sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O Movimento Escutista Mundial (III)

O Movimento Escutista Mundial (III)

por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 20 de novembro 2020 no jornal diário "Correio do Minho"


Tenho vindo a fazer uma reflexão sobre o Escutismo, enquanto movimento mundial, a partir da sua Constituição Mundial que baliza os requisitos sine qua non para que as diversas associações escutistas possam ser oficialmente reconhecidas e acolhidas na Organização Mundial do Escutismo.
Hoje, centrar-me-ei no 2.º artigo, onde são definidos: os três Princípios do Escutismo, a adesão, livre e voluntária, a uma Promessa e a uma Lei e o emblema do Escutismo Mundial, deixando os dois últimos pontos para uma próxima crónica.

O primeiro Princípio, assim definido: «dever para com Deus» que estabelece: «a adesão a princípios espirituais, a fidelidade à religião que os exprime e a aceitação dos deveres deles decorrentes». Já em 1908, o fundador do escutismo, a pesar de cristão, não quis limitar o conceito de Deus, de tal forma que este se aplica às religiões monoteístas, mas igualmente às que não são monoteístas, como por exemplo a hinduísmo, ou às religiões/filosofias não teístas, tal como o budismo. No livro fundador, Escutismo para Rapazes, Baden-Powell escreve: «O homem de pouco vale, se não acreditar em Deus e obedecer às suas leis. Por isso, todo o escuteiro deve ter uma religião.» (p.256, 3ª edição, 1968) ou no livro Auxiliar do Chefe-Escuta, publicado em 1920: «Podem surgir muitas dificuldades sobre a definição do ensino religioso no Escutismo, onde existem tantas confissões diferentes, e os pormenores da expressão dos deveres para com Deus têm, por isso, de ficar em grande parte ao arbítrio da autoridade local. Mas insistimos na observância e na prática da religião professada pelo jovem, qualquer que ela seja.» (p.160, 6ª edição, 2011).

O segundo Princípio «dever para com os outros», onde juntam duas ideias-chave:
a) «A lealdade para com o seu país, na perspetiva da promoção da paz, da compreensão e da cooperação no plano local, nacional e internacional.»
b) «A participação no desenvolvimento da sociedade, no respeito pela dignidade da humanidade e da integridade da natureza.»

No parágrafo “a)” sobrai o facto da lealdade para com o seu país ser a base para a promoção da paz, da compreensão e da cooperação na comunidade local, nacional e internacional, banindo deste conceito toda e qualquer mesquinhez, motivadora de querelas e invejas, destruidora dos verdadeiros esforços de cooperação. A promoção da paz assenta sobre o respeito do ser humano, como um todo, sem distinção pelas caraterísticas de cada um. Baden-Powell entende que as questões da compreensão, da cooperação e da promoção da paz dependem essencialmente da educação, como vimos na última crónica. Neste sentido, há que banir os velhos conceitos mesquinhos e chauvinistas, e substituí-los por novos conceitos, marcados pela amizade, pela assunção do “ser par” e pela construção do “bem comum”, dando cada vez mais sentido ao lema construir um mundo melhor.
O parágrafo “b)” está intimamente ligado ao subtítulo do livro fundador – “Manual de Educação Cívica pela Vida ao Ar Livre”, que liga umbilicalmente a educação para a cidadania, a vida e a natureza. A natureza permite o melhor quadro de referências à edição para a cooperação, respeito e desenvolvimento, pois ela é, naturalmente harmoniosa. Aqui se aprende que o bem encerra uma dimensão global e que qualquer interferência desapropriada atinge o seu equilíbrio. Ao aprendermos a viver neste equilíbrio, potenciamos um desenvolvimento harmonioso de cada ser humano, das sociedades, em que se integra, e da natureza, onde vive. Para além disto, o escutismo sempre deu uma especial importância à promoção da fraternidade, da compreensão e da cooperação entre os jovens de todas as nações. Desta forma, estamos a trilhar caminhos de compreensão e de colaboração, tornando-nos construtores de paz.

O terceiro Princípio «dever para consigo mesmo», que visa: «A responsabilidade do seu próprio desenvolvimento». Baden-Powell diz-nos, no livro que dedicou aos adultos, Auxiliar do Chefe-Escuta: «O Escutismo é um jogo de jovens, sob a direção deles mesmos, em que os irmãos mais velhos podem oferecer aos mais novos um ambiente saudável e encorajá-los a praticar atividades saudáveis, que os ajudarão a desenvolver o civismo» (p. 31).
Desta forma, resulta claro que o jovem é o protagonista do seu próprio desenvolvimento, é ele, em conjunto com os seus pares, que propõem, programam, executam e avaliam as suas atividades/projetos e o progresso individual e coletivo da equipa e da unidade.
Ao adulto, compete-lhe acompanhar, sugerir pistas de enriquecimento do projeto, caminhar ao seu lado e ser exemplo, sem me permitirem a comparação, o adulto é como o “Anjo da Guarda”, que, sem o vermos, sempre nos acompanha e guarda.


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