Folhinha Interparoquial de 27 a 31 maio de 2020
Paróquias de:
- Divino Salvador de Nogueiró.
- Santa Eulália de Tenões
- S. Pedro de Este
Intenções das missas e informações das 3 paróquias:
«O Acampamento é a grande atração que chama o
jovem para o escutismo e oferece o melhor ensejo para o ensinar a confiar em si
próprio e a cultivar a iniciativa, além de contribuir para o seu robustecimento.»
Baden-Powell, in Escutismo para Rapazes, 2007,
p. 139.
Nestes tempos de pandemia em que o confinamento se vai paulatinamente aliviando, mas com o sol ”quentinho” dos finais de maio, que nos tem visitado, parecendo convidar-nos para a realização de atividades próprias dos finais de primavera e que se multiplicam pelo verão:
·
A
uns, é o chamamento do perfume da maresia, transportado pela brisa que parece
embrenhar-se pelo interior, desafiando-nos disfrutar da praia.
·
A
outros, é a harmonia dos diversos perfumes do campo, da floresta ou da montanha
que, assemelhando-se ao “canto das sereias”, nos lançam um desafio irresistível
para calçar as botas, pegar na mochila, caminhar e acampar em plena natureza.
Este chamamento para acampamento, a
atividade educativa de excelência do escutismo, leva-nos, sob o ponto de vista
emocional e com a natural nostalgia do passado, a imaginar/planear mentalmente um
fim de semana em campo. Mas, por outro lado a racionalidade e o sentido cívico
chamam-nos à realidade, esta realidade que hoje vivemos e ao desígnio comum a
que somos chamados: contribuir, usando os “talentos” de cada um, nesta luta da
humanidade para vencer a pandemia que, diariamente, a todos atormenta.
O sofrimento de tantas pessoas e
famílias que sofrem por causa dos “seus doentes”, outras sofrem pelas
consequências gravíssimas que resultam deste “pecado original” que é a pandemia
e, finalmente, todas as pessoas que estão na frente de ataque e este “invasor”
invisível. Assim, somos obrigados a resistir à tentação, para não
acrescentarmos mais dor à dor que todos carregam até que a verdadeira
normalidade seja restabelecida.
Neste contexto, tomamos consciência que
os próximos acampamentos serão muito diferentes daqueles a que estamos
habituados. A Igreja em Portugal, pela voz da Conferência Episcopal Portuguesa,
tanto no comunicado do seu de Conselho Permanente, de 02 de maio, como nas
orientações para a celebração do culto público católico no contexto da pandemia
Covid-19, de 08 de maio, com a sua sabedoria secular, demonstrando uma
prudência que a leva a pensar mais nos outros e tendo a humildade genuína de
reconhecer os perigos e a inexistência de soluções definitivas, de entre as muitas
orientações produzidas, numa delas, suspendeu os acampamentos. Esta decisão
deve interpelar, antes que seja tarde, todos os escuteiros, mas, de um modo
especial, os seus dirigentes.
Claro que as autoridades competentes:
saúde, proteção civil e forças armadas e de segurança, deverão elaborar um
guião apropriado, como tem vindo a fazer para outras áreas. Mas também o
escutismo deve produzir a sua reflexão e, em função desta, verter para o manual
“Normas de Acampamentos” e orientações complementares, o resultado destas
reflexões, produzindo assim a sua adequação aos novos tempos.
Será qua a “tenda de patrulha”, que
alberga de 4 a 8 jovens, vai resistir ao “reinado” da Covid-19, ou se passaremos
a utilizar tendas individuais, para respeitar o distanciamento de proximidade?
Como será a organização e o
funcionamento de um “acampamento de Patrulha” e a realização de tarefas comuns?
Como será mantido o princípio pedagógico onde o menos experiente aprende com o
mais experiente?
Como manteremos o trabalho colaborativo
entre pares, neste pequeno grupo (a Patrulha) em campo?
Que infraestruturas serão exigidas em
campo? Será que poderão ser construídas pelos jovens, recorrendo a técnicas de
pioneirismo, ou outras, desenvolvendo assim as suas capacidades de conceção e
criação, de planeamento e de execução? Mantendo-se o acampamento como um
verdadeiro centro de autoeducação pela ação e para o serviço?
O fundador deixo-nos este conceito: «a natureza é, simultaneamente, um
laboratório, um clube e um templo», que será “reduzido a pó” se o
acampamento escutista passar a ser um acampamento “de plástico” ou do tipo “prêt-à-porter”. A Natureza não é sempre igual, nem
sequer no mesmo local e na mesma época, ela tem vida e é esta vida que nos leva
a constantes desafios que nos exigem permanentes adaptações e aprendizagens, em
fim, proporcionam-nos sempre novas vivências entusiasmantes e enriquecedoras,
contribuindo para a autoformação do cidadão solidariamente ativo à luz da fé
professada.
Baden-Powell, in Escutismo para Rapazes, p. 287.
Aproveitando esta citação de
Baden-Powell, utilizada na última crónica, onde, a propósito de São Jorge - patrono
Mundial do Escutismo – iniciamos uma breve apresentação do pensamento religioso
do fundador a que queremos dar continuidade.
Baden-Powell era um batizado e por
isso escreve em “A Caminho do Triunfo”: «Deus
Criador é reconhecido pela maior parte das diferentes confissões religiosas
que, não obstante, divergem quanto ao verdadeiro caráter das relações do
Criador com a alma humana» e «Na
crença cristã tem-se por certo que Jesus Cristo veio viver entre os homens para
lhes mostrar e fazer sentir que Deus é Amor e que os sacrifícios de oferendas
feitas a Deus nas velhas religiões supersticiosas não eram tanto o que era
preciso como o sacrifício da própria pessoa ao serviço de Deus.» (p. 196,
edição de 1974).
Para o fundador, a religião (qualquer
que seja) e o escutismo devem compenetrar-se intimamente e enriquecerem-se
mutuamente. A religião será a base do escutismo e dar-lhe-á uma alma. O
escutismo, nas suas vivências e atividades, fará passar a religião na vida.
Assim, escreve no prefácio da 14ª edição inglesa do “Escutismo para Razes”, de
1923: «O fim da educação escutista, é substituir
as preocupações do “eu” pelas do “serviço”, tornar os jovens verdadeiramente
fortes, moral e fisicamente, e dar-lhes a ambição de colocar a sua força au
serviço da comunidade. Nós não temos, no nosso movimento, nenhuma visão
militarista. Não fazemos este tipo de exercício. Assumo o ideal de servir os
nossos semelhantes. Por outras palavras, nós procuramos colocar o cristianismo
em prática na vida e nos atos de cada dia, e não somente em professar as
doutrinas ao domingo.»
O fundador nunca definiu este
“cristianismo prático”. Aliás, sabemos que tinha pouca confiança nos textos
sistemáticos que considerava, em muitas circunstâncias, redutores. Por isso,
não vale a pena trilhar percursos que muitos já trilharam para encontrar uma
eventual definição deste conceito, talvez, um dia, se possa encontrar um seu escrito
inédito sobre a temática.
Goste-se, ou não se goste, a verdade é
que Baden-Powell, apenas definiu (in
“Auxiliar do Chefe-Escuta”, 1ª edição, Porto, pp. 33 – 35) quatro áreas na
formação escutista: 1. Caráter, 2. Saúde e força, 3. Habilidade manual e 4.
Serviço do próximo. Só muitos anos mais tarde é que foi acrescentado um novo
polo: a procura de Deus.
Na estrutura inicial a questão da
religião está incluída na área da formação do caráter e no capítulo que a este
tema se desenvolve podemos ler, páginas 58 e 59, da obra suprarreferida: «O alargamento do horizonte começa
naturalmente pelo respeito de Deus que podemos melhor designar por “Piedade”.
O
respeito de Deus, do próximo, de nós próprios como servos de Deus, está na base
de todas as formas de religião. O modo de expressão de piedade para com Deus
varia com as diversas crenças e denominações. A crença ou confissão a que um
rapaz pertence depende, em regra, da vontade dos pais. São eles que decidem. Cumpre-nos
respeitar-lhes os desejos e secundar-lhes os reforços para inculcar a piedade,
qualquer que seja a religião que o jovem professe.
Podem
surguir dificuldades...», e B.-P. continua: «É a seguinte a atitude do
Escutismo respeitante à religião (...):
a) Espera-se
que todo o Escuta pertencerá a uma confissão religiosa e tome parte nos atos do
seu culto;
b) Quando
um Grupo se compõe de elementos de uma só crença religiosa, espera-se que o
Chefe-Escuta assegure as práticas e instruções religiosas que ele, de acordo
com o capelão ou autoridade religiosa, considere as melhores;
c) Quando
um Grupo consta de Escutas de várias religiões, devem estes ser instigados a
assistir aos atos de culto da sua própria confissão, e, em acampamentos,
qualquer forma de oração diária e de culto semanal deverá ser o mais simples
possível e de assistência a eles voluntária.»
E o fundador continua: «A religião “pega-se” não “se ensina”. Não é
um trajo exterior para usar ao domingo. É fator genuíno do caráter do jovem,
desdobramento da alma e não verniz que se descola. É assunto de personalidade,
de convicção íntima e não de instrução».