sexta-feira, 29 de março de 2024

Revisitar as Origens para não Perder a Essência

Revisitar as Origens para não Perder a Essência"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 29 de março 2024 no jornal diário "Correio do Minho"


O Escutismo foi criado por Baden-Powell em 1907, sendo que a grande motivação do fundador mundial está claramente associada à juventude que encontrou, aquando do seu regresso a Inglaterra, em 1901, onde foi recebido como herói nacional. Uma grande parte dos jovens estava sem emprego e sem perspetivas de futuro profissional e social, muitos dedicavam-se à delinquência juvenil, a sociedade abandonara-os à triste sorte, para eles, não havia perspetivas de futuro com dignidade. A sua ideia era encontrar uma forma de inverter esta tendência que destruía a vida de tantos e tantos jovens.
Por isso, procurou documentar-se sobre contexto Londrino, Inglês (leia-se Império Britânico), na Europa e no Mundo. Também descobriu, com grande espanto que «o seu livro “Aids to Scouting”, destinado ao exército Estava a ser usado como livro de texto nas escolas masculinas.

B.-P. viu nisto um chamamento especial. Compreendeu que tinha agora uma excelente ocasião para ajudar os rapazes da sua Pátria a converterem-se em jovens fortes. (...) Pôs mãos à obra, aproveitando as suas experiências na Índia e na África (...) Reuniu numa biblioteca especial de livros, que leu, a respeito da educação dos rapazes através dos tempos – desde os espartanos, antigos bretões, peles-vermelhas, até aos nossos dias.
Lenta e cuidadosamente B.-P. foi desenvolvendo a ideia do escutismo. Para ter a certeza de que daria resultado, no verão de 1907 levou consigo um grupo de rapazes para a Ilha de Brownsea, no Canal Inglês, para realizar o primeiro acampamento escutista de todos os tempos. Este acampamento foi um grande êxito.
E a seguir, nos primeiros meses de 1908, publicou em seis prestações quinzenais, ilustradas por ele próprio, o seu manual de instrução Escutismo para Rapazes, sem sequer sonhar que este livro ia desencadear um movimento que havia de afetar os rapazes do mundo inteiro.1»

Em Portugal as três primeiras associações surgiram:
1913 – AEP • Associação dos Escoteiros de Portugal – em Macau;
1919 – UAP • União dos Adueiros de Portugal – no Porto (extinguiu-se na década de trinta do século passado);
1923 – CNE • Corpo Nacional de Escutas (designação inicial: Scouts Católicos Portugueses) – em Braga.
Todas elas foram beber as suas preocupações com a juventude ao pensamento do Fundador: ajudar os jovens a darem um sentido ao caminho das suas vidas.
Não temos dúvidas que, tanto a AEP como o CNE, hoje instituições centenárias, se questionam permanentemente sobre a atualidade e utilidade das suas propostas educativas.
No CNE procuramos permanentemente novas respostas para que a educação para a cidadania, comprometida com a construção de um mundo melhor e da fraternidade universal escutista, sejam cada vez mais eficazes e apelativas.

Comparando a sociedade dos tempos de Baden-Powell com a dos nossos dias, continuamos a sentir que se mantêm os mesmos problemas, com algumas variações. Por isso, somos levados a pensar que, mais do que nunca, se justifica dotar crianças e jovens, com ferramentas apropriadas, para o exercício da cidadania.
Hoje, em nome da Paz, mata-se para se ter mais territórios, para se erradicar pessoas/populações que pensam de forma diferente. Destes conflitos, que todos os dias aproximam o homem de verdadeiros e insaciáveis predadores, muitos dos quais, nós cidadãos com acesso quase que universal à informação, desconhecemos a sua existência e dimensão. No princípio do século vinte, quando o acesso à informação era dificílimo, esta ignorância era compreensível para a esmagadora maioria das populações, mas nos dias de hoje não tem justificação, nem mesmo sabendo que um falso quinto poder condiciona, leia-se, reescreve a informação.

Baden-Powell a todos provoca quando escreve: «Todo o escuteiro deve preparar-se para ser bom cidadão do seu país e do mundo.
Para isso deveis começar, enquanto novos, a considerar todos os rapazes vossos amigos. Lembrai-vos, quer sejais ricos quer pobres, da cidade ou do campo, de que tendes de vos conservar unidos para bem da vossa pátria. (...)
Lembrai-vos também de que o escuteiro não é apenas amigo dos que o cercam, mas “amigo de todo o mundo”. Os amigos não lutam entre si.2»
António Sérgio, contemporâneo de Baden-Powell, recomendava que, crianças e jovens, devem aprender a participar na vida da cidade, para, com esta aprendizagem, se tornarem bons cidadãos.

P.S.:Votos de Santa Páscoa aos leitores e à equipa do Correio do Minho

1In Baden-Powell, Escutismo para Rapazes, Edições Flor de Lis, 3ª Edição, Companhia Editora do Minho, Barcelos, 1968, p. 298-299.
2Ibidem, p. 290 e 291.


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