terça-feira, 7 de junho de 2022

A Fundação do CNE: Dom Manuel Vieira de Matos

por: Carlos Alberto Lopes Pereira

artigo publicado a 27 de maio 2022 no jornal diário "Correio do Minho"


Sou de opinião que, muito dificilmente, se conhece a obra sem conhecer o seu autor. Alguém escreveu um dia, nas comemorações do 30º aniversário: «o Corpo Nacional de Escutas é um organismo vivo», por isso mesmo, o seu autor é uma entidade coletiva. Mas há que reconhecer que, entre todos os inumeráveis escuteiros de todas as idades e condições, um deles se destaca Dom Manuel Vieira de Matos a quem se deve a criação do Escutismo Católico, nos idos anos de 1922 e 1923.

Neste sentido, partilharei com os leitores a personalidade deste homem e Pastor que nasceu em Poiares, concelho do Peso da Régua, à época Arquidiocese de Braga, no dia 22 de março de 1861 e faleceu em Braga, aos 71 anos de idade, no dia 28 de setembro de 1932.

Fez a instrução primária num colégio de Lamego, tendo ingressado no seminário da diocese de Braga para continuar a sua formação. Em 1882 concluí a sua formação teológica e, uma vez que a sua região fora, em 1991, incorporada na diocese de Lamego, passou lecionar no seminário de Lamego, mesmo antes da sua Ordenação. E em 1883, no dia 22 de setembro, foi ordenado sacerdote, pelo bispo de Lamego, Dom António Trindade de Melo.

Dois anos depois, começa a frequentar a Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra que concluiu em 1890. Tendo, no ano seguinte assumido o cargo de cónego da Sé de Viseu, de professor do Seminário desta diocese e de secretário particular do Bispo Dom José Dias Correia de Carvalho. Permaneceu nesta diocese durante nove anos tendo-se feito notar o seu cunho pessoal na catequese e formação cristã e em diversos movimentos de apostolado de ação social, além de ter fundado a “Revista Católica”.

Decorria o ano de 1899 quando o papa Leão XIII nomeou Manuel Vieira de Matos Arcebispo de Mitilene e Vigário Geral do Patriarcado de Lisboa, tendo sido ordenado bispo na Sé de Viseu, no dia 15 de Agosto desse mesmo ano, partindo de imediato para Lisboa, sendo o Cardeal Patriarca, Dom José Sebastião Neto.
Notabilizou-se sobretudo pelo trabalho que desenvolveu na Catequese e na Pastoral Operária, envolveu-se na criação da Associação Apostólica para o desenvolvimento das Catequeses, e na constituição do primeiro Círculo Católico de Operários em Lisboa.

Novamente por decisão do Papa Leão XIII, é nomeado, em abril de 1903, para a diocese da Guarda com o título de Arcebispo-bispo. Entrou na diocese no dia 4 de junho desse ano e na Sé da Guarda, nesse dia, apresenta o seu plano da ação: Seminários – formação de cooperador -; Escola – Catequese; Oficina – Pastoral Operária. Este plano foi, imediatamente, colocado em prática sob a sua supervisão.
Ainda em 1903 fundou o Círculo Católico de Operários da Guarda e em maio do ano seguinte funda o boletim diocesano “A Guarda” como forma de levar a mensagem da Igreja a toda a diocese e de impedir o silenciamento. Em 1905 promove e realiza o Congresso de Catequese e funda diversos círculos de operários católicos e em 1908 realiza, na Covilhã, o Congresso de Agremiações Católicas Populares.

Uma personalidade tão forte e com convicções tão profundas, nos tempos da Primeira República dificilmente deixaria de chocar sobretudo com Afonso Costa, o Ministro da Justiça e a personalidade forte do governo, quando as questões da Religião, veja-se da Igreja Católica, foi perseguido, sequestrado, preso e desterrado, como nos conta Jorge Fernandes no seu livro D. Manuel Vieira de Matos, Pai da Diocese de Vila Real(1): «Sequestrado no Paço Episcopal, esteve incomunicável durante treze dias em Junho de 1911; desterrado do distrito da Guarda em Novembro do mesmo ano e em Dezembro do distrito de Castelo Branco, cumpriu dois anos de desterro com todos os seus colegas do Episcopado; várias vezes preso, dias seguidos incomunicável e com a guarda à vista, na Guarda e em Lisboa (1914); levado, sob várias acusações, a julgamento em Tribunal por duas vezes (1912 e 1914), só lhe faltou a crucifixão».

Nota (1): Um agradecimento ao Chefe de Agrupamento de Valpaços, António Escudeiro, que teve a gentileza de me enviar este magnífico livro, editado pela Câmara Municipal de Valpaços, em Abril de 2022.



Sem comentários: