sexta-feira, 21 de maio de 2021

Manual do Escoteiro Escolar

“Manual do Escoteiro Escolar”

por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 21 de maio 2021 no jornal diário "Correio do Minho"


Hoje, em Portugal, há três associações escutistas oficialmente reconhecidas pelas Organizações Mundiais do Escutismo e do Guidismo: a AEP-Associação dos Escoteiros de Portugal – fundada em Lisboa, no dia 6 de setembro de 1913, o CNE-Corpo Nacional de Escutas – findado em Braga, no dia 27 de maio de 1923 (estas duas associações constituem a Federação Escutista de Portugal) e a AGP-Associação Guias de Portugas – fundada na Madeira em 1931, sendo os estatutos aprovados em Lisboa no ano de 1934. Contudo há uma associação, a AGEEP-Associação das Guias e Escuteiros da Europa-Portugal – fundada, em Portugal, em 8 de junho de 1979, que, não sendo reconhecida pelas Organizações Mundiais do Escutismo e do Guidismo, se integra na União Internacional das Guias e Escuteiros da Europa – Federação do Escutismo Europeu que é uma Associação Privada Internacional de Direito Pontifício.

Quando falamos do início do Movimento Escutista ou Guidista em Portugal não devemos esquecer a UAP-União dos Adueiros de Portugal, fundada no Porto, no dia 10 de março de 1914, mas que terá sido dissolvida no dia 30 de abril de 1934[1]. Porque um dos seus fundadores, Artur Barros Basto, era judeu e foi mesmo um dos iniciadores da construção da sinagoga do Porto, há uma tendência para considerar que os Adueiros eram de inspiração hebraica, embora, aquando da fundação dos escuteiros católicos, a UAP tenha apresentado uma proposta à igreja bracarense para que fosse formada, com eles, uma associação denominada Liga do Scouting Católico Português, esta tese não foi aceite pelos fundadores do CNE[2].

Normalmente ficamos por aqui quando falamos das iniciativas pioneiras, mas em 1925, dois anos antes da fundação do CNE, o professor do primeiro ciclo, como dizemos hoje, António Augusto Martins, publica, em 1925, na Livraria Escolar «PROGREDIOR», no Porto, um livro intitulado Manual do Escoteiro Escolar.

O autor identifica, à época duas associações oficialmente reconhecidas pelo Estado: a União dos Adueiros de Portugal e a Associação dos Escoteiros de Portugal e afirma: “A primeira, mais numerosa e a que tem «grupos» escolares, tem a sua sede no Pôrto; a sede da segunda é em Lisbôa.” (pág. 4) Relembro que o Grupo número três da AEP foi criado no Liceu Pedro Nunes, pelo próprio reitor do liceu, Sá Oliveira[3].

António Augusto Martins continua, na página 6: “Então que diferença há entre as duas [UAP e AEP]? Apenas esta: A primeira aportuguesou os «princípios» e a segunda inglesou o «meio».

Então para qual nos devemos inclinar, nós, os professores primários?!

Pela circular n.º 15, de 22 de Novembro de 1923, o ex-director geral sr. dr. João de Barros não nos dá direito de escolha; determina que nos entendamos com a «Associação»

Eu, depois de ano e meio de prática em assuntos de «adueiros» e avaliando por êles os «escoteiros», entendo que não devemos associar-nos a nenhuma das organizações.

O autor apresenta a seguinte conclusão, na página 7: “Assim, nós devemos iniciar as crianças nos princípios de «Baden Powell» em «organizações escoteiras» puramente escolares, deixando ao aluno o direito de ingressar, mais tarde na «União» ou «Associação».

Enquanto o Estado as não unifique e estatúa, devemos-lhes nós a orientação administrativa que entendermos, e a escoteira que passo a expôr resumidamente.

Ao longo de 39 páginas, o autor expõe o seu programa para o Escotismo Escolar, programa muito inspirado no Livro de Baden-Powell, “Escutismo para Rapazes” e semelhante aos programas das associações escutistas existentes, à época, na Europa e em Portugal.

Na nota que deixa aos seus amigos (página 47) podemos ler: “Nada criei. Apenas joeirei de alguns manuais estrangeiros aquilo que me pareceu aplicável ao escotismo escolar que tem de ser, pela força das circunstâncias, independentemente moldado dentro de certos limites.”

Apesar da qualidade da proposta deste professor, ela não fez caminho no nosso sistema de ensino, embora este caminho, ainda hoje seja percorrido em alguns países.



[1] Pedrosa, David, in Um Raide de 70 anos. Região do Porto – história do escutismo de uma cidade pioneira no movimento nacional, CNE, Junta Regional do Porto, 1998, p. 21.

   Dias, Francisco Pessoa Sousa Dias, in O Corpo Nacional de Escutas (documento datilografado de 78 páginas A4) data a sua extinção no ano de 1935.

[2] Reis, João Vasco, in CNE uma História de Factos (Subsídios), CNE, Lisboa, 2007, p.82.

[3] Ibidem, p. 70. 

 

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