“Baden-Powell – de Criança a Militar"
artigo publicado a 4 de fevereiro 2022 no jornal diário "Correio do Minho"
Este mês de fevereiro, mais propriamente no dia 22, os escuteiros e guias de todo o mundo celebrarão o dia de B.-P., ou o dia do pensamento, sob uma linda marca do 165º aniversário do seu nascimento, recorde-se que em Portugal há 3 associações escutistas oficialmente reconhecidas: a Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP), o Corpo Nacional de Escutas (CNE) e a Associação das Guias de Portugal (AGP).
Este homem, nascido em Londres, a 22 de fevereiro de 1857, filho do reverendo Baden Powell, professor catedrático em Oxford, e de Henrietta Grace Smyth, filha de Joseph Brewer Smyth que tinha ido como colonizador para Nova Jersey, nos Estados Unidos e que naufragou na viagem de regresso ao Reino Unido. Era filho de um pastor e professor e neto, por parte da mãe, de um colono aventureiro. Faleceu aos 83 anos, a 8 de janeiro de 1941, no Quénia onde se instalara para viver os seus últimos anos.
Robert Baden-Powell ficou órfão de pai aos 3 anos de idade, eram 7 irmãos e as brincadeiras eram permanentes e muito estimuladas por sua mãe. Em idade escolar ganhou uma bolsa para a escola Charterhouse (ou da Cartuxa), em Londres. Não se pode dizer que tenha sido um aluno brilhante, mas gosta muito de brincar na mata, imaginava-se ser a “sentinela da floresta”, acompanhava os seus irmãos nas aventuras, tanto em terra como na água, mas, como era o mais novo dos rapazes, eram-lhe, contra sua vontade, sempre atribuídas as tarefas de cozinhar e de lavar a loiça, cultivava o gosto pelo desenho e pela pintura, pelo desporto, de um modo especial pelo futebol, chegou a ser o guarda-redes da escola, era um bom animador e o capacidade de representar e de cantar ajudavam-no imenso.
Com os 19 anos, chegou a altura de escolher uma carreira profissional, a tradição paterna, incutida por sua mãe, levou-o a fazer exame de admissão a Oxford, mas, para tristeza da progenitora, não foi admitido. Optou então por tentar a carreira militar, ao jeito do avô paterno, por isso candidatou-se a uma vaga na escola militar para a formação de oficiais. No mês de julho, durante 12 dias, prestou provas, tendo sido admitido na carreira militar, sendo, para júbilo de sua mãe, o 5º melhor qualificado, entre 718 candidatos.
Assim começou a sua vida militar e a 30 de outubro de 1876, o jovem alferes Baden-Powell, embarcou para a Índia sendo, em junho de 1878, aos vinte e um anos, promovido a tenente. Dois anos depois da sua chegada à colónia britânica, regressou a Inglaterra com baixa médica. Recuperado e com 23 anos, regressa ao seu regimento, agora deslocado para o Afeganistão, o seu comandante, o coronel Baker-Russell que o carateriza-o desta forma: «uma personalidade, sem sombra de dúvidas!... Era o tipo de homem com quem você hesitaria em brincar, e teria toda a razão».
Baden-Powell inserido numa patrulha, foi incumbido de fazer um reconhecimento de um certo território, em plena selva, que estivera na origem de uma batalha, na sua função de batedor, foi enviado antes dos outros, para recolher a informação necessária. Graças ao seu “saber olhar” e à sua capacidade de fazer esboços no local conseguiu obter os elementos desejados. Vemo-lo evoluir “de sentinela da floresta” na mata junto à sua escola de criança, nos tempos do faz de conta, para a realidade militar, com as patrulhas que sozinho fazia durante a noite.
Em 1884 é editado o seu primeiro livro, onde apresentava recomendações para a exploração e elaboração de mapas do território inimigo e relatórios de reconhecimento dos movimentos do inimigo. Baden-Powell transformou-se num homem com grande autodomínio, bastante calado, cuja força residia em incluir os seus homens em todas as decisões significativas, obtendo em troca respeito e consideração.
Baden-Powell apaixonou-se por África, considerava os Zulus como a maior nação guerreira africana, esta admiração pelos Zulus ainda hoje se materializa no reconhecimento da formação escutista dos adultos com a atribuição do “colar” da Insígnia de Madeira, um singelo cordão de couro com duas, três ou quatro contas de madeira, é verdade que nos primeiros colares as contas eram feitas em osso e eram retiradas de um colar que um chefe Zulu oferecera a B.-P. como sinal de reconhecimento.
Nas suas companhas em África, os seus inimigos atribuíram-lhe vários nomes, há um deles de que ele gostava muito “Impeesa”, isto é “o lobo que nunca dorme”, B.-P. considerava-o o maior elogio que jamais recebera.
Em julho de 1899, o Coronel Baden-Powell foi mobilizado para a África do Sul onde o Império Britânico era ameaçado pelos holandeses, os Boers, tendo-lhe sido atribuída a missão de defender a cidade de Mafeking de importância estratégica para os interesses de Inglaterra.
Os acontecimentos que ali decorreram vão alterar completamente a vida de B.-P., mas isso será objeto de próxima crónica.
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