O Pensamento Religioso de Baden Powell
artigo publicado a 8 maio 2020 no jornal diário "Correio do Minho"
Baden-Powell, in Escutismo para Rapazes, p. 287.
Aproveitando esta citação de
Baden-Powell, utilizada na última crónica, onde, a propósito de São Jorge - patrono
Mundial do Escutismo – iniciamos uma breve apresentação do pensamento religioso
do fundador a que queremos dar continuidade.
Baden-Powell era um batizado e por
isso escreve em “A Caminho do Triunfo”: «Deus
Criador é reconhecido pela maior parte das diferentes confissões religiosas
que, não obstante, divergem quanto ao verdadeiro caráter das relações do
Criador com a alma humana» e «Na
crença cristã tem-se por certo que Jesus Cristo veio viver entre os homens para
lhes mostrar e fazer sentir que Deus é Amor e que os sacrifícios de oferendas
feitas a Deus nas velhas religiões supersticiosas não eram tanto o que era
preciso como o sacrifício da própria pessoa ao serviço de Deus.» (p. 196,
edição de 1974).
Para o fundador, a religião (qualquer
que seja) e o escutismo devem compenetrar-se intimamente e enriquecerem-se
mutuamente. A religião será a base do escutismo e dar-lhe-á uma alma. O
escutismo, nas suas vivências e atividades, fará passar a religião na vida.
Assim, escreve no prefácio da 14ª edição inglesa do “Escutismo para Razes”, de
1923: «O fim da educação escutista, é substituir
as preocupações do “eu” pelas do “serviço”, tornar os jovens verdadeiramente
fortes, moral e fisicamente, e dar-lhes a ambição de colocar a sua força au
serviço da comunidade. Nós não temos, no nosso movimento, nenhuma visão
militarista. Não fazemos este tipo de exercício. Assumo o ideal de servir os
nossos semelhantes. Por outras palavras, nós procuramos colocar o cristianismo
em prática na vida e nos atos de cada dia, e não somente em professar as
doutrinas ao domingo.»
O fundador nunca definiu este
“cristianismo prático”. Aliás, sabemos que tinha pouca confiança nos textos
sistemáticos que considerava, em muitas circunstâncias, redutores. Por isso,
não vale a pena trilhar percursos que muitos já trilharam para encontrar uma
eventual definição deste conceito, talvez, um dia, se possa encontrar um seu escrito
inédito sobre a temática.
Goste-se, ou não se goste, a verdade é
que Baden-Powell, apenas definiu (in
“Auxiliar do Chefe-Escuta”, 1ª edição, Porto, pp. 33 – 35) quatro áreas na
formação escutista: 1. Caráter, 2. Saúde e força, 3. Habilidade manual e 4.
Serviço do próximo. Só muitos anos mais tarde é que foi acrescentado um novo
polo: a procura de Deus.
Na estrutura inicial a questão da
religião está incluída na área da formação do caráter e no capítulo que a este
tema se desenvolve podemos ler, páginas 58 e 59, da obra suprarreferida: «O alargamento do horizonte começa
naturalmente pelo respeito de Deus que podemos melhor designar por “Piedade”.
O
respeito de Deus, do próximo, de nós próprios como servos de Deus, está na base
de todas as formas de religião. O modo de expressão de piedade para com Deus
varia com as diversas crenças e denominações. A crença ou confissão a que um
rapaz pertence depende, em regra, da vontade dos pais. São eles que decidem. Cumpre-nos
respeitar-lhes os desejos e secundar-lhes os reforços para inculcar a piedade,
qualquer que seja a religião que o jovem professe.
Podem
surguir dificuldades...», e B.-P. continua: «É a seguinte a atitude do
Escutismo respeitante à religião (...):
a) Espera-se
que todo o Escuta pertencerá a uma confissão religiosa e tome parte nos atos do
seu culto;
b) Quando
um Grupo se compõe de elementos de uma só crença religiosa, espera-se que o
Chefe-Escuta assegure as práticas e instruções religiosas que ele, de acordo
com o capelão ou autoridade religiosa, considere as melhores;
c) Quando
um Grupo consta de Escutas de várias religiões, devem estes ser instigados a
assistir aos atos de culto da sua própria confissão, e, em acampamentos,
qualquer forma de oração diária e de culto semanal deverá ser o mais simples
possível e de assistência a eles voluntária.»
E o fundador continua: «A religião “pega-se” não “se ensina”. Não é
um trajo exterior para usar ao domingo. É fator genuíno do caráter do jovem,
desdobramento da alma e não verniz que se descola. É assunto de personalidade,
de convicção íntima e não de instrução».
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