Construir o Plano de Atividades em Tempo de Pandemia
artigo publicado a 25 de setembro 2020 no jornal diário "Correio do Minho"
Na semana passada referi o desafio
resultante da alteração de parte das equipas de 4 Núcleos, da Junta Regional e
do Conselho Fiscal e Jurisdicional Regional, neste último órgão foi uma
recondução da mesma equipa, na Região de Braga, por força do calendário
eleitoral.
Hoje, queria dar-vos nota de um outro
desafio que, nos meses de setembro e outubro, todos os agrupamentos enfrentam:
a construção do plano de atividades e respetivo orçamento, para o ano escutista
de 2020/2021.
Com o ano escutista que terminou
percebemos que, a final, os fatores externos, em determinadas circunstâncias,
são demasiado poderosos por forma a destruírem o planeamento, cuidadosamente
elaborado. A pandemia obrigou-nos a congelar, para ser simpático, todos os
planos que tínhamos, praticamente em 2020. Alguns de nós, percebemos então a
verdadeira dimensão de um pensamento de Albert Einstein: «a palavra ''progresso'' não terá qualquer sentido enquanto houver
crianças infelizes» e percebemos que, no Escutismo Católico, muito mais
importante que o caminho – o “progresso”
é a missão – a “felicidade de crianças e
jovens”.
O plano de atividades para o novo ano
escutista será indelevelmente marcado pela pandemia, e elaborado sob o seu
efeito devastador, sem sabermos qual será a sua evolução, na esperança que a
“milagrosa” vacina seja aprovada pelas autoridades competentes, colocada no
mercado e distribuída universalmente. É, por assim dizer, um salto “sem
paraquedas” e, também nós, ficamos inquietos e, quando não, paralisados.
Como hoje
estou grato a Blaise Pascal pelas suas palavras que, quando as li pela primeira
vez, me pareceram muito duras, para ser educado, mas que hoje compreendo o seu
verdadeiro alcance: «Cristo morreu de braços abertos, para que
nós não vivamos de braços cruzados».
O CNE adotou, no plano trienal de
atividades, o jovem Carlo Acutis como figura e exemplo de vida de 2020/2021. Nasceu
em Londres em 1991 e viveu em Milão, falecendo em 2006, em Monza, vítima de uma
leucemia fulminante. Carlo foi declarado venerável da igreja, no verão de 2018.
Na sua curta vida, de 15 anos,
demonstrou uma grande abertura aos outros, sobretudo aos mais necessitados, sem
nenhuma distinção de raça ou religião e sempre foi um jovem normal, com hábitos
semelhantes aos dos seus pares, gostava de estudar, jogar futebol, estar com os
outros e das tecnologias da informação (cfr. https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2019-08/veneravel-carlo-acutis.html). A Carlo Acutis, estão associadas: o
“computador” - enquanto símbolo, a palavra-chave - “ser” e o pensamento –
“preferir o original à fotocópia”.
Por sua vez, a arquidiocese de Braga definiu o plano pastoral para o triénio 2020/2023,
sob o lema Uma Igreja Sinodal e Samaritana,
sendo, neste primeiro ano marcado pelo lema - Onde há amor há um olhar e pela
frase extraída do Evangelho de Lucas (10, 33) - «Chegou ao pé dele e vendo-o, encheu-se de compaixão».
Assim sendo, este ano teremos de nos
focar, de um modo muito especial, na visão que temos da nossa ação de
educadores e na missão do escutismo, na igreja e na sociedade, nos tempos
pandémicos instáveis que vivemos.
As atividades são só os instrumentos
previsionais que nos propomos realizar e, como tal, não são a essência dos
planos. A essência é o crescimento em idade, sabedoria e graça das crianças e
jovens, os destinatários centrais da nossa ação de educadores.
Neste sentido, as atividades a incluir
no plano deverão ter uma geometria variável para se adequarem à realidade temporal,
em constante mutação, evitando, deste modo, a desilusão resultante da sua não
realização. Recordemos as palavras de John P.
Kotter (Gerir a Mudança) «nas
transformações falhadas, frequentemente encontra-se uma abundância de planos,
diretivas e programas, mas não se encontra uma visão».
Nas visões dos planos do CNE e da
arquidiocese de Braga temos presente a centralidade do outro para quem olhamos
com amor, que ajudamos desinteressadamente e com quem compartilhamos. Ao
vertê-las para os nossos planos estamos a valorizar o “outro”, levando-o à
“felicidade” e contribuindo para “um mundo melhor”. Nos momentos de maiores
dificuldades tenhamos presentes as palavras de Alexandre Herculano: «É
erro vulgar confundir o desejar com o querer. O desejo mede os obstáculos; a
vontade vence-os».
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