sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

O Movimento Escutista Mundial (V)

O Movimento Escutista Mundial (V)

por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 29 de janeiro 2021 no jornal diário "Correio do Minho"



Com esta quinta crónica, lançando um olhar sobre o Movimento Escutista Mundial, a partir do primeiro capítulo da Constituição Mundial, pretendo fechar este ciclo, com uma breve reflexão sobre o artigo terceiro dedicado ao método escutista (27-01-2012)[1] assim definido: «método escutista é um sistema da autoeducação progressiva fundado sobre a interação dos seus elementos constituintes: a Promessa e a Lei escutistas (10-02-2012), o aprender fazendo (20-04-2012), a progressão pessoal (18-05-2012), o sistema de equipas (04-05-2012), o suporte dos adultos (01-06-2012), o quadro simbólico (09-03-2012), a natureza (23-03-2012) e o envolvimento na comunidade (30-03-2018) e ainda: «o método escutista pratica-se criando uma experiência educativa, significativa para os jovens. Deve ser aplicado de forma coerente com a finalidade e os princípios do Movimento escutista. Está igualmente descrito numa política específica adaptada e revista de tempos a tempos pela Conferência Mundial do Escutismo.»

Desde as suas origens que Baden-Powell procurou criar este ambiente de experiência educativa significativa para os jovens. Assim, no primeiro acampamento escutista realizado de 24 de julho a 9 de agosto de 1907, na ilha de Brownsea, no sul de Inglaterra, o fundador quis experimentar o seu método, tendo escolhido 20 rapazes, de classes sociais diferentes, que organizou em 4 patrulhas, cada uma liderada por um deles, designado por “guia de patrulha”. No seu relatório do acampamento B.-P. escreveu: «Os rapazes foram divididos em patrulhas de cinco, o mais velho de cada patrulha tornava-se no seu guia. A organização foi o segredo do nosso sucesso. Cada guia teve a responsabilidade da sua patrulha, no campo e no trabalho. A patrulha era a unidade de trabalho e de jogos e cada uma acampava separadamente. Os rapazes deviam pela sua honra obedecer ao seu guia. Foi assim que o sentido da responsabilidade e de emulação pelos jogos foi imediatamente criada e um nível elevado de desenvolvimento foi assegurado, dia após dia, em todo o grupo.[2]»

Depois desta experiência, Baden-Powell encerrou-se no seu gabinete em Londres onde reviu os seus manuscritos e, 6 meses depois, em janeiro de 1908, publicou o livro fundador, em 6 fascículos, sendo o primeiro publicado no dia 15 de janeiro de 1908.

A 1 de maio desse mesmo ano, o “Scouting for Boys” foi publicado, mas desta vez, em forma de livro. A partir daí, teve várias atualizações ao longo dos anos, para além das adaptações feitas nos vários países onde foi traduzido. A pesar de ser considerado o livro mais vendido no século XX, a seguir à Bíblia, com milhões de exemplares nas 87 línguas em que se encontra traduzido, tornando-se, por isso, um verdadeiro «best seller», 1908 não foi a data da que se impôs como a data oficial de fundação do Escutismo, mais sim o ano do acampamento Brownsea, 1907, marcando-se assim a importância das aprendizagens experienciadas e incorporadas na forma de ser, de pensar e de agir do escuteiro.

Nesta visão, o método escutista faz emergir programas progressivos e atraentes, que devem ser concebidos como um todo coerente e não como uma justaposição de atividades sem ligações entre si.

Os programas escutistas devem ser concebidos de um modo progressivo, capaz de responder a um desenvolvimento gradual e harmonioso dos jovens, respeitando as motivações e os ritmos de aprendizagens de cada um deles.

Para atingir os seus objetivos, estes programas devem ser atrativos, por forma a manter empenhados todos os jovens e cada um deles. Sendo constituídos por uma combinação harmoniosa de atividades variadas e alicerçadas nos centros de interesse dos jovens e no envolvimento destes na sua conceção, enriquecimento, preparação realização e avaliação, valorizando o sistema de conselhos e de patrulhas e vividos ao ar livre.

Finalmente, os jovens têm de sentir o prazer de serem protagonistas da sua própria educação e desenvolvimento, de terem consciência que não crescem só em altura e idade, mas que crescem com “os outros”, na felicidade partilhada. Por tudo isto, o método escutista deve garantir que a afirmação de B.-P. feita no seu livro “Auxiliar o Chefe Escuta”, página 32, permaneça como ele a caraterizou: «a finalidade do Escutismo é perfeitamente simples.»



[1] A crónica “Método Escutista”, publicada em 27-01-2012, não incluía o oitavo elemento do método - envolvimento na comunidade, uma vez que este só viria a ser aprovado pela 41ª Conferência Mundial do Escutismo realizada em Baku, no Azerbaijão, nos dias 14 a 18 de agosto de 2017.

[2] Reynolds, E.E., B.-P.: The Story of His Life, da tradução para a língua francesa, por Amy Borgeaud, Delachaux & Niestlé S.A., Neuchâtel (Suíça), 1946, p.71.

 


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