sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Nada te perturbe (...) Só Deus basta

Nada te perturbe (...) Só Deus basta"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 25 de novembro 2022 no jornal diário "Correio do Minho"




O Nada te perturbe
Nada te espante,
Tudo passa,
Só Deus não muda.
A paciência
Tudo alcança.
Quem a Deus tem,
Nada lhe falta.
Só Deus basta.


Santa Teresa de Ávila1


Ao preparar a última crónica publicada, que me haveria de servir de base para a comunicação num encontro com os Guias de: Bando, Patrulha, Equipa e Tribo, no Agrupamento número 1 da Sé, do Núcleo de Braga, selecionei alguma bibliografia, e revisitei estes livros, um dos quais já “parqueado” há muitos anos, a julgar pelo pó acumulado. Estou a referir-me a um livro intitulado “Pistas para o Guia de Patrulha” da autoria de J. Marques da Silva, editado, em primeira edição, em novembro de 1970, no dia de São Nuno de Santa Maria, há época ainda Beato.

Já não me lembrava de o ter manuseado desde os tempos da minha juventude e o primeiro impacto que me causou foram as cinco linhas da dedicatória onde o autor evoca «o chefe Dr. José Francisco dos Santos», fiquei perplexo pois tinha na ideia que este livro era uma tradução, mas não, é um livro original, propositadamente escrito para o Corpo Nacional de Escutas, li-o, e estou a relê-lo, para melhor apreender a atualidade que este livro tem ainda hoje, 53 anos depois da sua primeira publicação.
Intrigou-me que numa primeira pesquisa, nada se encontre sobre a vida deste autor, assim como nenhuma referência lhe é feita no site do CNE. Foi neste quadro de injustiça que me surgiu o texto de Santa Teresa da Ávila que evoco como mote desta crónica, porque não compreendo que um homem que nos brindou com um livro fabuloso sobre a importância dos Guias de Patrulha e sobre muitos aspetos da sua formação e da sua liderança, nestes pequenos grupos a que chamamos, Bandos, Patrulhas, Equipas ou Tribos. Esta dinâmica do sistema de patrulhas e dos diversos conselhos de crianças e jovens ou dos seus representantes, que a organização mundial do escutismo considera como um dos oito elementos do método escutista e que é a verdadeira alavanca no processo de autoeducação, onde os jovens são os protagonistas e os decisores dos seus percursos educativos, que o fundador do Escutismo ilustrou com a célebre expressão «impele a tua própria canoa».

Não tenho dúvidas que J. Marques da Silva nunca terá construído montinhos de areia, para neles se colocar em bicos de pés, nem terá andado, por aí, de megafone na mão, a gritar “Ei, estou aqui!”
Pessoalmente gostaria que um dia pudéssemos responder à pregunta: quem foi este homem e dirigente do CNE? Pode ser uma demanda atribulada, mas não são as causas difíceis que mais nos estimulam? Ou não aprendemos com Baden-Powell que não há projetos impossíveis? E que para os tornar possíveis basta dar um pontapé no “im”, tornando-os imediatamente realizáveis.

Por outro lado, lembrei-me dos que não honram o trabalho dos que os antecederam, imitando Cipião Emiliano na cidade rival de Roma: «Depois de saquearem a cidade, os romanos procuraram certificar-se que Cartago não estivesse apenas derrotada, mas destruída. A fim de garantir que Cipião Emiliano fizesse isso da forma correta, uma comissão de senadores […] foi enviada de Roma.

Amplas áreas da cidade já tinham sido destruídas durante a luta. Agora, o restante seria queimado, e todas as estruturas remanescentes demolidas.»
Há uma história que relata ainda que o solo de Cartago foi lavrado e semeado com sal, de modo que nada mais germinasse ali. Verdade ou não é que este espírito de vencedor: destruidor de pessoas, da sua cultura e da sua sociedade, não é o que tanto Baden-Powell como J. Marques da Silva incluíram nos seus livros, onde o vencedor é o que alcança os resultados que se propôs, mas ao contrário dos «Cipiões» não o fazem com a destruição e opressão dos outros, mas sim com fraternidade e valorização de todos os que se cruzam nos seus caminhos. Assim, para estes, «A paciência / Tudo alcança.» e «Quem a Deus tem, / Nada lhe falta.» pois para eles «Só Deus basta.»

1 Pequena copla que Santa Teresa tinha no seu Breviário, ao morrer em Alba de Tormes.




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