terça-feira, 20 de junho de 2023

No Limiar do Segundo Século do CNE (VII)

No Limiar do Segundo Século do CNE (VII)"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 26 de maio 2023 no jornal diário "Correio do Minho"

Porque esta crónica vai ser publicada no dia 26 de maio, véspera do dia fundação oficial do Escutismo Católico Português, vamos recorrer a um artigo publicado, na página 2, no Diário do Minho, de 29 de maio de 1923, que citamos conservando a grafia da época:
«Corpo de Scouts Católicos Portugueses
No passado domingo, 27 de maio, inaugurou a sua existencia oficial na nossa cidade esta utilississima associação juvenil.
Braga viu desfilar pelas suas ruas, em perfeita ordem e aprumo, os novos “boy-scouts”, primeiras flores de uma primavera de belesa que começa a sorrir cheia de encantos e esperanças no nosso país.
A Comissão fundadora do Corpo que tanto trabalhou para lhe dar vida já depôs o seu mandato, entregando a direcção suprema da organisação nas mãos duma Junta Nacional que ficou assim constituída:
Capelão-mór geral, o Sr. Arcebispo Primaz. [D. Manuel Vieira de Matos]
Comissário Nacional, o Sr. Pranklim Antonio de Oliveira.
lnspector-mór geral, o Sr. Dr. Antonio Avelino Gonçalves.
Secretario geral, o Sr. Manuel Soares da Silva.
Tesoureiro geral o Sr. Alvaro Benjamim Coutinho.

Ficou·tambem constituida a Junta Arquidiocesana de Braga pela seguinte maneira:
Capelão Diocesano - o Rev.º P.e Luis Maciel dos Santos Portela, digno abade de Maximinos, e Comissario Diocesano o Sr. Capitão Graciliano Marques.»
Desta notícia retemos que o dia 27 de maio de 1923, é a data oficial e que a associação fora criada por uma comissão fundadora, cuja constituição é ainda hoje uma incógnita e que, nesta data oficial, cessou funções. Seria de inteira justiça descobrirmos quem foram esses anónimos que tanto trabalharam para dar vida à ideia do Grande Arcebispo.
Porque nestes cem anos de vida muita gente trabalhou “sem procurar descanso” alguns, muito poucos, que, por foça das circunstâncias, foram reconhecidos ao longo dos tempos, mas o ser coletivo que Camões consagrou como “o peito ilustre Lusitano”, uma multidão esmagadora que, dia após dia e ano após ano, permitiu que o escutismos florescesse, neste jardim à beira mar plantado, esses são os verdadeiros construtores a obra, que o Padre António Vieira classificaria com esta sua metáfora fabulosa: «Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros».

Desde a abertura das comemorações do centenário, em maio de 2022, muitas atividades foram realizadas, mas houve uma que me fez lembrar esta imagem criada pelo este nosso escritor. Foi uma pequena atividade que a Junta de Núcleo de Braga organizou e para a qual convidou os dirigentes a deslocarem-se à Casa Sacerdotal para um encontro com alguns antigos assistente aí residentes, iniciando-se com uma Eucaristia e terminando com um convívio à volta de um café ou um sumo.
Para mim, foi uma ação marcante que me projetou para muitos dos momentos vividos nos últimos 50 anos de atividade de dirigente ao serviço do Movimento. Foi no cruzar de um olhar com cada um dos que conhecia que percebi a profundidade do pensamento do Padre António Vieira, em cada um deles abundava o dom de se darem, sem esperar qualquer recompensa.
O Cónego António Macedo (Assistente do Núcleo de Braga), o Cónego António Neiva (São Mamede d’Este), o Padre Aníbal (São Pedro d’Este), o Padre Manuel Martins (Sequeira), o Monsenhor Quinteiro (Vila do Conde) e o Padre Domingos Abreu (Mouquim – V.N. de Famalicão) todos eles, cada um à sua maneira, ajudaram-me a crescer, a mim, e a tantos outros dirigentes que com eles se cruzaram, nos caminhos do escutismo e da vida.

Numa pausa das conversas que que tive com cada um deles, agradeci por nos termos cruzado na vida, mas também recordei os já tinham partido para o Eterno Acampamento e imaginei-os atarefados a montarem novas tendas para a todos acolher. Novamente me lembrei das palavras do Padre António Vieira: «O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a eles a nós, para que estejam connosco», estava a fazer jus a este pensamento quando um novo interlocutor, com um apelo nostálgico me interpelou: «lembra-se do acampamento de Palmeira?». Que saudades... a todos muito obrigado!

Sem comentários: