“Uma Oportunidade de Regresso às Origens”
artigo publicado hoje 23 de abril 2021 no jornal diário "Correio do Minho"
Das regras vigentes para o
desconfinamento destacam-se os pequenos grupos de 6 elementos na restauração,
na atividade física em grupo, bem como a pequena taxa de ocupação de espaços
para celebrações religiosas ou espetáculos culturais, por forma a manter-se o
afastamento social, também recomendado.
Naturalmente que a etiqueta social também
se mantém em vigor, sendo que o álcool-gel e máscara são dois “compagnons
de route”
imprescindíveis na nossa vida quotidiana, alguns até personalizados a nosso
gosto ou à circunstância.
O escutismo não pode esquecer estas
normas, bem pelo contrário, deve incrementá-las e, desta forma, aproveitar a
oportunidade para revisitar as origens.
Recordemos que Baden-Powell, no primeiro
acampamento escutista realizado no verão de 1907, na ilha de Brownsea, no sul
de Inglaterra, organizou o campo com 4 pequenos grupos (patrulhas), sendo, cada
um deles composto por 5 elementos, um do quais era o líder: “o guia patrulha”.
Estes guias reuniam com os adultos para trabalharem os conteúdos de modo que
estes fossem capazes de ser os instrutores dos restantes membros da patrulha.
Só depois se faziam os jogos entre patrulhas para se apurar a destreza dos
jovens na aplicação desses conteúdos a novas realidades, mas também ao
desenvolvimento do “espírito de patrulha”, isto é, a união e entreajuda no seio
da patrulha, pois a performance da equipa sobrepõe-se a performance individual,
bem como a assunção das funções e competências de cada um dos membros.
Hoje, já que temos de viver as nossas
reuniões, encontros ou atividades em pequenos grupos, devemos aproveitar estas
situações, impostas pelo combate à pandemia, não como um problema em si, mas
antes como uma oportunidade para que todos nós (adultos, crianças e jovens)
possamos aprofundar a vivência do sistema de “patrulhas” e de “conselhos”. Esta
é a designação dada às reuniões onde os jovens são chamados a apresentar, por
patrulha, os seus projetos de atividades, onde eles próprios, e só eles, podem escolher,
por votação, a atividade que vão desenvolver e constituindo pequenas equipas de
especialidade que programam as diversas fases e momentos da atividade que vão
viver, desde o reconhecimento do local, da escolha do material adequado, das
ementas e dos respetivos víveres até toda a logística de transporte e
acomodação de pessoas e bens, da atribuição de tarefas individuais e coletivas,
até ao modelo de avaliação da atividade.
Depois das fases de escolha e de
preparação da atividade, tendo passado algumas semanas ou meses, dependendo do
grau de complexidade e exigência, entra-se na fase da realização, ou vivência da
atividade, onde se observa a aplicação das aprendizagens a situações do
quotidiano, tantas vezes trabalhadas na fase anterior. É a alegria de ver que o
esforço produzido na preparação deu os seus frutos, ainda que, aqui ou ali,
tomemos consciência que podíamos ter feito mais e melhor.
Terminada a aventura há que cuidar do
material para que esteja pronto para a próxima, seguindo-se o momento da
avaliação de forma individual, seguido da partilha em patrulha e depois cada
guia de patrulha leva a conselho de guias as avaliações dos pequenos grupos e
consolida-se a avaliação final da atividade.
Desta, deve resultar o reconhecimento do
progresso individual de cada elemento bem como as recomendações de melhoria
para atividades futuras.
Em tempos normais este processo
culminaria com uma confraternização entre todos os elementos da Secção, para a
qual também eram convidadas as famílias dos jovens onde os guias apresentavam
as conclusões da avaliação e os resultados obtidos e o chefe de Unidade
aproveita para evidenciar o progresso realizado, entregando, se fosse o caso,
as respetivas insígnias. O encontro terminaria com um pequeno lanche preparado
pelas patrulhas.
Hoje, este “happy end” deverá ser
realizado em cada uma das patrulhas, reunidas presencialmente, mas em espaços
diferentes, estando ligadas entre si de forma digital, assim como os seus
familiares. Claro que não será um momento tão efusivo, temos que ter presente
as palavras de Fernando Pessoa: “mas o melhor do mundo são as crianças”
e, por isso, a primeira obrigação de todos nós é a sua proteção.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Sem comentários:
Enviar um comentário