sexta-feira, 29 de setembro de 2017

As eleições e os escuteiros: Participação: sim ou não?


Joaquim Freitas - CN-Adj. CNE
Este tema daria, certamente, para grandes discussões e muitas, muitas páginas.
Sem ser simplista, optarei por uma abordagem simples da questão, que dividirei em 3 pontos:
1 - Do ponto de vista do posicionamento do CNE o assunto é pouco dado a grandes interpretações:
Diz-nos o ponto 2 do artigo 2.º do Regulamento Geral do CNE que “O CNE, integrado no Movimento Escutista, tem por finalidade a educação integral dos jovens, contribuindo para o desenvolvimento do seu carácter e ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais, afetivas e espirituais, como pessoas, cristãos e cidadãos responsáveis e membros das comunidades onde se inserem.”
E é clara nos pontos 1 a 4 do artigo 8º do mesmo regulamento a não identificação político-partidária da nossa Associação.
Ora, as regras são, na minha interpretação, claras: A participação, no que à especificidade política e político-partidária diz respeito, não pode vincular a associação nem esta condição pode ser utilizada por qualquer associado para esses efeitos.
2 - Mas podem e devem os dirigentes do CNE participar?
Conto-vos a minha história: entrei para o CNE com 7 anos. Fui lobito, explorador, pioneiro e caminheiro. Fiz a minha promessa de dirigente em 2007. Em todo o meu percurso fui incentivado a assumir responsabilidades, a intervir na unidade, no agrupamento e na comunidade. Pediram-me ideias e projetos de serviço para aqueles que me rodeiam. Educaram-me para ser a diferença que sonho para o mundo.
Daí, fui tesoureiro da Junta de Freguesia da minha terra, deputado municipal, participei em outras organizações, eventos e atividades de caráter político. E sempre assumi para mim mesmo que este era um outro meio para realizar a missão, para cumprir a minha promessa, para deixar o mundo melhor do que o encontrei.
Ora, se assumirmos que nos mantemos escuteiros depois de despirmos o uniforme e se acreditamos que os valores se mantêm na nossa vida para lá dos momentos em que temos o lenço ao pescoço, então os escuteiros estão particularmente bem preparados para serem ativos fundamentais na gestão da coisa pública, tão envolvidos quanto possível em todas as dinâmicas que dizem respeito às suas comunidades. Eleições incluídas.
Há riscos? Claro! Sobretudo se faltar o 3º ponto na nossa atuação:
3 - O bom senso e a responsabilidade da educação através do exemplo.
É aqui, na minha opinião, que deve residir o cerne da nossa atuação:
O bom senso de percebermos quando estamos a violar o regulamento (e estarmos preparados para não o fazer em nenhuma circunstância);
A capacidade de avaliar se a nossa participação é, de facto, serviço à comunidade ou se serve outro qualquer interesse (e estarmos preparados para garantir que respeitamos sempre a nossa Promessa de Escuteiros);
A responsabilidade de sermos, seja em que circunstância da nossa vida for, educadores do Corpo Nacional de Escutas e de o fazermos, acima de tudo e antes de mais, com base no exemplo de damos.
E se assim for, que sejamos muitos a participar e que seja a democracia a decidir, pelo voto do povo, o resultado dessa participação, vivendo e dando testemunho dos nossos valores e servindo a democracia e as pessoas a partir dessa base.
Impele-nos ainda a Doutrina Social da Igreja e elucidam-nos as palavras do nosso Papa Francisco quando diz que «Devemos implicar-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum».
E assim estaremos a prestar um serviço à comunidade, ao CNE e ao nosso país.
Porque políticos somos todos, dentro e fora do CNE, pelas presenças e pelas ausências, pelas palavras e pelos silêncios, pela ação e pela inação.
Participemos então, não na condição de escuteiros, mas com os valores que no escutismo nos propomos.

In: Revista Flor de lis setembro 2017