sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Construir o Plano de Atividades em Tempo de Pandemia

Construir o Plano de Atividades em Tempo de Pandemia

por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 25 de setembro 2020 no jornal diário "Correio do Minho"


Na semana passada referi o desafio resultante da alteração de parte das equipas de 4 Núcleos, da Junta Regional e do Conselho Fiscal e Jurisdicional Regional, neste último órgão foi uma recondução da mesma equipa, na Região de Braga, por força do calendário eleitoral.

Hoje, queria dar-vos nota de um outro desafio que, nos meses de setembro e outubro, todos os agrupamentos enfrentam: a construção do plano de atividades e respetivo orçamento, para o ano escutista de 2020/2021.

Com o ano escutista que terminou percebemos que, a final, os fatores externos, em determinadas circunstâncias, são demasiado poderosos por forma a destruírem o planeamento, cuidadosamente elaborado. A pandemia obrigou-nos a congelar, para ser simpático, todos os planos que tínhamos, praticamente em 2020. Alguns de nós, percebemos então a verdadeira dimensão de um pensamento de Albert Einstein: «a palavra ''progresso'' não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes» e percebemos que, no Escutismo Católico, muito mais importante que o caminho – o “progresso” é a missão – a “felicidade de crianças e jovens”.

O plano de atividades para o novo ano escutista será indelevelmente marcado pela pandemia, e elaborado sob o seu efeito devastador, sem sabermos qual será a sua evolução, na esperança que a “milagrosa” vacina seja aprovada pelas autoridades competentes, colocada no mercado e distribuída universalmente. É, por assim dizer, um salto “sem paraquedas” e, também nós, ficamos inquietos e, quando não, paralisados.

Como hoje estou grato a Blaise Pascal pelas suas palavras que, quando as li pela primeira vez, me pareceram muito duras, para ser educado, mas que hoje compreendo o seu verdadeiro alcance: «Cristo morreu de braços abertos, para que nós não vivamos de braços cruzados».

O CNE adotou, no plano trienal de atividades, o jovem Carlo Acutis como figura e exemplo de vida de 2020/2021. Nasceu em Londres em 1991 e viveu em Milão, falecendo em 2006, em Monza, vítima de uma leucemia fulminante. Carlo foi declarado venerável da igreja, no verão de 2018.

Na sua curta vida, de 15 anos, demonstrou uma grande abertura aos outros, sobretudo aos mais necessitados, sem nenhuma distinção de raça ou religião e sempre foi um jovem normal, com hábitos semelhantes aos dos seus pares, gostava de estudar, jogar futebol, estar com os outros e das tecnologias da informação (cfr. https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2019-08/veneravel-carlo-acutis.html). A Carlo Acutis, estão associadas: o “computador” - enquanto símbolo, a palavra-chave - “ser” e o pensamento – “preferir o original à fotocópia”.

Por sua vez, a arquidiocese de Braga definiu o plano pastoral para o triénio 2020/2023, sob o lema Uma Igreja Sinodal e Samaritana, sendo, neste primeiro ano marcado pelo lema - Onde há amor há um olhar e pela frase extraída do Evangelho de Lucas (10, 33) - «Chegou ao pé dele e vendo-o, encheu-se de compaixão».

Assim sendo, este ano teremos de nos focar, de um modo muito especial, na visão que temos da nossa ação de educadores e na missão do escutismo, na igreja e na sociedade, nos tempos pandémicos instáveis que vivemos.

As atividades são só os instrumentos previsionais que nos propomos realizar e, como tal, não são a essência dos planos. A essência é o crescimento em idade, sabedoria e graça das crianças e jovens, os destinatários centrais da nossa ação de educadores.

Neste sentido, as atividades a incluir no plano deverão ter uma geometria variável para se adequarem à realidade temporal, em constante mutação, evitando, deste modo, a desilusão resultante da sua não realização. Recordemos as palavras de John P. Kotter (Gerir a Mudança) «nas transformações falhadas, frequentemente encontra-se uma abundância de planos, diretivas e programas, mas não se encontra uma visão».

Nas visões dos planos do CNE e da arquidiocese de Braga temos presente a centralidade do outro para quem olhamos com amor, que ajudamos desinteressadamente e com quem compartilhamos. Ao vertê-las para os nossos planos estamos a valorizar o “outro”, levando-o à “felicidade” e contribuindo para “um mundo melhor”. Nos momentos de maiores dificuldades tenhamos presentes as palavras de Alexandre Herculano: «É erro vulgar confundir o desejar com o querer. O desejo mede os obstáculos; a vontade vence-os».


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