“Baden-Powell – de Militar a Herói Inglês"
por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 18 de fevereiro 2022 no jornal diário "Correio do Minho"
artigo publicado a 18 de fevereiro 2022 no jornal diário "Correio do Minho"
Na última crónica sobre a vida do fundador do escutismo, terminamos com a ida, em comissão, do Coronel Baden-Powell para a Africa do Sul, à época uma colónia Inglesa, que se estava a preparar para uma guerra com os Boers, competindo-lhe a defesa de uma cidade que o próprio, no seu livro Escutismo para Rapazes, caracteriza desta forma: «Mafeking, é natural que se saiba, era uma cidadezinha provinciana vulgar da grande planície Sul-Africana. Nunca ninguém se lembrara da possibilidade de ela ser atacada pelo inimigo. Isto mostra bem quanto é preciso que na guerra todos se preparem para o que é possível, não para o que é provável.
Quando descobrimos que íamos ser atacados em Mafeking mandámos a guarnição para os pontos que devia proteger – eram setecentos homens instruídos, polícias e voluntários. Depois armámos os adultos da cidade, em número de trezentos aproximadamente. Alguns deles eram velhos fronteiros aptos para enfrentar as dificuldades. Mas muitos eram jovens caixeiros, empregados de escritório, e outros que nunca tinham pegado numa arma».
Iniciada a guerra, os Boers cercaram Mafeking, durante 213 dias – desde 13 de outubro de 1899, Baden-Powell conseguiu que a cidade resistisse ao cerco com determinação e sagacidade, contra as forças inimigas muito superiores, sem receber ajuda do exército inglês.
Com um cerco tão prolongado é natural que os feridos fossem aumentando e os alimentos e munições escasseando. Para libertar os homens de tarefas importantes, mas não fundamentais, B.-P. encarregou o major Edward Cecil, de reunir com os rapazes de Mafeking e formar um corpo de cadetes, que foram devidamente instruídos e fardados. Diz o fundador que: «os cadetes, sob as ordens do seu primeiro sargento, um rapaz chamado Goodyear, fizeram um bom serviço e bem mereceram as medalhas que receberam no final da guerra.
Muitos andavam de bicicleta e pudemos, por isso, criar um serviço postal, pelo qual as pessoas podiam enviar cartas aos amigos espalhados pelas diversas fortificações ou pela cidade, sem se exporem pessoalmente ao fogo.»
Para estas cartas foram criados selos postais contendo a efígie de um cadete-estafeta montado numa bicicleta. B.-P. relata-nos uma conversa curiosa que um dia teve com um destes rapazes: «de uma vez disse eu a um destes rapazes, que entrou na casa onde eu estava depois de atravessar um fogo bastante nutrido:
- Andando, assim, no meio dos bombardeiros, qualquer dia apanhas um estilhaço de granada.
- Pedalo tão depressa, Senhor Coronel, que não conseguem alcançar-me – respondeu ele.
Estes rapazes parecia que não ligavam nada às balas. Estavam sempre prontos para executar as ordens que lhes dessem, embora arriscassem a vida todas as vezes que o faziam.»
Em Inglaterra a preocupação com o desenvolvimento da guerra na África do Sul focalizava-se sobretudo em Mafeking. Em abril de 1900, o coronel Baden-Powell recebe uma missiva da rainha Vitória onde afirma: «Continuo a observar, com confiança e admiração, a persistente e resoluta resistência tão corajosamente levada a cabo sob o seu competente comando», mas os muito prometidos reforços militares não chegavam. Por isso, em Londres começou a formar-se a ideia que Mafeking, já não era a cidadezinha de que nos falava B.-P., tornara-se o símbolo do Império Britânico e este dependia da capacidade de resistência das tropas que o coronel chefiava, a sua capitulação punha em perigo o próprio Império.
Só assim se justifica o alvoroço qua a notícia - «Mafeking foi socorrida», que a agência Reuter, passou aos escritórios do Daily Telegraph e, de imediato, surgiu na Câmara de Londres um cartaz onde se lia: «MAFEKING FOI SOCORRIDA. A GUARNIÇÃO JÁ TEM ALIMENTOS. O INIMIGO FOI POSTO EM DEBANDADA.». Na rua, os londrinos davam vivas ao herói de Mafeking, o Coronel Baden-Powell.
Ainda em 1900 foi agraciado com a comenda da ordem de cavalaria britânica: The Most Honourable Order of the Bath, sendo ainda promovido ao posto da major general, tornando-se, aos 43 anos de idade, no mais jovem general do exército britânico.
Foi convocado para a cidade do Cabo, com a missão de organizar a polícia, enquanto corpo de segurança autónomo do exército. Finalmente, na primavera de 1903 regressou a Londres para assumir o cargo de Inspetor Geral de Cavalaria.
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