Folhinha interparoquial nº 2 de 26 de fevereiro a 3 março de 2024
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domingo, 25 de fevereiro de 2024
Folhinha interparoquial nº 2 de 26 de fevereiro a 3 março de 2024
domingo, 18 de fevereiro de 2024
Bem Vindo Padre Francisco
A Comunidade Paroquial do Divino Salvador de Nogueiró, acolheu a 17 fevereiro 2024 o Padre Francisco que virá colaborar com o Pde Miguel na orientação das Paróquias de Nogueiró, Lamaçães e Fraião. Como não podia deixar de ser os escuteiros de Nogueiró estiveram presentes nesta Cerimónia.
sábado, 17 de fevereiro de 2024
Folhinha interparoquial nº 1 de 19 a 25 de fevereiro de 2024
Folhinha interparoquial nº 1 de 19 a 25 de fevereiro de 2024
O Congresso do Centenário
“O Congresso do Centenário"
artigo publicado a 17 de fevereiro 2024 no jornal diário "Correio do Minho"
Encontro de Guias - Núcleo de Braga
Hoje, 17 de fevereiro 2024, na parte da manhã os nossos guias estiveram presentes no encontro de guias do núcleo de Braga que teve lugar em Sobreposta.. Uma manhã de partilha e debate de um tema tão importante que é a Inclusão, nunca esquecendo o que o Santo Padre nos transmitiu "Todos, Todos, Todos..."
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024
A Pretexto do Congresso do Centenário
“A Pretexto do Congresso do Centenário"
artigo publicado a 2 de fevereiro 2024 no jornal diário "Correio do Minho"
Sob este pretexto, quero recordar que, desde o seu início, o CNE teve preocupações com a qualidade do seu crescimento e desenvolvimento:
a) No dia 1 de março de 1925, foi inaugurado o Campo-Escola "S. Tomás de Aquino" (curso para a formação de dirigentes), no Porto e, no dia 25 do mesmo mês, é aprovado o “Regulamento das Escolas Regionais de Instrutores”.
b) Nos dias 27 e 28 de dezembro de 1927, ocorre Primeiro Congresso de Assistentes em Braga, sendo as conclusões publicadas em atos oficiais de 31 de janeiro de 1928.
c) Nos dias 24 e 25 de maio de 1928 realizou-se o Congresso Técnico, na cidade de Braga, tendo também sido publicadas a respetivas conclusões.
d) Nos dias 4 a 6 de abril de 1929, depois deste conjunto de encontros setoriais e, no sexto ano de vida do jovem Movimento, realizou-se o Primeiro Congresso Geral de Dirigentes do C.N.E., na cidade de Coimbra, com preocupações relacionadas com o seu crescimento harmonioso e sustentado. Na sua última sessão foram discutidas e aprovadas as suas conclusões.
No pós 25 de Abril, um tempo em que se sentia a necessidade urgente de se tomarem decisões rápidas e significativas, no início de outubro realiza-se o 3º Encontro Nacional de Dirigentes “para apresentar e divulgar inovações a introduzir (facultativamente) nos métodos das secções, na linha da Pedagogia do Projeto, que ficarão conhecidas como Novas Metodologias” (in site do CNE). Este encontro foi vital para a estabilidade do Corpo Nacional de Escutas.
Já ano de 1986, de 29 de Novembro a 1 de Dezembro, realizou-se Congresso do Escutismo Católico Português, "Que Escutismo para o ano 2000?", mas mais conhecido por "CNE 2000". Este congresso, realizado na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, contou com a intervenção do Dr. José Hermano Saraiva, na conferência de abertura e muitos outros: Dr. Seabra Lopes (informática), Pe. Prof. Mário Lopes (problema demográfico), Eng. Bruto da Costa (esgotamento dos recursos naturais), Comandante Virgílio de Carvalho (dicotomias Norte-Sul e Este-Oeste), Dr. Francisco Pinto Balsemão (comunicação social), Dr. Luís Archer e Dr. Meneres Pimentel (biotecnologia), Eng. Eurico da Fonseca (exploração do espaço), Eng. Carlos Pimenta (desequilíbrios ecológicos), Dr. Nuno Ribeiro da Silva (energia) e Prof. Fernando Micael Pereira (novas formas de organização). Para além destes belíssimos oradores, foram ainda apresentadas e publicadas uma trin-tena de comunicações de dirigentes do CNE.
Finalmente recordar o Congresso “Escutismo: Educar para a vida no século XXI”, realizado a 9 e 10 de novembro de 2013, no Centro de Congressos de Lisboa. O professor Marcelo Rebelo de Sousa proferiu a conferência de abertura subordinada ao tema identificador do congresso “Escutismo: Educar para a vida no século XXI”.
O primeiro painel: “o papel Escutismo na Igreja” a intervenção inicial foi proferida por sua Exª Revma., o senhor D. Joaquim Mendes, Vice-Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família. E ainda duas outras, pelo Prof. Doutor João Duque, da UCP – Braga, “A Igreja e os sinais dos tempos. Qual a nossa missão como leigos?” e do Frei Albertino Rodrigues, da Ordem dos Frades Menores – Lisboa, “A lei do escuteiro e a lei de Deus. Desafios ou pistas na educação e testemunho cristão?”.
O segundo painel: “o papel Escutismo na Educação”, tendo o Prof. Doutor Manuel Joaquim Azevedo, Diretor do Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, da UCP – Porto, proferido a intervenção inicial. Seguindo-se o Prof. Doutor Marcelino Sousa Lopes, da UTAD: “A Educação e a Educação não formal. Desafio, utopia ou compromisso?” O Prof. Doutor José Augusto Palhares, da UM: “O escutismo como educação não formal. Que sentidos à participação num percurso com 90 anos?” e a Dra. Maria Helena Guerra, na qualidade de Chefe Regional de Évora, sobre “O agrupamento, comunidade educativa local. Cen-tralidade ou periferia na metodologia escutista?”.
O terceiro painel: “o papel Escutismo na Sociedade”, tendo o Doutor Rui Marques, Presidente da Direção do Instituto Padre António Vieira – Lisboa, proferido a intervenção inicial, sendo que a Profª. Doutora Susana Fonseca Carvalhosa, ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa e Chefe do Agrupamento nº 73, Carnide – Lisboa abordou o tema: “A sociedade do século XXI. Que diálogos e que interações na e para a formação de jovens?” e o Engenheiro João Paulo Feijó, Consultor em Qualidade, Capital Humano e Gestão da Mudança e antigo Vice-Presidente do Comité Europeu da Organização Mundial do Escutismo (1987-1995) versou o tema: “O Escutismo Católico Português. Da realidade a uma visão (de e) com futuro.”
Em próxima crónica voltaremos a este recente e importante Congresso do CNE.
Folhinha interparoquial nº 842 de 12 a 18 de fevereiro de 2024
Folhinha interparoquial nº 842 de 12 a 18 de fevereiro de 2024
Ainda a Propósito do Centenário do CNE: O Agr.º n.º 16 e a Paróquia de Prado (Santa Maria)
“Ainda a propósito do Centenário do CNE:
O Agr.º 16 e a Paróquia de Prado (Santa Maria)"
artigo publicado a 19 janeiro 2024 no jornal diário "Correio do Minho"
Antes, e depois, da inauguração da escultura que o Escutismo Católico Português ofereceu à cidade de Braga, para marcar o centenário e o local do seu “nascimento”, variadíssimas manifestações deste tipo surgiram, um pouco por todo o lado, quase sempre apoiadas pelas Câmaras Municipais.
Na primeira semana deste mês, recebi um telefonema de um amigo desafiando-me para assistir à inauguração de uma escultura comemorativa do Centenário do C.N.E., nesse fim de semana. Sabia que este amigo, o arquiteto António Sá Machado, na sua meninice e adolescência, fora escuteiro no Agrupamento de Santa Maria de Prado e também sabia que há bastante tempo trabalhava num projeto para a criação de uma peça para marcar a presença do Escutismo nesta comunidade paroquial. Claro que isto era uma vontade coletiva que juntava, de braço dado, os escuteiros (antigos e atuais) e a comunidade paroquial, a ele fora pedido que, sem pressas idealizasse a obra e a materializasse.
Por isso, respondi que iria a Prado, na tarde do dia 6 de janeiro, para assistir à cerimónia, mas com uma curiosidade profunda para saber qual dos esboços que, ao longo dos tempos, apreciara no seu gabinete, mas o estudo que permitiu materializar o seu pensamento não era nenhum dos que eu conhecera.
Na breve memória descritiva que me foi distribuída, sob a forma de marcador de livro, pode ler-se: «De um paralelepípedo em pedra que assenta num chão de barro (símbolo das Terras de Santa Maria de Prado), emergem duas lâminas que juntas (unidade entre os homens) se erguem sem se tocar criando um fio de luz qua as atravessa e recorta a “flor-de-lis” desenhada no imaginário do observador. A concavidade da face, acolhe todos, num apelo mudo para o cumprimento da Lei [do Escuta] pela qual o Escuteiro se rege.
No centro da praça, fica o suporte da chama – o Fogo – que nos alerta para a presença de Deus.»
Este texto termina com uma citação do livro que, ainda hoje inspira a vivência escutista, “Escutismo para Rapazes”: «... Procurai deixar o mundo um pouco melhor de que o encontrastes e, quando vos chegar a hora de morrer, podereis morrer felizes sentindo que ao menos não desperdiçastes o tempo e fizestes todo o possível por praticar o bem. ...
Última mensagem do chefe Baden-Powell, Fundador [Mundial] do Escutismo.»
É certo que a base do monumento ainda não está montada: os quatro “bancos” simbolizando as quatro secções do CNE: Alcateia - os Lobitos, Expedição - os Exploradores, Comunidade – os Pioneiros e Clã – os Caminheiros; o espaço do “fogo” e a “terra de barro”. Mas, tal como no Escutismo ou nas nossas vidas, as coisas vão se fazendo na medida das nossas possibilidades, como diz o ditado popular: «Roma e Pavia não se fizeram num dia»!
Confesso que fiquei impressionado com a parceria das comunidades Paroquial e Escutista para protagonizarem este projeto e alegrou-se-me a alma por ver que por Terras de Santa Maria de Prado o espírito dos fundadores (Baden-Powell e D. Manuel Vieira de Matos) continua vivo e atuante.
Num tempo em que o pensamento dominante no mundo é o da guerra, melhor das guerras, admirei a sensibilidade do autor da obra para um dos princípios fundamentais do Escutismo: educar para a cooperação e para a Paz. De uma forma inteligente Sá Machado, no recorte interior da Flor-de-Lis faz sobressair a silhueta de duas pombas que relembram esta particularidade de desenvolvimento de competências relacionais voltadas para a compreensão, a aceitação e a cooperação: o caminho mais seguro para a Paz. Este pequeno pormenor, mas de importância vital para educar os futuros construtores de Paz, que o fundador designava como a “Fraternidade Mundial Escutista” que ainda hoje podemos observar no Jamboree Mundial, designação do acampamento mundial que se realiza de cinco anos, tendo sido o primeiro realizado em 1920, perto de Londres.
domingo, 4 de fevereiro de 2024
Folhinha interparoquial nº 841 de 5 a 11 de fevereiro de 2024
Folhinha interparoquial nº 841 de 5 a 11 de fevereiro de 2024
Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2024
Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2024
Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade
Queridos irmãos e irmãs!
Quando o nosso Deus Se revela, comunica liberdade: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão» (Ex 20, 2). Assim inicia o Decálogo dado a Moisés no Monte Sinai. O povo sabe bem de que êxodo Deus está a falar: traz ainda gravada na sua carne a experiência da escravidão. Recebe as «dez palavras» no deserto como caminho de liberdade. Nós chamamos-lhes «mandamentos», fazendo ressaltar a força amorosa com que Deus educa o seu povo; mas, de facto, o chamamento para a liberdade constitui um vigoroso apelo. Não se reduz a um mero acontecimento, mas amadurece ao longo dum caminho. Como Israel no deserto tinha ainda dentro de si o Egito (vemo-lo muitas vezes lamentar a falta do passado e murmurar contra o céu e contra Moisés), também hoje o povo de Deus traz dentro de si vínculos opressivos que deve optar por abandonar. Damo-nos conta disto, quando nos falta a esperança e vagueamos na vida como em terra desolada, sem uma terra prometida para a qual tendermos juntos. A Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser – como anuncia o profeta Oseias – o lugar do primeiro amor (cf. Os 2, 16-17). Deus educa o seu povo, para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte à vida. Como um esposo, atrai-nos novamente a Si e sussurra ao nosso coração palavras de amor.
O êxodo da escravidão para a liberdade não é um caminho abstrato. A fim de ser concreta também a nossa Quaresma, o primeiro passo é querer ver a realidade. Quando o Senhor, da sarça ardente, atraiu Moisés e lhe falou, revelou-Se logo como um Deus que vê e sobretudo escuta: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egito, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspetores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar das mãos dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel» (Ex 3, 7-8). Também hoje o grito de tantos irmãos e irmãs oprimidos chega ao céu. Perguntemo-nos: E chega também a nós? Mexe connosco? Comove-nos? Há muitos fatores que nos afastam uns dos outros, negando a fraternidade que originariamente nos une.
Na minha viagem a Lampedusa, à globalização da indiferença contrapus duas perguntas, que se tornam cada vez mais atuais: «Onde estás?» (Gn 3, 9) e «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9). O caminho quaresmal será concreto, se, voltando a ouvir tais perguntas, confessarmos que hoje ainda estamos sob o domínio do Faraó. É um domínio que nos deixa exaustos e insensíveis. É um modelo de crescimento que nos divide e nos rouba o futuro. A terra, o ar e a água estão poluídos por ele, mas as próprias almas acabam contaminadas por tal domínio. De facto, embora a nossa libertação tenha começado com o Batismo, permanece em nós uma inexplicável nostalgia da escravatura. É como uma atração para a segurança das coisas já vistas, em detrimento da liberdade.
Quero apontar-vos, na narração do Êxodo, um detalhe de não pequena importância: é Deus que vê, que Se comove e que liberta, não é Israel que o pede. Com efeito, o Faraó extingue também os sonhos, rouba o céu, faz parecer imutável um mundo onde a dignidade é espezinhada e os vínculos autênticos são negados. Por outras palavras, o Faraó consegue vincular-nos a ele. Perguntemo-nos: Desejo um mundo novo? E estou disposto a desligar-me dos compromissos com o velho? O testemunho de muitos irmãos bispos e dum grande número de agentes de paz e justiça convence-me cada vez mais de que aquilo que é preciso denunciar é um défice de esperança. Trata-se de um impedimento a sonhar, um grito mudo que chega ao céu e comove o coração de Deus. Assemelha-se àquela nostalgia da escravidão que paralisa Israel no deserto, impedindo-o de avançar. O êxodo pode ser interrompido: não se explicaria doutro modo porque é, que tendo uma humanidade chegado ao limiar da fraternidade universal e a níveis de progresso científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir a todos a dignidade, tateie ainda na escuridão das desigualdades e dos conflitos.
Deus não Se cansou de nós. Acolhamos a Quaresma como o tempo forte em que a sua Palavra nos é novamente dirigida: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão» (Ex 20, 2). É tempo de conversão, tempo de liberdade. O próprio Jesus, como recordamos anualmente no primeiro domingo da Quaresma, foi impelido pelo Espírito para o deserto a fim de ser posto à prova na sua liberdade. Durante quarenta dias, tê-Lo-emos diante dos nossos olhos e connosco: é o Filho encarnado. Ao contrário do Faraó, Deus não quer súbditos, mas filhos. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão. Na Quaresma, encontramos novos critérios de juízo e uma comunidade com a qual avançar por um caminho nunca percorrido.
Isto comporta uma luta: assim no-lo dizem claramente o livro do Êxodo e as tentações de Jesus no deserto. Com efeito, à voz de Deus, que diz «Tu és o meu Filho amado» (Mc 1, 11) e «não haverá para ti outros deuses na minha presença» (Ex 20, 3), contrapõem-se as mentiras do inimigo. Mais temíveis que o Faraó são os ídolos: poderíamos considerá-los como a voz do inimigo dentro de nós. Poder tudo, ser louvado por todos, levar a melhor sobre todos: todo o ser humano sente dentro de si a sedução desta mentira. É uma velha estrada. Assim podemos apegar-nos ao dinheiro, a certos projetos, ideias, objetivos, à nossa posição, a uma tradição, até mesmo a algumas pessoas. Em vez de nos pôr em movimento, paralisar-nos-ão. Em vez de nos fazer encontrar, contrapor-nos-ão. Mas existe uma nova humanidade, o povo dos pequeninos e humildes que não cedeu ao fascínio da mentira. Enquanto os ídolos tornam mudos, cegos, surdos, imóveis aqueles que os servem (cf. Sal 115, 4-8), os pobres em espírito estão imediatamente disponíveis e prontos: uma força silenciosa de bem que cuida e sustenta o mundo.
É tempo de agir e, na Quaresma, agir é também parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano em presença do irmão ferido. O amor de Deus e o do próximo formam um único amor. Não ter outros deuses é parar na presença de Deus, junto da carne do próximo. Por isso, oração, esmola e jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam. Então o coração atrofiado e isolado despertará. Para isso há que diminuir a velocidade e parar. Assim a dimensão contemplativa da vida, que a Quaresma nos fará reencontrar, mobilizará novas energias. Na presença de Deus, tornamo-nos irmãs e irmãos, sentimos os outros com nova intensidade: em vez de ameaças e de inimigos encontramos companheiras e companheiros de viagem. Tal é o sonho de Deus, a terra prometida para a qual tendemos, quando saímos da escravidão.
A forma sinodal da Igreja, que estamos a redescobrir e cultivar nestes anos, sugere que a Quaresma seja também tempo de decisões comunitárias, de pequenas e grandes opções contracorrente, capazes de modificar a vida quotidiana das pessoas e a vida de toda uma coletividade: os hábitos nas compras, o cuidado com a criação, a inclusão de quem não é visto ou é desprezado. Convido toda a comunidade cristã a fazer isto: oferecer aos seus fiéis momentos para repensarem os estilos de vida; reservar um tempo para verificarem a sua presença no território e o contributo que oferecem para o tornar melhor. Ai se a penitência cristã fosse como aquela que deixou Jesus triste! Também a nós diz Ele: «Não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam» (Mt 6, 16). Pelo contrário, veja-se a alegria nos rostos, sinta-se o perfume da liberdade, irradie aquele amor que faz novas todas as coisas, a começar das mais pequenas e próximas. Isto pode acontecer em toda a comunidade cristã.
Na medida em que esta Quaresma for de conversão, a humanidade extraviada sentirá um estremeção de criatividade: o lampejar duma nova esperança. Quero dizer-vos, como aos jovens que encontrei em Lisboa no verão passado: «Procurai e arriscai; sim, procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos a viver uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. E é preciso coragem para pensar assim» (Discurso aos estudantes universitários, 03/VIII/2023). É a coragem da conversão, da saída da escravidão. A fé e a caridade guiam pela mão esta esperança menina. Ensinam-na a caminhar e, ao mesmo tempo, ela puxa-as para a frente[1].
Abençoo-vos a todos vós e ao vosso caminho quaresmal.
Roma – São João de Latrão, no I Domingo do Advento, 3 de dezembro de 2023.
[Francisco]
[1] Cf. CHARLES PÉGUY, Il portico del mistero della seconda virtù, Milão 1978, 17-19 [tradução portuguesa: Os portais do mistério da segunda virtude, Lisboa, Paulinas 2014].