Escutismo: Movimento Seguro (I)
«Faço um sentido apelo à luta contra os abusos de menores, tanto no campo sexual como em outros campos, por parte de todas as autoridades e dos indivíduos, porque se trata de crimes abomináveis que devem ser banidos da face da Terre: pedem isto mesmo as vítimas escondidas nas famílias e em vários outros setores das nossas sociedades.»
Discurso conclusivo do Santo Padre Francisco, in, Cimeira no Vaticano: A Proteção dos Menores na Igreja, Consciencialização e Purificação, ed. Paulus, 2019, p.175.
É nosso propósito dar conta aos leitores do Correio do Minho o esforço que o Escutismo Católico Português tem vindo a desenvolver, na senda do fundador mundial, Baden-Powell, para quem o escutismo era um instrumento para dar esperança aos jovens do início do século vinte, que não tinham perspetivas de emprego, de integração social, de valorização pessoal e profissional, que viviam à margem de uma sociedade de elites, que lhes cerrava as portas do acolhimento, da integração e do desenvolvimento.
Por isso, as questões de maus tratos e de abusos, relativamente a crianças e jovens, têm estado presente no ideário do CNE, desde logo, na Lei do Escuta, na Promessa e nos seus Princípios, que constituem o quadro de valores, que colocam a criança e o jovem no centro do processo e do método educativo, fazendo de cada um deles os protagonistas da sua própria educação, procurando, desta forma, materializar o pensamento de B.-P. “creio que Deus nos colocou na terra para sermos felizes, mas a melhor maneira de sermos felizes é contribuir para a felicidade dos outros”, procurando “deixar o mundo um pouco melhor do que o encontramos”.
Desde os seus primeiros estatutos, aprovados a 27 de maio de 1923, pelo Governador Civil do Distrito de Braga, e do primeiro regulamento, de 1924, que a preocupação com o recrutamento de adultos, os candidatos a dirigente, que no CNE, à época, designado como Corpo de Scouts Católicos Portugueses, mereceu, tal como nos dias de hoje, uma atenção especial, procurando sempre melhorar o perfil do dirigente, bem como a qualidade da formação prévia, para que o discernimento possa ser o mais consciente possível e para que, durante esta fase do seu percurso inicial de formação, de aproximadamente dois anos, o candidato a dirigente seja sempre acompanhado e ajudado por um tutor local.
No livro, Normas de Acampamento, publicado pelas Edições Flor de Lis, do CNE, em julho de 1978, no ponto referente ao material de campo, página 7, podemos ler: “Alem destas [tendas] serão precisas uma tenda para dirigentes – a nenhum Chefe é permitido partilhar a tenda com escuteiros – uma (...)”, este sublinhado não é nosso.
Também o Manual do Dirigente, resultante da última alteração ao Programa Educativo do CNE, realizada no triénio de 2008/2010, e publicado, no ano escutista de 2010/2011, a norma anterior é reforçada pela determinação que cada Bando, Patrulha, Equipa e Tribo tem a sua própria tenda, sendo a tenda vista como um espaço de intimidade e privacidade, pelo que, nos casos em que estas unidades base sejam mistas, isto é, compostas por raparigas e rapazes, as tendas são duplicadas para que as raparigas durmam numa das tendas e os rapazes na outra (cfr. páginas 205 e 229).
Além disto, os acampamentos e as sedes tornaram-se, nas últimas décadas, espaços que os pais podem frequentar, tendo sido criado, no quadro normativo o conselho consultivo de pais onde estes têm representantes, eleitos pelos seus pares, para acompanhar a atividade desenvolvida pelas quatro Secções: Alcateia, Expedição, Comunidade e Clã.
[1] Pela natureza da temática, pela sua complexidade, delicadeza e extensão, dedicar-lhe-emos algumas crónicas
Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 22 novembro 2019 no jornal diário "Correio do Minho"
Outros artigos neste LINK