sexta-feira, 27 de março de 2020

A Nossa Gratidão...

A Nossa Gratidão

por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 27 de março 2020 no jornal diário "Correio do Minho"


 Na última crónica, deu-se conta das medidas que o Corpo Nacional de Escutas tomou, em sintonia com as autoridades de saúde, dando, desta forma, o seu contributo na luta à pandemia que a todos aflige.
Um dos elementos constituintes do Método Escutista é o “Sistema de Patrulhas”, ou seja, a dinâmica da vida em pequenos grupos, onde se desenvolvem as aprendizagens do “jogo social espontâneo”. Neste sistema, cada um dos elementos tem uma função, assumindo-se como um dos diversos membros de um só corpo, assim, sempre que um deles manifesta dificuldades, os outros ajudam-no para que o corpo (isto é, todos eles e cada um deles) não venha a ressentir-se.

Nestes dias de receios, o escutismo assume que o seu grande desígnio de cidadania é proteger aqueles (crianças e jovens) que lhe são confiados. Este propósito, não se confina ao “comodismo egoísta” de pensar unicamente em si, bem pelo contrário, ele assenta naquele que é um dos mais repetidos e atuais apelos – que cada um de nós não assuma comportamentos de risco, que levarão à expansão da pandemia – fazemo-lo para que os serviços de saúde não sejam sobrecarregados pela consequências de comportamentos que, nestes tempos de crise, são socialmente desadequados, procurando, desta forma, promover uma gestão que evite o risco desnecessário.

Contudo, para que o isolamento, voluntário ou obrigatório, possa ser menos “doloroso”, sobretudo nas crianças e jovens – onde a energia abunda -, tem que ser garantido, tanto a montante como a jusante, um conjunto de ações que visem o bem-estar das pessoas, respondendo às necessidades básicas como, a alimentação, a higienização, segurança e saúde.
Por isso, a nossa gratidão tem como destinatários todos os que diariamente, de dia e de noite, se empenham no bem-estar de todos, sacrificando-se a eles próprios e às suas famílias.

No primeiro grupo, incluem-se todos os que contribuem para que na “nossa mesa não falte o pão”, desde o agricultor que lança a semente à terra até aos que dão vida aos sistemas de distribuição dos bens alimentares, da água, da eletricidade e de outros bens essenciais. No segundo grupo, aqueles que procedem à higienização dos espaços públicos e à recolha dos lixos. No terceiro grupo, os que garantem a segurança, de pessoas e bens, e ainda o cumprimento das medidas preventivas aprovadas. Finalmente, o grupo dos farmacêuticos, que asseguram o acesso aos medicamentos e produtos afins, e dos cuidadores, incluindo desde os que transportam os doentes aos que deles cuidam em lares, centros de saúde ou hospitais, e aqui lembrar que enfermeiros e médicos são “a última fronteira” entre “o viver” e “o partir”, são a nossa última esperança…

Sem dúvida alguma, todos eles formam uma plêiade digna de ser incluída na proposição de “Os Lusíadas”, do genial Luís de Camões: «E aqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da Morte libertando» e ainda: «Que eu canto o peito lustre Lusitano». Sobretudo porque sabemos que, em casa, todos têm família que precisa dos seus cuidados e atenção, como também sabemos que nem sempre têm as melhores condições, por vezes até, nem as necessárias e suficientes, para o exercício das suas atividades profissionais. Para com todos eles temos esta dívida de gratidão, por não terem optado pelo caminho mais fácil, mas por terem escolhido o caminho mais trabalhoso e perigoso – o do Serviço ao próximo.

Quanto a nós, resta-nos seguir, sem hesitar, as recomendações das autoridades competentes. Será a maneira de contribuirmos para a nossa segurança, mas também para a segurança dos outros e, de um modo especial, para a de todos os profissionais de saúde a quem nunca será demais agradecer a dedicação, competência, responsabilidade e abnegação que demonstram, nesta luta desigual, pela nossa proteção, contra a Covide-19, mesmo colocando-se permanentemente em perigo. Finalmente, podemos ainda pedir que Deus os proteja, a eles, que são os nossos “anjos da guarda”, mas também às suas famílias.

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