domingo, 2 de outubro de 2022

Recordando o Fundador: D. Manuel Vieira de Matos (I)

Recordando o Fundador: D. Manuel Vieira de Matos (I)"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 30 de setembro 2022 no jornal diário "Correio do Minho"


No âmbito das celebrações do Centenário do Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português, recordamos o seu Fundador, D. Manuel Vieira de Matos.
28 de setembro de 2022 1

A Junta de Núcleo de Braga, já há alguns anos que inclui, nos planos anuais de atividades, a celebração do dia do fundador do Corpo de Scouts Católicos Portugueses, designação inicial do Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português, no dia 28 de setembro, dia do seu falecimento.
Recorde-se que as celebrações do centenário da fundação do centenário do CNE, decorrerão entre o primeiro evento se realizou na cidade de Lisboa, no passado dia 27 de maio de 2022, estando previsto o seu encerramento para o mês de outubro de 2023, na cidade de Coimbra.

Assim, nestes tempos de centenário, a Junta de Núcleo de Braga, na passada quarta-feira, decidiu colocar uma lápide evocativa do ato fundacional perpetrado pelo Arcebispo de Braga, D. Manuel Vieira de Matos, na rua que, por decisão da Câmara Municipal de Braga, tem, desde a sua abertura, o nome deste prelado.

O pequeno Manuel nasceu no dia 22 de março de 1861, na freguesia de Poiares, do concelho de Peso da Régua, à época território integrado na Arquidiocese de Braga. Fez a instrução primária num colégio em Lamego, e órfão de pai ingressou no seminário da diocese de Braga. Em 1882, terminou os seus estudos de formação teológica, tendo sido escolhido para exercer as funções de professor no seminário de Lamego, pois a sua terra natal fora incorporada na diocese de Lamego, em 1881 e no dia 22 de setembro de 1883 foi ordenado presbítero na Sé desta diocese.

Em 1885, rumou à universidade de Coimbra para cursar Teologia, que concluiria em 1890. No ano seguinte foi nomeado cónego da Sé de Viseu, professor no seminário desta diocese e secretário particular do bispo D. José Dias Carvalho.

Em 1899, o Papa Leão XIII nomeou-o Arcebispo de Mitilene e Vigário-Geral do Patriarcado de Lisboa, sendo, no dia 15 de agosto desse ano, ordenado bispo na Sé de Viseu. Em abril de 1903 o mesmo Papa nomeou-o para a diocese da Guarda, com o título de Arcebispo-bispo, entrou na diocese no dia 4 de junho do mesmo ano.
Finalmente, no dia 1 de outubro de 1914, o Papa Bento XV, nomeou-o Arcebispo de Braga, mas só, cerca de seis meses depois, a 14 de março de 1915 é que o prelado entrou na Sé de Braga, quando já havia tomado posse em 25 de fevereiro. No dia 28 de setembro de 1932, D. Manuel Vieira de Matos faleceu com 71 anos de idade, na cidade dos Arcebispos.

Podemos dizer que este prelado, que o Expresso, em 2013, consagrou, na primeira de quatro revistas especiais que publicou sobre “Os 100 portugueses que moldaram o século XX”, tendo esta lista sido elaborada pelo historiador Rui Ramos e pelo ex-diretor do Expresso Henrique Monteiro, foi um homem determinante e determinado do seu tempo, com uma visão de Sociedade e de Igreja clara e envolvente para as dioceses que serviu, demonstrando uma envergadura admirável, como Homem, como Cidadão e como Pastor – alguém que não se subjugava nem se deixava subjugar. Sem receio do confronto com os poderosos do mundo do seu tempo, em defesa do seu rebanho, este “mártir da Primeira República” que partilhava o martírio com D. António Barroso, Bispo do Porto, que produziria uma afirmação que ficou célebre: “há duas coisas de que eu não morro: de medo e de parto”.

Assim o demonstrou D. Manuel Vieira de Matos na sua luta contra a repristinação das leis do Marquês de Pombal contra os jesuítas, bem como as de Joaquim António de Aguiar (o Mata-Frades) quanto às ordens religiosas (1834) e, de um modo especial, contra a legislação aprovada pelo governo da Primeira República - Lei da Separação da Igreja e do Estado em Portugal, não por esta lei deixar de considerar o catolicismo como a religião oficial do estado, mas porque pretendia manietar a Igreja com mecanismo que lhe retirava a autonomia e a independência e impedia a articulação com a Igreja Universal. Mas também porque foram arrolados os bens e as propriedades da Igreja e incorporados no Estado. Além disso, Afonso Costa, o grande estratega destas ações, suportado por outras figuras republicanas, não se coibia de apregoar e garantir que, com esta legislação o catolicismo seria, no espaço de duas ou três gerações, completamente irradiado de Portugal.


1Texto da lápide colocada, na Rua D. Manuel Vieira de Matos, pela Junta de Núcleo de Braga do CNE.




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