O Movimento Escutista Mundial (V)
artigo publicado a 29 de janeiro 2021 no jornal diário "Correio do Minho"
Com esta quinta crónica, lançando um
olhar sobre o Movimento Escutista Mundial, a partir do primeiro capítulo da
Constituição Mundial, pretendo fechar este ciclo, com uma breve reflexão sobre
o artigo terceiro dedicado ao método escutista (27-01-2012)[1] assim
definido: «método escutista é um sistema da autoeducação progressiva
fundado sobre a interação dos seus elementos constituintes: a Promessa e a Lei
escutistas (10-02-2012), o aprender
fazendo (20-04-2012), a progressão
pessoal (18-05-2012), o sistema de
equipas (04-05-2012), o suporte dos
adultos (01-06-2012), o quadro
simbólico (09-03-2012), a natureza (23-03-2012) e o envolvimento na comunidade (30-03-2018) e ainda: «o método escutista
pratica-se criando uma experiência educativa, significativa para os jovens.
Deve ser aplicado de forma coerente com a finalidade e os princípios do
Movimento escutista. Está igualmente descrito numa política específica adaptada
e revista de tempos a tempos pela Conferência Mundial do Escutismo.»
Desde as suas origens que Baden-Powell procurou
criar este ambiente de experiência educativa significativa para os jovens. Assim,
no primeiro acampamento escutista realizado de 24 de julho a 9 de agosto de
1907, na ilha de Brownsea, no sul de Inglaterra, o fundador quis experimentar o
seu método, tendo escolhido 20 rapazes, de classes sociais diferentes, que
organizou em 4 patrulhas, cada uma liderada por um deles, designado por “guia
de patrulha”. No seu relatório do acampamento B.-P. escreveu: «Os rapazes
foram divididos em patrulhas de cinco, o mais velho de cada patrulha tornava-se
no seu guia. A organização foi o segredo do nosso sucesso. Cada guia teve a
responsabilidade da sua patrulha, no campo e no trabalho. A patrulha era a
unidade de trabalho e de jogos e cada uma acampava separadamente. Os rapazes
deviam pela sua honra obedecer ao seu guia. Foi assim que o sentido da
responsabilidade e de emulação pelos jogos foi imediatamente criada e um nível
elevado de desenvolvimento foi assegurado, dia após dia, em todo o grupo.[2]»
Depois desta experiência, Baden-Powell encerrou-se
no seu gabinete em Londres onde reviu os seus manuscritos e, 6 meses depois, em
janeiro de 1908, publicou o livro fundador, em 6 fascículos, sendo o primeiro
publicado no dia 15 de janeiro de 1908.
A 1 de maio desse mesmo ano, o “Scouting
for Boys” foi publicado, mas desta vez, em forma de livro. A partir daí, teve
várias atualizações ao longo dos anos, para além das adaptações feitas nos
vários países onde foi traduzido. A pesar de ser considerado o livro mais
vendido no século XX, a seguir à Bíblia, com milhões de exemplares nas 87
línguas em que se encontra traduzido, tornando-se, por isso, um verdadeiro
«best seller», 1908 não foi a data da que se impôs como a data oficial de
fundação do Escutismo, mais sim o ano do
acampamento Brownsea, 1907, marcando-se assim a importância das aprendizagens
experienciadas e incorporadas na forma de ser, de pensar e de agir do escuteiro.
Nesta visão, o método escutista faz emergir
programas progressivos e atraentes, que devem ser concebidos como um todo
coerente e não como uma justaposição de atividades sem ligações entre si.
Os programas escutistas devem ser concebidos de um
modo progressivo, capaz de responder a um desenvolvimento gradual e harmonioso
dos jovens, respeitando as motivações e os ritmos de aprendizagens de cada um
deles.
Para atingir os seus objetivos, estes programas devem
ser atrativos, por forma a manter empenhados todos os jovens e cada um deles.
Sendo constituídos por uma combinação harmoniosa de atividades variadas e alicerçadas
nos centros de interesse dos jovens e no envolvimento destes na sua conceção,
enriquecimento, preparação realização e avaliação, valorizando o sistema de
conselhos e de patrulhas e vividos ao ar livre.
Finalmente, os jovens têm de sentir o prazer de
serem protagonistas da sua própria educação e desenvolvimento, de terem
consciência que não crescem só em altura e idade, mas que crescem com “os outros”,
na felicidade partilhada. Por tudo isto, o método escutista deve garantir que a
afirmação de B.-P. feita no seu livro “Auxiliar o Chefe Escuta”, página 32,
permaneça como ele a caraterizou: «a finalidade do Escutismo é perfeitamente
simples.»
[1] A crónica “Método
Escutista”, publicada em 27-01-2012, não incluía o oitavo elemento do método - envolvimento
na comunidade,
uma vez que este só viria a ser aprovado pela 41ª Conferência Mundial do
Escutismo realizada em Baku, no Azerbaijão, nos dias 14 a 18 de agosto de 2017.
[2] Reynolds, E.E., B.-P.:
The Story of His Life, da tradução para a língua francesa, por Amy Borgeaud, Delachaux & Niestlé S.A., Neuchâtel (Suíça), 1946, p.71.
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