“No Limiar do Segundo Século do CNE (II)"
por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 17 de março 2023 no jornal diário "Correio do Minho"
artigo publicado a 17 de março 2023 no jornal diário "Correio do Minho"
Na senda da crónica anterior vamos ficar com a narrativa do Assistente Regional de Braga, o Padre Benjamim Salgado no seu livro comemorativo das bodas de prata do CNE “Radiosa Floração” para o escutarmos referir-se a um personagem fundamental na implantação do Escutismo Católico, nos seus primeiros anos de vida o padre a quem o autor apelidava de “Cireneu” do Arcebispo reorganizador da Arquidiocese, reconhecendo, desta forma, a importância que teve na implantação de desenvolvimento do Escutismo Católico: Monsenhor Avelino Gonçalves.
«Na história do Corpo Nacional de Escutas ocupa Mons. Avelino Gonçalves lugar de especial relevo ao lado dessa grande figura de Arcebispo que foi o Senhor D. Manuel Vieira de Matos - os dois pilares sobre que assenta este edifício do Escutismo Católico Português.
Já o afirmamos e não será demais repeti-lo: a Mons. Avelino Gonçalves se deve, em grande parte, a fundação, em 1923, do nosso Movimento. Se não fora o seu cuidado a despertar a atenção do Senhor D. Manuel Vieira de Matos, em Roma, por ocasião do Congresso Eucarístico Internacional, para os escutas que ali se apresentavam dextros e disciplinados com suas fardas a despertar a curiosidade, e com seu porte simpático e piedoso a provocar interesse e agrado, não comemoraríamos agora ainda, possivelmente, as bodas de prata do C.N.E.
Mas o primeiro Inspector-Mor do Escutismo Católico em Portugal, que foi Mons. Avelino Gonçalves, era jovem em todo o sentido, sobressaindo da sua personalidade forte a exuberância da sua sensibilidade espiritual firme e pujante, audaz e atraente. Se em Roma, no contacto com os escutas católicos, a sua alma de português e sacerdote pensava na Pátria distante e na sua juventude, ao chegar a Braga foi o grande incendiário dos corações dos novos que soube entusiasmar e prender e encaminhar para novos rumos. Mais do que revolução, o cometimento foi verdadeiro incêndio de labareda alta a animar a monotonia da nossa mocidade sem ideal e vibração de claridades novas.
Houve quem se manifestasse incrédulo e ofendido com a novidade; os contrários moveram guerra e tudo fizeram para abafar a voz que se erguia e impunha.
O vigia não dormiu nunca. Os da sua têmpera não se perturbam.
Foi essa serenidade e a certeza de que a obra tinha em vista a glória de Deus na recristianização das almas, e o bem da Pátria na formação de bons cidadãos, que lhe deu força e com ela venceu todos os ataques, ainda os mais surdos.
Não foi sem grande pena que um dia vimos afastar-se do seu posto de comando no Escutismo Mons. Avelino Gonçalves, chamado por quem de direito para outras lides da vida católica, onde o seu espírito organizador fàcilmente se impôs e o seu sentido da obediência e a sua fé deixaram transparecer, aos olhos do maior número, a beleza da sua alma sacerdotal.
O afastamento de Mons. Avelino Gonçalves' da actividade escutista não quer dizer abandono, esquecimento; não dirige mas está presente, «sempre e alerta». O seu olhar não se desprendeu do C.N.E., vive as suas alegrias e sofre as suas tristezas. A sua palavra, o seu conselho é sempre lição aceitável e de boa orientação. Ouvir ainda hoje o antigo Inspector-Mor é sentir o mesmo calor que aqueceu ao rubro os rapazes dos campos [acampamentos nacionais] de Aljubarrota [de 9 a 18 de agosto de 1926], Granja [Porto, de 27 de agosto a 6 de setembro de 1928], Cacia [Aveiro, de 18 a 28 de agosto de 1930] e Braga [Parque São João da Ponte, de 8 a 18 de agosto de 1932].
A sua alma, com honra para nós, continua presa ao C.N.E. com a mesma fé no seu valor e na sua vitória.»
Na próxima crónica continuaremos a revisitar textos escritos por aqueles que viveram os tempos da fundação do Escutismo Católico em Portugal ou que, de certa maneira, foram testemunhas do seu nascimento e desenvolvimento.
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