sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O Movimento Escutista Mundial (I)

O Movimento Escutista Mundial (I)

por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 23 de outubro 2020 no jornal diário "Correio do Minho"


Na última crónica apresentei, com recurso à constituição do movimento escutista mundial, mais especificamente aos três artigos do primeiro capítulo intitulado sob a designação de “O Movimento Escutista”. Nesta, e nas próximas crónicas, procurarei colocar o enfoque em cada um dos aspetos identitários deste movimento.

Assim, ao focarmos o número um do artigo primeiro onde se define que «O Movimento escutista é um movimento educativo para os jovens, baseado no voluntariado; é um movimento de carácter não político, aberto a todos sem distinção de origem, de raça ou de credo, em conformidade com as finalidades, princípios e método tal como concebidos pelo Fundador e abaixo formulados» gostaria de chamar a vossa atenção para algumas palavras-chave e para o seu valor, neste contexto.

Desde logo para “movimento” que nos leva ao conceito de um dinamismo na ação, materializado em séries de atividades organizadas visando um, ou mais objetivos. Um movimento implica, desta forma, um objetivo a atingir e uma certa organização/estrutura que permita a sua consecução.

O facto do escutismo ser fundado sobre o “voluntariado” dá um relevo especial ao conceito de liberdade, uma vez que os seus membros aderem livremente e se comprometem com os seus princípios fundamentais constituindo os marcos do caminho de cada um, sendo que «o caminho são as tuas pegadas» (A. Marques 1992).

Na sua qualidade de movimento educativo, o escutismo assume-se como um movimento “não político”, no sentido que se situa num estádio diferente dos movimentos ou partidos políticos, pois não se implica na luta pelo poder, que constitui o ponto central da atividade política. Esta caraterística - “não político”, estando inscrita na constituição do movimento escutista mundial, constitui uma das caraterísticas fundamentais do escutismo. Isto não significa que o escutismo se isole relativamente às realidades políticas de um país ou de uma comunidade. Em primeiro lugar, porque sendo um movimento cuja finalidade é ajudar os jovens a tornarem-se cidadãos responsáveis, esta educação cívica não pode ser materializada sem uma tomada de consciência das realidades políticas de um país ou de uma comunidade. Em segundo lugar, porque sendo fundado sobre um certo número de princípios estes influenciam, naturalmente, todas as escolhas dos membros do movimento, tal como nos recorda Paulo Freire: «A educação é um ato político. Não há prática educativa indiferente a valores».

O escutismo ao assumir que é um movimento “educativo”, vê nesta sua caraterística a mais importante de todas, por isso, o próprio fundador no seu livro “Auxiliar do Chefe-Escuta” (p.48) nos alerta: «aqui encontramos o fim mais importante na formação do escuta – educar; não instruir, reparem bem, mas educar, isto é, levar o jovem a aprender por si, espontaneamente, aquelas as coisas que tendem a formar o seu próprio caráter».

A educação, no sentido mais lato do termo, pode ser definida como um processo visando a realização plena das capacidades do ser humano. É, portanto, necessário distinguir claramente o escutismo de todo o movimento puramente recreativo, imagem que o escutismo tende a apresentar, em certas partes do mundo e em certas unidades. A pesar das atividades lúdicas terem uma importância significativa na pedagogia escutista, não podemos confundir a árvore com a floresta, isto é, elas são um meio para se atingir um fim, não se podendo transformá-las, nunca, num fim.

Associamos, normalmente, a palavra “educação” ao sistema escolar que, todavia, e cada vez mais, representa apenas uma forma de educar. Segundo a UNESCO, podemos distinguir três conceitos de educação, que não são estanques entre si: educação formal, educação informal e educação não formal.

O escutismo integra-se, naturalmente, na “educação não formal”, uma vez que se desenvolve fora do quadro do sistema educativo formal e informal, sendo uma instituição autónoma e organizada, tendo uma finalidade educativa e destinando-se a um “público-alvo”.

O escutismo dirige-se a crianças e jovens, é um movimento destes e para estes, no seio do qual o papel dos adultos consiste em proporcionar-lhes os instrumentos e os conteúdos para a consecução das finalidades do escutismo, levando crianças e jovens a serem protagonistas da sua própria educação.

O escutismo é um movimento aberto a todos, sem distinção de origem, raça, classes ou credos. Assim, um dos preceitos fundamentais do movimento é o princípio da “não descriminação”, na condição que a pessoa adira, de seu pleno desejo, às finalidades, princípios e método do movimento escutista, onde deverá ter várias opções de escolha. 


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