O Movimento Escutista Mundial (I)
artigo publicado a 23 de outubro 2020 no jornal diário "Correio do Minho"
Na última crónica apresentei, com
recurso à constituição do movimento escutista mundial, mais especificamente aos
três artigos do primeiro capítulo intitulado sob a designação de “O Movimento
Escutista”. Nesta, e nas próximas crónicas, procurarei colocar o enfoque em
cada um dos aspetos identitários deste movimento.
Assim, ao focarmos o número um do artigo
primeiro onde se define que «O Movimento escutista é um movimento educativo para
os jovens, baseado no voluntariado; é um movimento de carácter não político,
aberto a todos sem distinção de origem, de raça ou de credo, em conformidade
com as finalidades, princípios e método tal como concebidos pelo Fundador e
abaixo formulados» gostaria de chamar a vossa atenção para algumas
palavras-chave e para o seu valor, neste contexto.
Desde logo para “movimento” que nos leva
ao conceito de um dinamismo na ação, materializado em séries de atividades
organizadas visando um, ou mais objetivos. Um movimento implica, desta forma,
um objetivo a atingir e uma certa organização/estrutura que permita a sua
consecução.
O facto do escutismo ser fundado sobre o
“voluntariado” dá um relevo especial ao conceito de liberdade, uma vez que os
seus membros aderem livremente e se comprometem com os seus princípios
fundamentais constituindo os marcos do caminho de cada um, sendo que «o caminho são as tuas pegadas» (A. Marques
1992).
Na sua qualidade de movimento educativo,
o escutismo assume-se como um movimento “não político”, no sentido que se situa
num estádio diferente dos movimentos ou partidos políticos, pois não se implica
na luta pelo poder, que constitui o ponto central da atividade política. Esta
caraterística - “não político”, estando inscrita na constituição do movimento
escutista mundial, constitui uma das caraterísticas fundamentais do escutismo.
Isto não significa que o escutismo se isole relativamente às realidades
políticas de um país ou de uma comunidade. Em primeiro lugar, porque sendo um
movimento cuja finalidade é ajudar os jovens a tornarem-se cidadãos
responsáveis, esta educação cívica não pode ser materializada sem uma tomada de
consciência das realidades políticas de um país ou de uma comunidade. Em segundo
lugar, porque sendo fundado sobre um certo número de princípios estes
influenciam, naturalmente, todas as escolhas dos membros do movimento, tal como
nos recorda Paulo Freire: «A educação é
um ato político. Não há prática educativa indiferente a valores».
O escutismo ao assumir que é um
movimento “educativo”, vê nesta sua caraterística a mais importante de todas, por
isso, o próprio fundador no seu livro “Auxiliar do Chefe-Escuta” (p.48) nos
alerta: «aqui encontramos o fim mais
importante na formação do escuta – educar; não instruir, reparem bem, mas
educar, isto é, levar o jovem a aprender por si, espontaneamente, aquelas as
coisas que tendem a formar o seu próprio caráter».
A educação, no sentido mais lato do
termo, pode ser definida como um processo visando a realização plena das
capacidades do ser humano. É, portanto, necessário distinguir claramente o
escutismo de todo o movimento puramente recreativo, imagem que o escutismo
tende a apresentar, em certas partes do mundo e em certas unidades. A pesar das
atividades lúdicas terem uma importância significativa na pedagogia escutista,
não podemos confundir a árvore com a floresta, isto é, elas são um meio para se
atingir um fim, não se podendo transformá-las, nunca, num fim.
Associamos, normalmente, a palavra “educação”
ao sistema escolar que, todavia, e cada vez mais, representa apenas uma forma
de educar. Segundo a UNESCO, podemos distinguir três conceitos de educação, que
não são estanques entre si: educação formal, educação informal e educação não
formal.
O escutismo integra-se, naturalmente, na
“educação não formal”, uma vez que se desenvolve fora do quadro do sistema
educativo formal e informal, sendo uma instituição autónoma e organizada, tendo
uma finalidade educativa e destinando-se a um “público-alvo”.
O escutismo dirige-se a crianças e
jovens, é um movimento destes e para estes, no seio do qual o papel dos adultos
consiste em proporcionar-lhes os instrumentos e os conteúdos para a consecução
das finalidades do escutismo, levando crianças e jovens a serem protagonistas
da sua própria educação.
O escutismo é um movimento aberto a
todos, sem distinção de origem, raça, classes ou credos. Assim, um dos
preceitos fundamentais do movimento é o princípio da “não descriminação”, na
condição que a pessoa adira, de seu pleno desejo, às finalidades, princípios e
método do movimento escutista, onde deverá ter várias opções de escolha.
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