência por forma a (re)descobrir a alegria na simplicidade dos encontros.

Na segunda conclusão «Manter as igrejas abertas e revalorizar a adoração eucarística» Para que as igrejas sejam espaços de acolhimento fraterno e familiar, sobretudo para os que deles mais necessitam. Por isso, as preocupações fundamentais da Igreja nos dias vindouros, devem ser os momentos de oração/adoração, que podemos encontrar nas palavras de Lucas (10, 40-42) quando Marta, em sua casa, interpelou Jesus dizendo: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe só com todo o trabalho? Diz-lhe então que me venha ajudar.» Mas o Senhor respondeu: «Marta, Marta, andas preocupada e agitada com tantas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada.»

É esta lucidez de discernir sobre as escolhas que quotidianamente fazemos que temos que saber ordenar nas prioridades que Jesus aqui estabelece. Claro as opções das duas irmãs são ambas importantes, numa analogia simples permitir-me-ei dizer que Marta escolheu a “Igreja” e empenhou-se para que todos se sentissem bem, mas Maria escolheu a “adoração eucarística”, ouvir o Senhor e por isso a melhor parte que não lhe será tirada.
Na terceira conclusão «Procurar o equilíbrio entre a Tradição e a necessidade de introduzir novas linguagens na liturgia» a necessidade de evolução aqui expressa é de uma importância capital, antes de mais porque o meu tempo foi muito diferente do tempo dos meus filhos e muitíssimo mais dos tempos dos meus netos, os tempos de hoje. Hoje o “protótipo” de Jesus [desculpem-me a rudeza desta expressão] que me apresentaram era diferente do de hoje, tal como o da Igreja, mas também não podemos substituir o personagem central do Presépio pelo Pai Natal que veio do frio. Nos nossos dias, estes tempos de globalização, devem ser oportunidades para que o Homem Novo possa emergir, quebrando barreiras que os tempos foram levantando para que a simplicidade do dizer «Pai Nosso» ou do «Partir do Pão» sejam exemplos, que o CNE possa trabalhar, de forma integrada nas seis áreas de desenvolvimento e nos oito elementos do método escutista, permitindo que as crianças e os jovens que nos são confiados possam, como Jesus Menino, «crescer em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens» (Lc 2 – 52).

https://congressoeucaristico.pt/conclusoes-do-5-o-congresso-eucaristico-nacional/


“O CNE e o V Congresso Eucarístico Nacional (II)"

Na crónica anterior iniciei uma breve reflecção sobre algumas das oportunidades criadas pelas conclusões do V Congresso Eucarístico Nacional1, apresentadas a toda a Igreja em geral, mas de uma forma específica ao Escutismo Católico Português, por forma a enriquecer o Programa Educativo e o Método Escutista.
Assim, a quarta conclusão: “Reforçar a Eucaristia como escola de fraternidade e sacramento de unidade”, o Escutismo, em geral, pretende criar condições para que crianças e jovens tenham oportunidades de encontro com o Transcendente e que estes encontros sejam elementos significativos na sua formação espiritual.
No entendimento do fundador «os escuteiros de hoje. Para onde quer que vão eles amam os bosques, os montes e os prados, e gostam de observar e conhecer os animais que os habitam e as maravilhas das flores e das plantas.
O homem de pouco vale, se não acreditar em Deus e obedecer às suas leis. Por isso, todo o escuteiro deve ter uma religião2
No caso do Escutismo Católico Português, a construção desta comunidade que caminha junta, que cria oportunidades e vivências partilhadas, em comunhão com os outros, centrados no exemplo de Cristo que deu a vida por nós. Todos somos chamados, a Eucaristia convoca-nos a todos, mesmo a todos, não excluindo ninguém.
Neste sentido a quinta conclusão do congresso: “Garantir a autenticidade e coerência entre o que se vive e anuncia” reforça a sintonia permanente entre “o ser“ e o que ele diz ou faz. É a sintonia entre o que se diz e o que se faz, é a procura do que se faz com os outros e pelos outros, de um modo especial pelos mais frágeis, pelos mais pobres e pelos mas sacrificados. A nossa fé na Boa Nova deve materializar-se em atos de Amor, de um modo especial, fora de portas. É altura da valorizarmos, cada vez mais as “Boas Ações”, coletivas e individuais, recordemos as palavras de Tiago (2, 14-17): «Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso a fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém de vocês lhe disser: “Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos”, e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento.»
Como são fortes estas palavras de São Tiago, sobretudo nos dias de hoje, onde, em todos os cantos do mundo, há pessoas que sofrem com as guerras, as perseguições, todo o tipo de abuso e de exploração e com a indiferença daqueles a quem a vida sorriu e favoreceu e que não querem partilhar fraternamente com os seus irmãos que sofrem e que morrem.
Não sejamos como “frei Tomás: olhai para o que eu digo e não para o que eu faço”.
Por último, para hoje, a sexta conclusão remete-nos, a cada um de nós o: “Assumir a sinodalidade a partir da Eucaristia”, a sinodalidade enquanto processo de construção de uma comunidade a partir da participação de todos no processo permanente de construção e aperfeiçoamento das vivências individuais e coletivas, no aperfeiçoamento da nossa missão e da missão da Igreja, tendo como ponto de partida a essência das nossas comunidades cristãs: a Eucaristia. Só assim poderemos redescobrir a nossa missão na Igreja e na nossa relação com o mundo que nos envolve, com todas as outras comunidades de crentes.
Desta forma, poderemos desenvolver cooperação com os outros crentes e, em conjunto encontrarmos caminhos de respeito pelas pessoas que nos conduzam à Paz entre os homens e à preservação desta Terra que nos acolhe e que recebemos como herança de nossos pais, para legarmos aos nossos filhos, mas que tantas vezes maltratamos.

https://congressoeucaristico.pt/conclusoes-do-5-o-congresso-eucaristico-nacional/
Baden-Powell, Escutismo para Rapazes, Corpo Nacional de Escutas, Lisboa, março 2007, p. 287.


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segunda-feira, 1 de julho de 2024

quinta-feira, 27 de junho de 2024

segunda-feira, 17 de junho de 2024

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Rita Fernandes, na Copa do Mundo de Orientação

 Segunda ronda da copa do mundo de Orientação

Nos passados dias 1 e 2 de junho participei na minha primeira prova internacional a representar a seleção portuguesa de Orientação, na segunda ronda da Copa do Mundo de Orientação 2024, que decorreu em Génova, Itália. No primeiro dia decorreu a prova de sprint, em Voltri, num terreno diferente do habitual sprint em cidade, com caminhos, passagens, escadas e ruas tecnicamente desafiantes. Esta prova não me correu bem, pois cometi um erro grande para um ponto, e não passei no penúltimo ponto (mispunched). No segundo dia a responsabilidade era maior, pois era a prova de sprint relay, em Nervi, onde 4 elementos da equipa competem em formato de estafeta, cada um percorrendo um percurso de sprint. Neste percurso a vertente física era mais determinante, mas a escolha das opções mais curtas também era essencial para vencer os adversários. Fiquei contente com a minha prestação, não cometendo grandes erros tecnicamente, no entanto, o desempenho físico fica ainda muito aquém dos resultados obtidos pelos melhores atletas internacionais da modalidade. A equipa portuguesa classificou-se em 18 lugar. Foi uma experiência enriquecedora, agradeço a oportunidade de poder competir com os melhores atletas do mundo de Orientação, e levo para casa mais motivação e vontade de evoluir na modalidade!

Agradeço à Junta de Freguesia de Nogueiró e Tenões pelo apoio na participação desta competição.

Obrigado,

Rita Fernandes






segunda-feira, 10 de junho de 2024

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Homilia proferida pelo cardeal D. José Tolentino de Mendonça no Santuário do Sameiro, no dia 2 junho 2024

 

@ohleoca
@ohleoca

Homilia proferida pelo cardeal D. José Tolentino de Mendonça no Santuário do Sameiro,

no dia 2 de junho 2024

«Reconheceram-No ao partir do pão» (Lc 24,35). Este foi certamente o ponto focal do 5º Congresso Eucarístico Nacional, que nos propõe o sacramento eucarístico como possibilidade de reconhecer o Ressuscitado no meio de nós. Foi isso que aconteceu aos discípulos de Emaús, num momento em que se sentiam desorientados e sem elã, quase cedendo à tentação de partir em retirada. Connosco não poderá ser de outra maneira. A Igreja recomeça porque reencontra Jesus. A Igreja intercepta o seu futuro quando abre as portas a Cristo e se ancora com decisão nesse programa corajoso e real de revitalização que a eucaristia representa. Ontem como hoje a Igreja encontra o sentido da sua vocação e missão «ao partir do pão». Por isso estamos aqui, queridos irmãos e irmãs. Somos muitos, mas uma mesma razão nos acomuna como se fôssemos um só. Estacionamos aqui para esta fraterna celebração, mas com o compromisso de irmos mais longe, de nos tornarmos discípulos e missionários comprometidos. E queremos receber o pão da vida, porque queremos aprender de Jesus a arte de se tornar pão.

Pensemos no significado do pão. As coisas mais belas e infelizmente também as mais infelizes acontecem em nome do pão. Falar do pão é falar da subsistência, das condições da vida material, daquilo que é tido como indispensável à manutenção da vida. Um poeta escreveu que o pão repete a imagem do ventre da mãe, pois está associado à germinação, à plenitude e à vontade de viver. É verdade! O homem não pode viver sem pão. Essa é também a sua realidade. 

O próprio Jesus o deixou expresso nos relatos da multiplicação dos pães (Mc 6,34-44; 8,1-9; Mt 14,13-21; 15,12-38; Lc 9,10-17; Jo 6,1-15). A fome e as necessidades materiais do ser humano não lhe são indiferentes. Quando Jesus nos interpela questionando-nos sobre aquilo de que vivemos para lá do pão, não é para nos fazer fugir do realismo do pão, mas para que o encaremos como lugar que tem de ser investido de Espírito. O próprio Jesus há-de mostrar como se faz, quando no contexto da Última Ceia, pegar no pão e disser: «Comei, este pão, que não é só pão; que é o meu corpo, o dom inteiro da minha vida entregue por vós». Mas sabemos como a disputa pelo pão pode torná-lo um referente anti-eucarístico. Instrumentalizado pelo egoísmo, o pão torna-se não o símbolo do amor mas do egoísmo; não o que funda a prática da fraternidade, mas o signo da desigualdade social, da inquietante ideologia da exclusão e do descarte. O pão pode ter o perfume da paz ou estar na origem dos inúteis conflitos tóxicos e das devastadoras guerras. O pão pode ser aquilo que une ou a ferida que violentamente separa. 

A pergunta é se haverá solução? Se este drama se pode alguma vez resolver? Ou se estamos condenados a que o pão nos torne inimigos em vez de irmãos e iguais? A pergunta para nós cristãos é esta: qual é o papel da eucaristia na gestação de comunidades de esperança e na edificação de um mundo melhor?

A Leitura do Livro do Deuteronómio, que hoje escutámos, recorda que o horizonte da nossa humanidade não se esgota na pura materialidade. O humano em nós não se realiza na obstinada e exclusiva procura do ter, mas é convocado a mais: é convocado a escutar a universal vocação divina que o atravessa. Sem o reconhecimento dessa vocação divina, o homem não chega a humanizar-se. Fica aquém do seu destino e não compreende, de modo cabal, a dignidade do seu Ser. 

Se pensarmos bem, causa arrepios a altíssima dignidade que Deus concedeu ao Ser Humano. Isso mesmo nos recorda o texto do apóstolo Paulo: «Deus que disse, “Das trevas brilhará a luz” fez brilhar a luz em nossos corações para que se conheça em todo o seu esplendor a glória de Deus, que se reflecte no rosto de Cristo» (2 Cor 4,6). É essa altíssima dignidade que Cristo não desiste de restituir e restaurar: espelhar no rosto de cada ser humano o Seu próprio rosto. 

Do mesmo modo, quando o Evangelho de Marcos apresenta Jesus como o “Senhor do sábado” sublinha que Ele oferece uma visão inovadora sobre como se interpreta a vida e o pão, pois desloca-nos da dureza de coração à disponibilidade para procurar e salvar a vida frágil, ferida ou perdida. Jesus vem dizer-nos que é possível caminhar nessa direcção. De facto, se não sentirmos esse desafio a intervir para remover aquilo que atrofia a existência dos nossos semelhantes é porque estamos, mesmo sem nos darmos conta, espiritualmente atrofiados. Ora, não queremos ser uma Igreja que vive atrofiada. Queremos ser uma Igreja desperta, que se implica a remediar a atrofia e a preparar uma nova sementeira nos corações. 

Desde os inícios, a Eucaristia vem designada como «a fracção do pão», porque Jesus é claro connosco: a vida torna-se generativa e fecunda na medida em que arrisca ser vida repartida e partilhada. Só dessa maneira. A eucaristia oferece-nos o mapa e a viagem. O pão que se concentra apenas na sua autopreservação depressa endurece e ganha bolor. Só quem aceita a lição de Jesus descobre a própria existência como sementeira, transmissão de afecto, inscrição da esperança, nutrimento fraterno. Recordo o que disse, num campo de concentração, uma das grandes vozes místicas do século XX, Etty Hillesum: «Desejo ajudar Deus e tornar-me eu própria pão para inúmeras fomes». Celebrar a Eucaristia é assumir a responsabilidade de se fazer pão.

Queridos irmãs e irmãos,

Para a Igreja em Portugal este Congresso não é apenas um enésimo encontro para falar de si mesma: é uma oportunidade para relançar o elã e a esperança; para readquirir uma juventude de alma capaz de renovar a sua proposta e o seu estilo; para viver um sobressalto de futuro  aprofundando aquilo que pode significar  hoje  a Espiritualidade Eucarística. 

Há cinquenta e há cem anos atrás, exactamente aqui em Braga, a Igreja nacional viveu congressos eucarísticos procurando novas formas de presença cristã no mundo e novas linguagens para a evangelização. No ano em que celebramos 50 anos da democracia portuguesa, voltamos a celebrar o congresso eucarístico para repensar o contributo da Igreja na nossa sociedade em acelerada transformação e que experimenta desafios epocais tão grandes como, por exemplo, as alianças intergeracionais e interculturais a construir urgentemente no Portugal contemporâneo. Uma aliança que garanta o pão do futuro para os jovens hoje cercados pela precariedade e o pão do amor para os mais velhos que não podem ser postos fora da equação social porque já não são produtivos. Uma aliança que assente na compreensão da diversidade cultural como um enriquecimento comunitário e não como uma barreira à colectiva maturação do bem-comum.

Para a Igreja em Portugal, motivada pelo caminho sinodal, reforçada pela experiência da Jornada Mundial da Juventude, mobilizada pelas grandes linhas do magistério do Papa Francisco, abre-se aqui uma estação de renovação e de caminho. Há uma frescura, há um odor a Evangelho vivo, há uma imaginação do bem, que os nossos contemporâneos esperam da Igreja Portuguesa. São talvez três, nesta hora, os grandes chamamentos fundamentais. 

1. Primeiro, a Igreja em Portugal é chamada a ser uma Igreja Eucarística. Isto é, uma Igreja que não se coloca a si mesma como prioridade, mas no centro coloca Cristo e retoma Dele as Palavras e os gestos, o modo de olhar cada pessoa e a visão global sobre a vida. Uma Igreja eucarística é o contrário de uma Igreja clericalista: é uma Igreja configurada sinodalmente, que valoriza a participação de todos os baptizados, que reconhece o papel do ministério ordenado, que cuida dos seus pastores e os acarinha, que investe nos ministérios laicais, que promove uma cultura eclesial de co-responsabilidade, que lê com profecia o lugar da mulher na Igreja. A Igreja Eucarística é uma Igreja de “portas abertas”, que se apresenta mais como experiência de serviço amoroso à vida, em vez da rigidez dos juízos que excluem. A Igreja Eucarística é uma Igreja que quer ser pão. Uma Igreja que vê clara a continuidade entre o santo fervor da liturgia e o santo dever da comunhão traduzida naquilo que São João Paulo II, que também que esteve neste santuário do Sameiro, descrevia como «a fantasia da caridade».

2. Em segundo lugar, a Igreja em Portugal é chamada a ser uma Igreja Samaritana. Uma Igreja que actualiza a linguagem da compaixão. Uma Igreja de proximidade, não indiferente nem esquiva, mas capaz de fazer suas, como exorta o proémio da Gaudium et Spes, «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e todos aqueles que sofrem». Uma Igreja especialista em humanidade que, como insiste o Papa Francisco, «não aponta o dedo, mas abre os braços». Uma Igreja enamorada pelo Evangelho e mobilizada pelo Seu anúncio. Recordo as palavras que não longe daqui escreveu o monge-poeta Daniel Faria: «escrevo para os que morrem sem nunca terem provado o pão/ Grito-lhes: imaginai o que nunca tivestes nas mãos!». A Igreja samaritana é aquela que multiplica os tempos de escuta, capaz de ser artesã de encontros para lá da sua zona de conforto ou do seu perímetro habitual, capaz de diálogos e de abraços que testemunham a maternidade e a paternidade incondicionais de Deus. Uma Igreja que sabe existir não para condenar o mundo, mas para lhe dar o pão que exprime o amor sem limites. 

3. Em terceiro lugar, a Igreja em Portugal é chamada a ser uma “Igreja mariana”, esta que é a Terra de Santa Maria, aquela em cuja história Maria foi uma presença matricial e contínua. Retomo aqui as palavras de um importante teólogo do nosso tempo, Hans Urs Von Balthasar: «Sem a Mariologia o cristianismo ameaça desumanizar-se inadvertidamente. A Igreja torna-se funcionalista, sem alma, uma máquina febril incapaz de parar, dispersa em ruidosos projectos». Destacaria alguns traços da espiritualidade mariana que somos desafiados a redescobrir. 

a) O primeiro deles é a gentileza. Na visita a Isabel, o evangelista Lucas afirma que Maria viaja apressadamente porque assume não a reivindicação do seu conforto, mas a urgência que o outro estava a viver. Uma vez chegada a casa de Isabel não toma a palavra em primeiro lugar. E depois coloca-se todo o tempo na posição de quem está ao serviço e não numa posição de poder. A gentileza é a expressão de um coração desarmado e manso, capaz de substituir a agressividade pela doçura e o conflito pelo reconhecimento das razões do outro. O mundo precisa de comunidades crentes, que sejam reservas de gentileza e de cuidado.

b) O segundo traço é a contemplação. A Igreja tem necessidade de fazer prevalecer, em vez de uma máquina funcionalista, a sua dimensão mística. A Igreja só interceptará a sede de espiritualidade do nosso tempo se também ela se colocar a caminho, peregrina das perguntas em vez de rotineira gestora de respostas. Talvez a Igreja precisa de re-aprender muitos deste peregrinar, como vivemos hoje, subindo ao Sameiro como Povo que canta a Deus as suas lágrimas e os seus sonhos. Não tenhamos medo dos recomeços! É que para escutarmos até ao fundo a Palavra de Deus, precisamos talvez pensar que ainda não a escutamos. Para celebrar a Eucaristia como mistério, temos que sentir e alimentar mais em nós um grandioso espanto. A fé mais necessária ao presente é, sem dúvida, a dos contemplativos, a dos enamorados da busca de sentido, a dos que se deixam esculpir pelo silêncio e, desse modo, recomeçam a aventura larga que o crer representa. 

c) O último traço é a beleza. Como o pão é o alimento para o corpo, a beleza é o nutrimento da alma, sem o qual ela não persiste, nem ganha asas. Com Maria, a Igreja aprende a ser custódia e artífice da beleza. A começar pela beleza da Eucaristia, que tem de ser celebrada como uma “obra de arte” e vivida como a obra-prima que Jesus. Num tempo dominado pelo pragmatismo raso e pelas visões utilitaristas apenas, precisamos de uma nova mistagogia que inicie os cristãos na beleza de que são depositários. Por exemplo, São Francisco de Assis ensinava aos seus companheiros que deviam plantar um horto para retirar dele o alimento necessário. Mas nesse campo, deviam reservar um espaço para plantar flores, que são um outro pão. 

Também, por causa da beleza, celebramos esta eucaristia de acção de graças no Encerramento deste 5º Congresso Eucarístico Nacional sob o olhar imenso, sob o olhar mais belo da Senhora do Sameiro. 

E as nossas derradeiras palavras são para ti, Senhora, comovidos e confiados no teu esplendor. Como transportaste Jesus no teu seio, transporta a Igreja nesta hora de relançamento e esperança. Como apertaste Jesus contra o teu peito, dá-nos o afago e o estímulo dessa ternura. Como iluminaste o teu Filho com o materno sorriso, ilumina-nos, Mãe, agora. E como reza o cântico popular deste teu povo, querida Senhora do Sameiro, olha por todos estes teus filhos aqui presentes, “Tu podes, porque és a mãe de Deus, e deves porque és a nossa mãe!”.