quinta-feira, 23 de maio de 2024

O Corpo Nacional de Escutas e o(s) Congresso(s) Eucarístico(s)

O Corpo Nacional de Escutas e o(s) Congresso(s) Eucarístico(s)"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 24 de maio 2024 no jornal diário "Correio do Minho"


Para celebrar o vigésimo quinto aniversario do Corpo Nacional de Escutas, a Junta Central do C.N.E. solicitou ao Assistente Regional de Braga, o Padre Benjamim Salgado para fazer a história dos primeiros vinte e cinco anos de vida do Movimento. Assim, em agosto de 1948, é publicada a obra “RADIOSA FLORAÇÃO ou 25 Anos Sob o Signo da Flor de Lis, em Prol da Juventude e ao Serviço de Deus e Portugal”.
O autor, no texto inicial, ”À guisa de apresentação” escreve: «Foi escrito com os olhos em ti, querido irmão-escuta, este breve documentário dos primeiros anos de vida do C.N.E.» Dirigindo-se, naturalmente ao Fundador – Dom Manuel Vieira de Matos e na brevíssima biografia refere ainda: «Nascendo para combater, nasceu também para reconstruir. Das ruínas fazia palácios, do caos Seminários. Organizador de fibra, os Congressos falam dele como a luz fala do Sol.

Mas D. Manuel Vieira de Matos foi também um sonhador, um criador artístico. E que é senão um sonho feito de luz a obra do escutismo católico, que em Roma começou a conhecer e admirar e transplantou paternalmente para as terras da Arquidiocese e sua Pátria?»
Mais adiante, descreve: «Como nasceu uma ideia
Foi durante o Congresso Eucarístico Internacional realizado em Roma, em 1922 (de 24 a 29 de maio). Os escuteiros católicos italianos, obedientes a disposições dos seus Dirigentes, prestaram evidentes e brilhantes serviços ao Congresso, manifestando um nível superior de educação e formação e dando ao ambiente festivo de Roma um ar de graça e mocidade (...)
O garbo e belo espírito dos bons escuteiros impressionaram de tal modo o grande Arcebispo que quando o fâmulo (Mons. Avelino Gonçalves), também entusiasmado, lhe perguntou por que não se haveria de transplantara ideia para terras de Portugal, logo as duas almas se fundiram espiritualmente num mesmo desejo, ambição e sonho.
A ideia ganhou raiz e corpo e asas»1.

Um ano depois, 27 de Maio de 1923, por alvará do Governo Civil de Braga começa a ter existência legal e jurídica o «Corpo de Scouts Católicos Portugueses», designação inicial do Corpo Nacional de Escutas.
Poder-se-á dizer, em jeito de síntese, que o Escutismo Católico Português foi concebido em Roma (maio de 1922), teve um ano de gestação até ao Primeiro Congresso Eucarístico Arquidiocesano de Braga (28 a 31 de maio de 1923) e a sua apresentação pública à Igreja e ao País foi realizada no Primeiro Congresso Eucarístico Nacional (2 e 6 de Julho de 1924).
Mons. J. Augusto Ferreira deixa-nos o seguinte testemunho: «O Corpo Nacional de Scouts2 inaugurou-se no 1.º Congresso Eucarístico Nacional realizado n’esta cidade (Braga), e, semelhante ao grão de mostarda do Evangelho, tem irradiado por todo o paiz. O Escotismo catholico é hoje uma das mais consoladoras esperanças, por ser uma obra altamente educativa. (...)
Trata-se, portanto, d’uma obra excelente, duplamente catholica e patriótica: Crença e Caracter, eis o seu lemma.»3.

Esta ligação do Corpo Nacional de Escutas a três grandes eventos da Igreja, nas suas dimensões Universal, Nacional e Diocesana, bem como a previsão do autor acima citado, permitem-nos melhor compreender a razão da consagração do Arcebispo Dom Manuel Vieira de Matos como uma das personalidades do século XX na sociedade portuguesa, que o Expresso, em 2013, consagrou, na primeira de quatro revistas especiais que publicou sobre

“Os 100 portugueses que moldaram o século XX”, tendo esta lista sido elaborada pelo historiador Rui Ramos e pelo ex-diretor do Expresso Henrique Monteiro. O Arcebispo fundador do Escutismo foi um homem determinante e determinado do seu tempo, com uma visão de Sociedade e de Igreja clara e envolvente para as dioceses que serviu, e pelas obras criadas, designadamente o Escutismo Católico Português, demonstrando uma envergadura admirável, como Homem, como Cidadão e como Pastor – alguém que não se subjugava, nem se deixava subjugar. Sem receio do confronto com os poderosos do mundo do seu tempo, em defesa do seu rebanho, este “mártir da Primeira República” título que partilhava com D. António Barroso, Bispo do Porto, que produziria uma afirmação que ficou célebre: “há duas coisas de que eu não morro: de medo e de parto”.

1. Pe. Benjamim Salgado, Radiosa Floração, Edição da Junta Central – Braga, 1948, p.11 e 12.
2. Segunda designação do Escutismo Católico Português.
3. J. Augusto Ferreira, Fastos Episcopaes da Igreja Primacial de Braga (Sec. III – SEC. XX), TOMO IV. Edição da Mitra Bracarense, 1935, p.453.


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