A Última Mensagem de Baden Powell [1]
artigo publicado hoje 26 de fevereiro 2021 no jornal diário "Correio do Minho"
A Última Mensagem de Baden-Powell[1]
Na minha primeira crónica sobre o
fundador do escutismo, publicada neste espaço, no dia 23 de fevereiro de 2012,
escrevi, no segundo parágrafo: «O
Escutismo vive o dia do seu fundador, também designado, em algumas associações,
como o dia do pensamento, refletindo sobre a importância que este ato criador
teve na evolução da juventude e da sociedade».
Este ano, por necessidades sanitárias,
seja-me permitido usar o termo “necessidades” em vez de “imposições”, já que o
termo utilizado implica um sentimento de pertença, de “estar no mesmo barco”; assim,
sempre me sinto como parte da solução e não como vítima do processo. A pandemia
que hoje, leia-se, há um ano, nos atormenta é um problema de todos e que a
todos devia convocar para cada um, à sua maneira, procurar deixar o seu
contributo para a humanidade superar esta batalha.
Os atos comemorativos, no passado dia 22
deste mês, dia do nascimento da Baden-Powell, foram marcados por inúmeras ações
de reflexão e partilha nas redes sociais e nas plataformas de videoconferência.
Neste contexto, tive o grato prazer de
participar numa tertúlia sobre o fundador, organizada pela Junta Regional do
Algarve, na qual participaram quase 400 escuteiros, que, sob o tema “O Homem a
quem o mundo deve o Nobel da Paz”, apresentava um programa interessante e
desafiante:
A proposta de escutismo que B.-P. fez em 1907 continua atual?
·
A atual implementação do escutismo continua a seguir as
"raízes" que B.-P. nos deixou?
·
Quais as maiores diferenças do escutismo em 1907 e em 2021?
A influência do movimento escutista na Sociedade
·
Qual a importância do escutismo para os decisores políticos?
·
Uma sociedade com escutismo é uma melhor sociedade?
·
O escutismo para as várias faixas sociais?
Escutismo, um movimento de Paz
·
O escutismo é ou não um movimento de Paz?
·
O escutismo é ou não o maior movimento de jovens do mundo?
·
O escutismo é ou não o maior movimento de paz no mundo?
B.-P., o homem a quem o mundo deve o Nobel da Paz
·
A “obra” de BP foi de dimensão suficiente para receber um Nobel da
Paz?
·
A carreira militar terá sido um entrave a esta atribuição?
·
Deveria a Organização Mundial do Movimento Escutista receber este
reconhecimento?
Em abono da verdade, devo também afirmar
que o tema geral sobre uma hipotética atribuição do prémio Nobel da Paz foi
lançado muito antes de se ter conhecimento da apresentação da candidatura da
Organização Mundial do Guidismo e do Escutismo a este prémio, pela deputada
norueguesa Solveig Schytz.
Deixo que os estimados leitores que se
apropriem do pensamento que o Baden-Powell deixou, a todo o movimento
escutista, neste seu “testamento espiritual”:
«Caros escuteiros:
Se já vistes a peça Peter Pan, haveis de
recordar-vos de como o chefe dos piratas estava sempre a fazer o seu discurso
de despedida, porque receava que, quando lhe chegasse a hora de morrer, talvez
não tivesse tempo para o fazer. Acontece-me coisa muito parecida e por isso,
embora não esteja precisamente a morrer, morrerei qualquer dia e quero
mandar-vos uma palavra de despedida.
Lembrai-vos de que é a última palavra
que vos dirijo, por isso meditai-a.
Passei uma vida felicíssima e desejo que
cada um de vós seja igualmente feliz.
Creio que Deus nos colocou neste mundo
encantador para sermos felizes e apreciarmos a vida. A felicidade não vem da
riqueza, nem simplesmente do êxito de uma carreira, nem dos prazeres. Um passo
para a felicidade é serdes saudáveis e fortes enquanto sois rapazes, para
poderdes ser úteis e gozar a vida quando fordes homens.
O estudo da natureza mostrar-vos-á as
coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite.
Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede
sempre o lado melhor das coisas e não o pior.
Mas o melhor meio para alcançar a
felicidade é contribuir para a felicidade dos outros. Procurai deixar o mundo
um pouco melhor de que o encontrastes e quando vos chegar a vez de morrer,
podeis morrer felizes sentindo que ao menos não desperdiçastes o tempo e
fizestes todo o possível por praticar o bem.
Estai preparados desta maneira para
viver e morrer felizes - apegai-vos sempre à vossa promessa escutista - mesmo
depois de já não serdes rapazes e Deus vos ajude a proceder assim.
O Vosso Amigo
Baden-Powell of Gilwell»
[1] Encontrado entre os papéis de Baden-Powell após a sua morte, 8 de janeiro
de 1941, cfr. Escutismo para Rapazes, Edições Flor de Lis, 3ª edição, 1968,
Barcelos, p. 303.