segunda-feira, 2 de maio de 2022

Revisitando a VII Conferência do Escutismo Católico

por: Carlos Alberto Lopes Pereira

artigo publicado a 29 de abril 2022 no jornal diário "Correio do Minho"


Esta Conferência teve como tema «Escutismo e Apóstolado» e reuniu-se em Roma nos dias 7 e 8 de junho de 1952. A Conferência tinha dois grandes objetivos: por um lado, aprofundar a utilização dos princípios de educação escutista na formação e desenvolvimento da fé de crianças e jovens à luz das novas linhas de ação da Igreja daqueles tempos. Por outro lado, aprofundar o conhecimento e as práticas entre os dirigentes católicos de outros cantos do mundo. De modo a estabelecer uma rede do Escutismo Católico no mundo, para desenvolvimento de linhas de ação entre as diversas associações inspiradas pela vivência do catolicismo.

Como a reunião se realizou em Roma e o Papa Pio XII dirigiu aos participantes nos seguinte termos:

«Escolhestes Roma, queridos filhos, para local da reunião da Conferência Internacional do Escutismo Católico e é a primeira vez que os vossos dirigentes nacionais se reúnem na cidade eterna. (...) Todos sabemos, na verdade, que desde o princípio a religião ocupou no movimento o primeiro lugar. Mas também tendes consciência de quanto o catolicismo traz de força e precisão à obra educadora a que vos consagrais. Para vós não se trata unicamente de formar cidadãos melhores, mais ativos, mais dedicados ao bem comum da cidade temporal, também é preciso melhores filhos da Igreja. Ora, na Igreja católica, a missão apostólica passa da hierarquia aos fiéis e nos nossos dias todos os fiéis são chamados a colaborar neste apostolado nos meios em que vivem.

Os rapazes, para sermos exatos, não estão em idade de fazer apostolado organizado, mas devem ser preparados para isso.

A experiência de cerca de trinta anos demonstrou largamente o valor formativo do Escutismo. Quantas belas figuras de grandes cristãos, de heróis e de chefes, quantas vocações religiosas e sacerdotais nasceram nas suas unidades. Contudo, atentos a combater os possíveis desvios, revistes continuamente os métodos e recordastes os princípios. Se o escuteiro ama a natureza, não é simplesmente para nela gozar o espaço, o ar puro, o silêncio, a beleza da paisagem; nela toma gosto pela simplicidade, por uma rudeza sã em oposição à vida artificial das cidades e à escravização da sociedade mecanizada, não é para fugir à obrigações da vida civil. Se cultiva boas amizades num grupo escolhido não para recusar os contactos e os serviços. Muito pelo contrário. Nada estaria mais longe do seu ideal. Se gosta das realidades concretas, também não é por desprezo pelas ideias e pelos livros. Tem a preocupação de uma cultura completa e harmoniosa em relação às suas capacidades e necessidades atuais. Para atingir esse fim, a Promessa de cumprir a Lei com a graça de Deus é uma poderosa alavanca que eleva a juventude acima de fraquezas e tentações. Com base nos fundamentos da lei natural, a Lei escutista pela educação do esforço, pela prática quotidiana de voluntárias boas ações, apela para a retidão e para a felicidade por que os jovens tanto anseiam e procuram cultivar aceitando de boa vontade a ajuda de outrem. Fá-los adquirir o horror da fraude, da mentira, da dissimilação.

Os jovens, porque sentem crescer as suas forças, são naturalmente generosos; querem lutar, medir-se com as dificuldades; experimentam a necessidade de dar, de se darem, de ultrapassarem e encontrem na prática da vida ao ar livre e no exercício da habilidade manual um alimento adaptado à sua idade. A pureza, favorecida por este clima moral, é-lhes assim claramente definida e dá à sua energia a reserva e a delicadeza cristãs.

Quem poderia negar a oportunidade de uma educação como esta numa civilização onde reinam o egoísmo, a desconfiança, a cobardia, o amor desenfreado pelo prazer? (...)
Mas esta formação deve ser aberta às realidades socias, naturais e sobrenaturais desde a idade mais jovem, por meio dos métodos concretos de observação e reflexão que lhes convêm. Devem aprender a viver na sociedade moderna e para isso devem ser prudentemente informados das suas estruturas, qualidades e defeitos. Devem preparar-se principalmente para no meio e comunidade paroquial exercerem a influência e assumirem a responsabilidades de que são capazes.

Numa palavra, a formação do caráter, que é a finalidade principal do Escutismo, deve ter uma orientação francamente social e apostólica- Deve preparar para servir o próximo nos contactos pessoais e ao mesmo tempo nas instituições civis e religiosas.»
A intervenção do Papa foi um pouco mais longa, mas aqui fica o essencial, que pela sua atualidade ainda pode ser muito útil ao Escutismo Católico e também ao Corpo Nacional de Escutas.



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