sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Dirigente do C.N.E., quem és tu ?



Dirigente do C.N.E., quem és tu ?
(uma reflexão do Padre Ângelo Ferreira Pinto1 - dezembro 1996)



… Enviados de Jerusalém pelos importantes de então, sacerdotes e levitas fizeram a João

Baptista uma pergunta fundamental na vida de cada ser humano; uma pergunta que os outros nos fazem e que nós, antes de mais ninguém, devemos fazer a nós próprios e dar-lhe uma resposta verdadeira e corajosa. A pergunta é esta: “ Quem és tu?” Da resposta dada a essa pergunta depende a nossa vida e, porventura, a dos outros.

João Baptista respondeu com denodo e sem rodeios, primeiro pela negativa, depois pela positiva. Disse: “Eu não sou o Messias”, nem Elias, nem qualquer outro profeta. Sou simplesmente uma voz, aquela voz que clama, ainda que no deserto, e ninguém a queira ouvir. Eu sou a voz que clama e proclama uma mensagem e um aviso: “Endireitai os caminhos do Senhor”.

A mensagem foi proclamada, o aviso estava lançado. Aos que escutavam restava agora a incumbência de ouvir bem, compreender, interiorizar e executar.

Pouco antes, o autor do Evangelho tinha definido João Baptista como aquele que, não sendo a luz, vem dar testemunho da luz. Há no entanto, um pintor célebre que o representa de dedo indicador apontado a Jesus.

João Baptista é isto mesmo: uma voz que clama no deserto, um dedo indicador que aponta para Jesus, alguém que dá testemunho da luz.


… Agora peguemos nós na pergunta e voltemo-la para nós próprios: - E tu, quem és?

Que resposta vamos dar a esta pergunta? Ela é muito importante e dela depende a consciência ou inconsciência com que construímos a vida e ajudamos a construir ou a destruir a dos outros.



3. … Como dirigente no C.N.E., “quem és tu?”

a) –Como João Baptista, és um dedo acusador e denunciador de situações da crise de valores que atinge a sociedade actual com um reflexo nefasto na alma e no comportamento dos jovens, de acordo com a expressão da Exortação Pastoral da nossa Conferência Episcopal com o título – O Escutismo, Escola de Educação. Assim se lê no seu número primeiro: “Várias análises sociais chamam a atenção para a crise de valores da actual cultura massificada: o hedonismo, o culto do corpo e da aparência exterior, o prevalecer dos direitos individuais sobre os deveres, a tentação do dinheiro fácil, a febre do consumismo, o imediatismo, a tendência para o erotismo e para o luxo. Este ambiente cultural favorece o aparecimento de um tipo de pessoas com algumas características predominantes: a superficialidade, o narcisismo, a frivolidade, o vazio de referências éticas, a contestação da autoridade, a permissividade moral.

“De muitos lados se faz ouvir o alerta sobre esta crise de valores, muita gente se preocupa seriamente com o vazio de ideias e de projectos na vida das pessoas, designadamente dos jovens e as consequências negativas que brotam desse vazio.” (Exortação Pastoral da Conferência Episcopal do Escutismo – O Escutismo, Escola de Educação – 1995)

O Dirigente do C.N.E. que o seja de corpo inteiro e de alma comprometida, não pode deixar de ser aquele dedo acusador e denunciador de tais situações, bem como alguém que denuncia os silêncios cobardes, demolidores e comprometedores.

b) – Igualmente o Dirigente tem obrigação de olhar para dentro da sua Associação e de denunciar situações e intencionalidades que nada têm a ver com o escutismo proposto pelo C.N.E. – Escutismo Católico Português. Novamente cito a já referida Exortação Pastoral no seu número 10, onde se lê: “Seria um empobrecimento grave ver no Escutismo apenas os aspectos exteriores e deixar na sombra os valores humanos e cristãos que constam da sua proposta original e que o tornam uma escola de formação humana e cristã com grande actualidade. De igual modo, importa ter consciência da actual tendência laicista que ameaça desligar o Escutismo da sua matriz cristã e da sua intencionalidade, colocando em risco mesmo os valores humanos tão apreciados no projecto educativo desde Movimento”.

c) Não basta, no entanto, que sejas o dedo acusador e denunciador. É preciso que seja o dedo indicador da verdade fontal do Escutismo Católico Português e que indiques para o corajoso regresso à limpidez e transparência das origens.

Assim reza a referida Exortação Pastoral no seu número 3: “A fé ilumina o projecto educativo de Baden-Powell e oferece-lhe uma consistência mais sólida, identificando e enformando a dimensão espiritual que lhe é implícita. De facto, esta é enriquecida pela adesão ao Evangelho e pelo seguimento de Jesus Cristo, tornando-se apta para responder aos anseios mais profundos do coração dos jovens e potenciando o Escutismo católico para ser um instrumento privilegiado de proposta de fé e de evangelização dos mais novos.”



4. … Deste modo, tu, Dirigente do C.N.E., tens de ser um outro João Baptista que aponta decididamente aos jovens a direcção de Cristo – o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Conforme diz a mesma Exortação Pastoral no seu número 5: “O ideal cristão não é apenas um conjunto de verdades e de valores. É, antes de mais, o encontro e a descoberta de uma pessoa viva, Jesus Cristo, fonte e fundamento destes valores.” “O Escutismo católico encontra em Jesus Cristo uma referência concreta e um alicerce transcendente para o caminho que propõe. Procurem, pois, - prossegue a Exortação – os assistentes e os dirigentes do C.N.E. ajudar todos os escutas no conhecimento mais profundo e na adesão mais convicta ao mistério de Jesus Cristo.”



5. … Quem és tu, caro dirigente? – És, tens de ser, isto mesmo: um dedo que aponta, por um lado, males a evitar e, por outro, o caminho a percorrer. O Caminho é Cristo, pois Ele mesmo diz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. (Jo 14, 6)

És, tens de ser, o dedo amigo que aponta o verdadeiro amigo – Jesus Cristo.

És, tens de ser, uma voz que anuncia, clama, proclama e aclama Jesus Cristo, o verdadeiro amigo dos jovens que nunca falta ao encontro com Ele marcado.

És, tens de ser, alguém que dá testemunho da luz maravilhosa que é Cristo. Para isso tens, tu também, de te deixar enamorar por Cristo, metê-lo na tua vida e deixar que no teu rosto se possa descobrir o seu rosto. Será assim transparente a tua vida, firme e entusiasmante a tua fé.

A fé não se ensina, vive-se. Deixa-se que ela tome conta de nós, inspire os nossos pensamentos, as nossas decisões e os nossos actos e faz-se com que ela se deixe viver. Os jovens gostam de aprender, mas a melhor lição é aquela que se lhes apresenta viva na nossa vida.


6. … Afinal “quem és tu”, caro dirigente do C.N.E.?

Aquilo mesmo que acabo de te dizer: dedo que aponta Jesus Cristo, voz que clama para O anunciar, testemunho d’Aquele que é a luz do mundo e o amigo do homem.

Consegues rever-te neste espelho?

Afinal… “quem és tu?”


Padre Ângelo Ferreira Pinto
Dezembro de 1996


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1O Pde Ângelo Ferreira Pinto foi assistente Regional do Porto e faleceu numa sexta-feira, 30 de Janeiro 1997, em Fátima, quando participava num encontro nacional de Assistentes do CNE.