“No Limiar do Segundo Século do CNE (III)"
por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 31 de março 2023 no jornal diário "Correio do Minho"
artigo publicado a 31 de março 2023 no jornal diário "Correio do Minho"
Hoje, mantendo a ideia de republicar textos dos inícios do Escutismo Católico em Portugal, vou recorrer a um texto escrito no ano de 1923, para ser publicado no Almanaque – Anuário de Braga para 1924, publicado pela Viraria Cruz & C.ª, L,DA , no ano de 1923. Este texto é da autoria é da autoria do Padre Avelino Gonçalves – o primeiro Inspetor-Mor do Corpo de Scouts Católicos Portugueses -, que foi a primeira designação oficial do Cormo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português.
Não foi por acaso que foi publicado nas folhas do Almanaque – Anuário de Braga, do mês de maio, isto é, no mês do primeiro aniversário da fundação do Escutismo Católico, pelo Arcebispo Dom Manuel Vieira da Matos. Na transcrição respeitaremos ortografia utilizada pelo autor, nos idos anos vinte e três do século passado, sob o título: SEMPRE ALERTA – Scouts Católicos Portugueses
«Uma das obras de maior alcance social que há em Braga é sem dúvida o Corpo de Scouts Católicos Portugueses. Criada por iniciativa de Sua Ex.a Rev.ma o Senhor Arcebispo Primaz, que lhe dispensa constantemente paternais cuidados, esta obra tem por fim e desenvolver na juventude o vigor e a destreza física, o espirito da iniciativa, a rapidez nas decisões, a coragem, o sentimento da responsabilidade e dignidade pessoal, a honra e o patriotismo, por meio do scouting, o famoso método de educação do general inglês Sir Robert Baden-Powell. Para satisfazer uma legitima aspiração dos pais católicos tomou a associação um carácter confessional que está perfeitamente no espírito do escotismo, atentas as freqüentes declarações do seu fundador e uma das conclusões do último congresso internacional de Scouting, realizado em Paris, que diz assim:
”Sem Deus e sem religião é impossível formar verdadeiros Scouts”. Como existem em Portugal associações congéneres neutras em matéria religiosas, não se coarcta assim a liberdade de ninguém.
Veio desta maneira a dar-se no sosso país o que já se tinha dado em outras nações, onde, ao lado das associações de Scouting neutras, florescem as confessionais, quer católicas, quer protestantes. Assim acontece na Inglaterra, terra-mãe do escotismo, na Bélgica, na Alemanha, na Polónia, na França, na Espanha, etc. Em matéria política, ao contrário, o Corpo de Scouts Católicos a mais rigorosa neutralidade porque nem tem fins políticos nem de política se ocupa. A sua única preocupação é dar aos seus associados uma perfeita educação moral, a par de um sólido desenvolvimento físico, no intuito de fazer deles cidadãos úteis à sua Pátria. Com este ideal trabalham todos os que dirigem a associação, lutando contra as dificuldades do meio, às más vontades dos que não compreendem ou não querem compreender a alta finalidade das obras dêste género, e a ignorância geral que há no nosso país, relativamente a êste método de educação. A importância do scouting é hoje compreendida em todas as nações, ainda as menos civilizadas, como a Turquia, o Sião e a China, não certamente pelas massas populares, mas por uma cada vez mais numerosa elite de homens de grande valor, especialistas em educação juvenil, que dedicando-se-lhe com invulgar entusiasmo, conseguiram nos doze anos que tem o movimento, reunir sob a bandeira escotista mais de um milhão e meio de jovens de todas as raças. O raro atrativo deste método de educação que pode dizer-se verdadeiramente novo, vem-lhe do desenvolvimento harmónico de todas as faculdades intelectuais, físicas e morais do jovem, que ele atinge com uma série de instruções e exercícios ministrados sempre, duma maneira agradável, em concursos e jogos ao ar livre, sobre a verdura dos campos ou entre as sombras dos bosques.
Pode afirmar-se que os conhecimentos teóricos são completamente postos de parte nos programas escotistas e que o jovem escoteiro aprende, só praticamente, a viver, e a preparar-se para as contingências extraordinárias e até penosas e dramáticas da existência.
Um bom scout aprende depressa a ser suficiente a si mesmo e a ser útil ao próximo em qualquer circunstância, Com a educação escotista o jovem vai-se formando um carácter sério, forte, sereno, pronto para o sacrifício, tornando-se assim um modelo admirável de virtudes cristãs, familiares e cívicas.»
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