por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 1 de abril 2022 no jornal diário "Correio do Minho"
O livro de Baden-Powell, A Caminho do Triunfo, foi publicado, pela primeira vez junho de 1922, tendo como destinatários “os Caminheiros”, isto é, os jovens a partir dos 18 anos. Este livro foi traduzido para a nossa língua pelo Dr. José Francisco dos Santos, dirigente do CNE e professor de português no Liceu de Guimarães, sendo publicada a primeira edição em 1959 e, 15 anos depois, surge a segunda edição, corria o ano de 1974.
Aquando da segunda edição, aos editores, leia-se
as Edições Flor de Lis, colocava-se a questão se valeria a pena reeditar um
livro com mais de 50 anos, num tempo de mudanças [em plena revolução de abril]
parece desfiar o insucesso. Contudo, a sua convicção era profunda, pois este
livro de Baden-Powell é precisamente um livro de mudança a interessar os novos!
Destina-se a jovens que, ao enfrentarem um mundo que está longe de ser justo e
feliz, se sentem inquietos e procuram os caminhos da justiça e da felicidade.
Baden-Powell, aponta, nesta obra, com superior
maestria, os perigos ou «escolhos», como sugestivamente os apelida, que sempre
ameaçaram a felicidade dos homens, sugerindo ainda uma «solução».
A vida é como um caminho, de lonjura variável,
através de terreno desconhecido, que se apresenta à nossa frente e que não
podemos deixar de percorrer.
Os «escolhos» podem apresentar uma imagem
diferente, por influência das modas (do que muda em excesso), mas eles estão lá
e serão sempres os mesmos.
Apresentar aos homens-novos a sabedoria de outros
homens, que já não falam, mas cujas verdades continuam de pé não obstante todas
as mudanças, não pode deixar de ser um serviço profundamente valioso e atual.1
Também uma nota para o prólogo, escrito pelo punho
de B.-P., na edição inglesa de 1930: «O meu único desejo é que esta nova edição
seja também útil, tanto mais que, após a primeira publicação dois fatores
novos se deram no Caminheirismo.
O primeiro é ter-se agora estabelecido em bases
sólidas, após evolução constante, a secção de Caminheiros. Daí a necessidade de
se refundir, de acordo com as sugestões feitas pelos próprios Caminheiros, o
último capítulo que trata da Organização e Regulamento. [o fundador ilustra, de
forma clara e objetiva, que o conselho que a todos deixou: “pergunta ao rapaz”,
não é um slogan, mas sim um instrumento de autoeducação para a
responsabilidade, de forma participativa].
O segundo facto foi de ter-se adotado e
desenvolvido a tal ponto o Caminheirismo nos outros países, que este constitui
já o núcleo duma Fraternidade Universal de jovens orientados pelo mesmo ideal de
SERVIR, ligados pelos laços da amizade e do bom entendimento».
O livro assenta numa estrutura de sete capítulos,
todos eles iniciados por uma espécie de sumário que nos elenca os tópicos que
irão ser desenvolvidos:
• primeiro: Modo de ser feliz embora rico – ou
pobre;
• segundo: Escolho número um – Cavalos;
• terceiro: Escolho número dois – Vinho;
• quarto: Escolho número três – Mulheres;
• quinto: Escolho número quatro – Cucos e
Impostores;
• sexto: Escolho número cinco – Irreligião;
• sétimo: Caminheirismo.
Uma nota para relembrar que este texto de
Baden-Powell foi publicado em 1922, quatro anos depois da Grande Guerra, com
início a 28 de julho de 1914 e final a 11 de novembro de 1918, estando ainda a
Europa em reconstrução e claramente marcada pela necessidade de construir,
acima de tudo cooperação e paz. Em bom rigor o fundador iniciou a escrita deste
livro, dois anos antes, em 1918, altura a que aludiu a uma nova Secção para o
Escutismo: os “Rovers” ou os “Caminheiros” na versão portuguesa. Por isso, não
podemos desligar esta obra das formas de pensar e agir das sociedades da época.
Não deixa de ser curioso que o fundador, no
primeiro capítulo, tenha acrescentado uma espécie de subtítulo «Este prefácio
revela o objetivo deste livro», onde surgem três ideias fundamentais, que se
vão consolidando ao longo do livro:
A Viagem da Vida – comparada com uma excursão de
canoa (travessia do lago) a canoa é a última esperança de viver, se meter uma
vaga ou se topasse num escolho estariam perdidos;
Objetivo do livro – triunfar sobre os perigos e
entrar num porto seguro. Os “rochedos” da vida: cavalos, vinho, mulheres, cucos
e hipócritas e irreligião (inspirados numa velha canção inglesa «cavalos,
vinho, mulheres»). A importância de descobrir os lados “bons” e “maus”,
aproveitá-los para seguir a caminho do triunfo.
Caminho (transmissão de conselhos/conhecimento) -
o trajeto agradável e seguro com um objetivo definido (as dificuldades são o
sal da vida) assim se alcança o êxito.
1Todo o texto em itálico é citação da “Nota dos
Editores”, da 2.ª edição portuguesa, 1974
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