“A Espiritualidade no Escutismo"
por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 22 de dezembro 2023 no jornal diário "Correio do Minho"
artigo publicado a 22 de dezembro 2023 no jornal diário "Correio do Minho"
Esta crónica surge pela curiosidade de uma jovem universitária, que me abordou com duas perguntas: 1ª – “como vê a espiritualidade no CNE?” e “se nos dias de hoje a espiritualidade ainda está presente neste movimento”. Foi esta curiosidade, no sentido querer saber, que me levou à presente reflexão, que, com a devida autorização da Catarina, vou partilhar com os leitores do Correio do Minho.
Antes de mais contextualizar que Baden-Powell criou, em 1907, o Escutismo (para Rapazes) e, em 1909, (para Raparigas), sob a designação de Guidismo.
O seu livro “Escutismo para Rapazes”, que ainda hoje é base do Escutismo, tem, curiosamente, como subtítulo: “Manual de Educação Cívica pela Vida ao Ar Livre”, nele Baden-Powell escreve: «O homem de pouco vale, se não acreditar em Deus e obedecer às suas leis. Por isso todo o escuteiro deve ter uma religião».
Hoje, a Constituição Mundial da Organização Escutista define:
No ponto 1, do seu primeiro artigo define que «O Movimento escutista é um movimento educativo para os jovens, baseado no voluntariado; é um movimento de carácter não político, aberto a todos sem distinção de origem, de raça ou de credo, em conformidade com as finalidades, princípios e método tal como concebidos pelo Fundador (...).»
No 2º artigo da Constituição Mundial do Escutismo, define, no ponto 1, que o Movimento está assente em três Princípios fundamentais sendo o primeiro: «o dever para com Deus» e estabelece que: «a adesão a princípios espirituais, a fidelidade à religião que os exprime e a aceitação dos deveres deles decorrentes», a todos vinculam.
Em 1908, o fundador do escutismo, a pesar de cristão, não quis delimitar o conceito de Deus, de tal forma que este se aplica a todas as religiões monoteístas, mas igualmente às que não são monoteístas ou ainda às religiões/filosofias não teístas.
Por isso, no livro “Auxiliar do Chefe-Escuta”, publicado em 1920, o fundador escreve: «Podem surgir muitas dificuldades sobre a definição do ensino religioso no Escutismo, onde existem tantas confissões diferentes, (...) Mas insistimos na observância e na prática da religião professada pelo jovem, qualquer que ela seja.» (p.160, 6ª edição, 2011).
Não fora esta postura de abertura, de certa forma um ecumenismo “avant la lettre” e, hoje, seria provavelmente impensável um Movimento Escutista Mundial, tal como o conhecemos, caracterizado, quanto à sua presença no mundo, em dois documentos disponibilizados pelo Bureau Mundial de Escutismo: “Current WOSM Members.xlsx” e “Around the World.xlsx”, na sua página oficial: https://directory.scout.org/contacts, dá-nos conta que há:
• 228 associações ou federações escutistas,
Localizadas em:
• 174 países,
• 18 pequenos países ou protetorados e
• 38 territórios integrados em alguns dos 174 países referenciados,
Há ainda:
• 13 países que poderão vir a ser reconhecidos como membros da família escutista,
• 1 país que não tem escutismo, mas há contactos oficiais permanentes (entre a Organização Mundial do Escutismo e estado do Vaticano),
• 5 países onde não há escutismo, nem previsões de vir a haver.
Com esta diversidade o escutismo no mundo acolhe diversas espiritualidades, desde as mais ligadas às diversas religiões, até às novas “espiritualidades laicas” que, muitas vezes significam um distanciamento das religiões, que alguns autores designam como a espiritualidade “Nova Era” ou “New Age”.
Relativamente a Portugal e à associação na qual me integro, o Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português, a “Espiritualidade de inspiração Cristã” está presente através um percurso proposto a crianças e jovens: “O Caminho do Homem Novo”, que, de forma muito sumária pode ser apresentado da seguinte forma:
• os Lobitos (crianças dos 6 aos 10 anos), na etapa “O louvor ao Criador”, são desafiados a louvar Deus-Criador, descobrindo-O em tudo o que O rodeia;
• os Exploradores (pré-adolescentes dos 10 aos 14 anos), na etapa “A descoberta da Terra Prometida”, são desafiados a aceitar a Aliança que conduz à descoberta da Terra Prometida;
• os Pioneiros (adolescentes dos 14 aos 18 anos), são desafiados a assumir o seu papel na construção da Igreja de Cristo;
• os Caminheiros (jovens adultos dos 18 aos 22 anos) são desafiados a viver a vida do Homem Novo, vivendo cristãmente todas as dimensões do seu ser.
Finalmente, no CNE olhamos para as crianças e os jovens que nos são confiadas de forma integral, onde todas as 6 áreas de desenvolvimento (Físico, Afetivo, Caráter, Espiritual, Intelectual e Social) têm que ser desenvolvidas no seu conjunto e em simultâneo, sem a exclusão nenhuma delas.
P.S.: Nesta quadra natalícia, e dentro da espiritualidade de cada um, não posso deixar de apresentar votos de um Santo Natal e Feliz Ano Novo, à equipa do Correio do Minho e aos seus estimados leitores.
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