domingo, 22 de maio de 2022

O Escutismo é Simples

por: Carlos Alberto Lopes Pereira

artigo publicado a 13 de maio 2022 no jornal diário "Correio do Minho"


O título desta crónica foi retirado de um livro muito especial que Baden-Powell escreveu para os dirigentes escutistas: “Auxiliar do Chefe-Escuta”, sendo o primeiro manual de formação para os adultos. No preâmbulo que escreveu para o livro tem duas afirmações interessantes para, do ponto de vista do fundador caraterizar a sua obra: «O Escutismos não é uma ciência abstrusa ou difícil: é um jogo divertido, se o encararmos como deve ser. Ao mesmo tempo é educativo, e, como o perdão, tende a beneficiar tanto quem o concede como quem que o recebe» e «O termo “Escutismo” acabou por significar um sistema de preparação para a cidadania, por meio de jogos, para rapazes e raparigas».

Este livro foi escrito a partir das notas que B.-P. fez para a realização de um curso para dirigentes que o fundador realizou pouco antes da primeira guerra mundial, tendo sido publicado em 1920, como nos conta J. S. Wilson na introdução que fez para a edição da Fraternidade Mundial, em 1944. Este dirigente, na qualidade de Chefe de Campo do Parque de Gilwell, o centro escutista ligado à formação de dirigentes, teve a oportunidade de colaborar com o fundador na preparação da nova edição de 1929, quando o Movimento celebrava a maioridade.
Este colaborador de Baden-Powell tem, neste nesta introdução, uma afirmação interessante: «É firme crença minha que o Escutismo de todo o mundo precisa de regressar à primitiva ideia simples de encarar a obra como um jogo que ajudará o rapaz a desenvolver-se com o mínimo possível de fiscalização adulta. Se nós, que escolhemos a elevada função de sermos seus orientadores, nos propusermos na nossa vida diária e em todas as atividades escutistas LEMBRARMO-NOS DO RAPAZ, realizaremos melhor a nossa missão e melhores resultados alcançaremos.»

Como é atual este conselho e como seria útil, nos nossos dias e no CNE, que todos os que têm a responsabilidade na formação dos dirigentes, como tinha J. S. Wilson, o adotassem como orientação basilar para as suas linhas de ação na formação dos adultos.

Na parte I – «Modo de educar o rapaz», no primeiro capítulo, sob o título: “O Chefe-Escuta”, Baden-Powell tem a seguinte reflexão:

«Como palavra preliminar de consolação a futuros Chefes-Escutas gostaria de contraditar o errado conceito corrente de que, para ser Chefe-Escuta eficaz, o adulto precisa de ser um sábio – um sabe-tudo. Nada disso.
Tem de ser apenas um homem-rapaz, isto é:
1. Precisa de estar animado do espírito do rapaz; e precisa de ser capaz de se colocar ao nível dos rapazes, em primeiro lugar.
2. Precisa de compreender as necessidades, modos de ver e aspirações das diferentes idades da juventude.
3. Precisa de tratar mais com o rapaz individualmente do que com a massa.
4. Precisa de promover o espírito de corpo entre os seus rapazes, para alcançar melhores resultados.»

Também no terceiro capítulo, desta parte primeira: “O Escutismo”, depois de uma breve introdução, logo no primeiro ponto sob o título «O Escutismo é Simples», que adotamos para crónica, o fundador escreve: «A um estranho, o Escutismo, à primeira vista, há-de parecer coisa complicada, e há provavelmente muitos homens que desistem de se tornarem Chefes-Escutas devido ao número e variedade enorme de coisas que julga necessário saber para ensinar aos rapazes. Mas tal não é preciso, se se compreenderem os seguintes pontos:

1. A finalidade do Escutismo é perfeitamente simples.
2. O Chefe-Escuta incute no rapaz a ambição e o desejo de aprender por si, sugerindo-lhe atividades que lhe agradam e a que ele se dedica, até que, com a prática, as executa bem.
3. O Chefe-Escuta opera por intermédio dos Guias de Patrulha.»
De facto, ainda hoje, a Constituição Mundial do Escutismo, define a finalidade do escutismo da seguinte forma: «O Movimento escutista tem por finalidade contribuir para o desenvolvimento dos jovens ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas, intelectuais, afetivas, sociais e espirituais, quer como pessoas, quer como cidadãos responsáveis e quer, ainda, como membros das comunidades locais, nacionais e internacionais.»

Finalmente, o fundador em “Auxiliar do Chefe-Escuta” (p.48) alerta-nos para «o objetivo mais importante na formação do escuta – educar; não instruir, reparem bem, mas educar, isto é, levar o rapaz a aprender por si, espontaneamente, aquelas as coisas que contribuem para lhe formar o caráter».

Nota: sempre que se lê “rapaz” deve ler-se “rapariga e rapaz”.



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