sábado, 11 de fevereiro de 2023

A Carta de Clã projeto Comunitário de vida e progresso para o Caminho

“A Carta de Clã projeto Comunitário de vida e progresso para o Caminho"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 3 de fevereiro 2023 no jornal diário "Correio do Minho"


Recordemos que a primeira vez que se publica uma referência cuidada à temática que hoje tratamos aconteceu em 1973, como um suplemento à revista Flor de Lis, com o título “Caminheiros” onde, no verso da folha Q 2, podemos ler: «O Progresso Comunitário, mais vulgarmente designado por Carta de Clã, é um dos segredos do método mais desconhecidos entre nós e, que saibamos, só foi posto à experiência em Clãs da região de Lisboa.»

Decorridos oito anos, com a publicação da Proposta Educativa da IV Secção, do Corpo Nacional de Escutas, podemos constatar que o tema foi retomado como se pode ler nas páginas 125 e 126:

«O caminheirismo tem de ser uma subida progressiva para a Partida, e como tal precisa de ser norteada por valores e pequenas regras que pouco a pouco vão ajudar a construir uma grande obra, que é o jovem no seu todo.
Dentro deste espírito, a Carta de Clã, documento definidor das grandes linhas de ação desta secção, é um conjunto de regras simples, que oriente a vida do caminheiro, da equipa1 e do próprio Clã ao longo do caminho.
Resumindo, a Carta de Clã é uma carta de intenções (atitudes e ações), elaborada em termos genéricos, mas preciosos e ricos de conteúdo.
A Carta de Clã só se destina a caminheiros investidos, que aceitaram o seu cumprimento, para um ano, na altura da promessa, sendo renovada anualmente.

Deve ser elaborada em conselho de Clã e revista anualmente. As modificações à referida carta, são decididas em conselho de Clã e podem ser apresentadas quer pela equipa, quer individualmente.
No fim de cada caminhada, na avaliação, deve haver espaço para fazer uma pequena reflexão sobre a Carta do Clã, de maneira a fazer-se um exame de consciência ao passado e propor um reajustamento para o futuro.

Para terminar, poder-se-ia dizer que a Carta de Clã, é um Projeto Pessoal de Vida e Progresso Comunitário, que poderá ser uma excelente ajuda para a autoformação integral do caminheiro.

É necessário, portanto, oferecer aos caminheiros um progresso comunitário que consista em esforços:
- Adaptados às suas necessidades e possibilidades.
- Escolhidos e vividos em comum.
- Orientados para a aquisição de qualidades indispensáveis para a vida.
Tudo isto porque:
"É que na idade de Caminheiros todos os rapazes têm a secreta ambição de realizarem grandes coisas”2»
A partir destes dois textos separados por um intervalo temporal de oito anos, percebemos que a Carta de Clã para poder ser eficaz e eficiente, enquanto projeto comunitário de vida e progresso para o caminho, deve ser construída a partir dos PPV – Projetos Pessoais de Vida e progresso para os diversos caminhos individuais, de modo que, todos os caminheiros se sintam enquadrados na magna Carta de Clã. Só assim, haverá um desenvolvimento harmonioso de cada um, em particular, e de todos, em geral. O PVP é um percurso educativo individual formatado por cada um dos jovens, em função das suas necessidades, prioridades ou anseios. Neste sentido, ele compõe-se de duas partes: uma parte aberta, que o Caminheiro partilha com a tribo e com o Clã para a elaboração da Carta de Clã, e uma outra reservada ao seu autor e destinatário, que integra objetivos e sonhos mais pessoais e íntimos, que este poderá ou não partilhar com todos, alguns ou nenhum membro de Clã.

A evolução de cada membro do Clã contribui para o desenvolvimento do seu coletivo e cria sinergias que permitem obter um ganho superior à “média aritmética” dos intervenientes. Por isso, a revisão anual da Carta de Clã, deve ter em conta o progresso alcançado, mas também considerar os diversos pontos de partida de todos os caminheiros e, de um modo especial, dos novos elementos do Clã, para que todos os anos possa ser um instrumento simultaneamente desafiador – contribuindo para o desenvolvimento de todos em geral e de cada um em particular -, e integrador - permitindo o desenvolvimento de laços de fraternidade e de solidariedade -, num trabalho colaborativo permanente, dando sentido ao trecho extraído da Oração pela Paz, de São Francisco de Assis: «é dando que se recebe, / é perdoando que se é perdoado,».


1Tribo, na designação atual.
2Citação de Baden-Powell, fundador mundial do escutismo


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