Coeducação no Escutismo: atualidade
Dia
8 de março celebra-se o Dia da Mulher. Sabendo-se que, mesmo nas sociedades
ditas desenvolvidas, ainda há sinais claros de discriminação negativa das
mulheres, faz todo o sentido que este dia continue a ser comemorado, quanto
mais não seja para uma tomada de consciência sobre o trabalho que continua por
fazer. Em 2015, em sociedades como a portuguesa, as mulheres ainda têm menor
acesso a alguns tipos de emprego, ainda ganham em média menos do que os homens,
ainda estão pouco representadas em estruturas de liderança.
No
escutismo, a educação conjunta de rapazes e raparigas não foi inovadora e
acompanhou, essencialmente, os movimentos da sociedade. Em 1907, Baden-Powell
criou o escutismo apenas para rapazes e, apenas alguns anos mais tarde, por mão
da sua esposa, foi criado o guidismo, exclusivo para raparigas. O que se
esperava de rapazes e raparigas era diferente e, por isso, os percursos
educativos tinham de ser diferenciados. Em Portugal, apenas nos anos 70 se deu
a abertura do escutismo a raparigas, sendo o acesso a mulheres até essa altura
restrito àquelas que quisessem exercer funções como chefes de lobitos
(assumindo-se que a chefia de lobitos era uma espécie de prestação de cuidados
a crianças e não uma verdadeira função educativa). Desde essa altura,
generalizou-se o acesso de rapazes e raparigas ao escutismo, sem qualquer
diferenciação nos papéis e perfis, mas sempre explicitando-se, na formação dos
adultos, a importância de assumir a consciência da coeducação.
Estranha-se,
por vezes, que o tema da coeducação ainda seja abordado na formação de
dirigentes no CNE e o Dia da Mulher é talvez um bom contexto para referir a
atualidade deste tema. Educar rapazes e raparigas em conjunto implica saber o
que se está a fazer e não cair na tentação de tornar igual o que é diferente ou
de ignorar o contexto social que é imposto. Comecemos por este segundo aspeto.
Os
jovens hoje são bombardeados com um único modelo de relação possível entre
sexos: o sexo oposto serve para namorar, numa perspetiva de namoro que
significa ter relações sexuais. Este modelo único é apresentado em séries de
televisão, em filmes, em conversas e até na histeria coletiva com que se
celebra o dia de São Valentim logo nos jardins de infância. Parece que é
impossível desenvolver relações de afeto e amizade saudáveis. O escutismo
oferece um palco ideal para a vivência de relações radicalmente alternativas,
para a imposição de modelos relacionais diferentes. É preciso que os jovens
contactem com significados diferentes da palavra “amor”, que percebam que a
palavra “amor”, no projeto cristão, tem uma aceção muito mais rica do que a que
é imposta no folhetim telenovelesco em que alguns querem transformar a
sociedade atual. Mas isto tem de ser explicitado junto de adultos e jovens e,
para isso, é preciso falar abertamente sobre este tema.
Os
homens e as mulheres têm diferenças. Há diferenças físicas, há ritmos
diferentes de desenvolvimento e formas diferentes de estar e sentir. Alguns
aspetos podem ser culturais, mas há muitos aspetos biológicos. Crescer com o
outro é conhecer as suas diferenças e respeitá-las. Quem cresce numa vida em
campo, em que se come à mesma mesa, se partilham espaços e jogos, tem de
perceber com quem faz essa partilha. Educar para a vida em conjunto é
fundamental para que o respeito seja uma regra inabalável. Estamos convictos de
que uma geração que é criada a respeitar o outro sexo estará mais apta a criar
uma sociedade mais justa, em que o outro sexo está apto a aceder às mesmas
funções, aos mesmos vencimentos, às mesmas lideranças, com respeito pelas
diferenças. Aos 12 anos, a rapariga não precisa de se comportar como um rapaz
para ser guia de patrulha e ser reconhecida como tal pelos rapazes. Aos 40, não
precisará de se portar como homem para ser CEO de uma empresa.
Isto
é possível por praticarmos escutismo cristão, numa religião que, quando tal era
socialmente impensável, colocou uma mulher no centro, como modelo de vida e
como fonte de inspiração para homens e mulheres. Ela foi e é exemplo de
maternidade e liderança. É, portanto, atual e, com Ela, podemos desejar a todas
um feliz Dia da Mulher.
João
Costa
(Chefe
Regional de Setúbal)
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