quinta-feira, 18 de abril de 2024

Ajuda-nos a ver. Homilia de D. José Cordeiro, por ocasião do funeral da Gabriela.

Ajuda-nos a ver. Homilia de D. José Cordeiro, por ocasião do funeral da Gabriela.




Exéquias da Gabriela, 18 de abril de 2024

Eduardo Galeano, em O Livro dos Abraços, conta a história de Diego que, todos os dias, com insistência, pedia aos pais para ver pela primeira vez o mar. Um dia, cumprindo o pedido do filho, os pais levaram-no a ver o mar. Depois de muito caminharem, quando chegaram à praia, o mar estava diante dos seus olhos. O filho, colado à mãe e ao pai, pediu-lhes baixinho: pai, mãe, ajudem-me a ver! 
 
1. UMA FERIDA POR CICATRIZAR
A vida é insondável. Umas vezes, é uma maravilha que reconhecemos não merecer; outras é um inferno que nos ameaça e destrói. Hoje, congrega-nos o absurdo! Esta morte abre um abismo que engole o passado, assola o presente e devora o futuro. As lágrimas não se conseguem travar diante desta partida sem aviso. Choramos por cada memória, por cada abraço, por cada saudade. É uma ferida por cicatrizar. É um vazio que nunca se preenche. É uma ausência que continuará a doer-nos até ao fim!
A morte da pequena lobita Gabriela é a mais cruel de todas as provações. De um momento para o outro, a vida desabou, e arruinaram-se os sonhos e as expectativas, os projetos e as esperanças, os desejos e a vontade de os concretizar. Num dia, celebrávamos a tua promessa de lobita, acompanhávamos as caçadas da tua alcateia e o significado que ias dando ao Livro da Selva; no outro, assistimos à tua trágica partida. 
Na verdade, a Gabriela partiu, mas não estou certo de que tenha morrido, porque o que nos deixou é vida, sede e fome de fazer. A Gabriela é um convite à celebração da vida, mesmo quando a vida é brutal e nos esmaga o entendimento; ela ficará como um ícone da juventude, da beleza, que nos faz, apesar de todas as monstruosidades, querer arriscar pelo caminho do bem.
 
 
2. UMA DOR SEM NOME 
Não conseguimos imaginar a dor de quem perde um filho. É o impossível a acontecer. É sempre impossível quando um pai ou uma mãe perdem um filho. Não há palavras para descrever a morte de um filho por nos ser impossível imaginá-las. Um filho pode perder os seus pais, e sabemos que existe uma palavra para o definir: órfão.Mas quando uma mãe ou um pai veem o seu filho partir, não há palavras para o expressar por nada existir para lá do inominável abismo e do horror absoluto. Como imaginar a dor daqueles que dizem, dia após dia, em refrão: está frio, leva o casaco; manda mensagem quando chegares; está mau tempo, toma cuidado; depois diz-me como correu; estás bem? eu avisei-te; o almoço está pronto; deixa-me ver isso; não quero que venhas tarde; não dormi enquanto não chegaste; parabéns; adoro-te
Hoje, abraçamos a vossa dor. Talvez esta dor - o revés de um parto - seja a que mais questiona a nossa fé. Se Deus é Amor, então porque é que Ele não a salvou? Se Jesus é realmente o Salvador do mundo, então onde é que Ele está neste momento tão angustiante? E o que diz Deus? Que partido toma? De que lado está? Porque é que não Se pronuncia? 
Quem sofre pela perda tem direito a estes gritos. Não são blasfémias. Aliás, podem ser autênticas orações. Deus, em Jesus Cristo, vem ao nosso encontro, sente as nossas dores e acompanha-nos amorosamente no nosso sofrimento. A Gabriela, a quem muito amamos, será transfigurada pelo amor que Deus é. Todos os dias devíamos rezar com ela, convocá-la para a nossa vida para não nos perdermos dela, pois ela nunca se perderá de nós. Como não recordar intensamente o seu riso, os seus gestos, a sua ternura, o seu rosto, as suas palavras e desejos? Deus é Deus dos vivos, não fez a morte (Sb 1, 13-15), e apenas quer que à morte não lhe seja dada a última palavra. 
Se Deus existe, e nós acreditamos que sim, a Gabriela está viva, porque aqueles que amamos são para sempre, e não há ausência que apague o Amor. Mais forte que a morte é o Amor. Se Deus existe, e nós acreditamos que sim, a Gabriela, de lenço amarelo ao peito, está viva nas alegrias que derramou em tantas vidas e na memória dos abraços que ninguém pode arrancar de nós. Se Ele existe, e nós acreditamos que sim, a Gabriela está viva nas imagens que dela guardamos no coração e no sorriso com que acolhemos tantas lembranças suas. Está viva porque, quando nós amamos, nós escolhemos que esse alguém fique connosco para sempre.
 
 
3. AJUDA-NOS A VER-TE
Hoje, pequena Gabriela, somos nós a pedir-te: ajuda-nos a ver! Gabriela, ajuda-nos a ver, através do horror da tua partida, os motivos para viver e a urgência de fazer com que a tua vida não morra. Ajuda-nos a ver a luz, e não a escuridão. Ajuda-nos a acreditar que a vida não se esgota neste caminho. Ajuda-nos a ver a esperança e a encontrar um sentido para a nossa própria história. Ajuda-nos a ver a ternura dos abraços, o afeto, a imaginação, o colo materno e paterno da confiança e a arte de recomeçar, tão própria das crianças. Ajuda-nos a ver aquilo que traz cada novo dia, quando ainda se derramam lágrimas pela tua partida. Ajuda-nos, pequena Gabriela, através do teu exemplo, a deixar o mundo um pouco melhor do que ele é, enquanto aqui estamos. 
A todos os que vivem esta dor, abraço-vos e agradeço-vos por serdes tanto; mesmo tendo perdido tudo, é tanto. 
 
+ José Manuel Cordeiro

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Folhinha interparoquial nº 9 de 15 a 21 de abril de 2024

Folhinha interparoquial nº 9 de 15 a 21 de abril de 2024

Paróquias de:
- Divino Salvador de Nogueiró.
- Santa Maria de Lamaçães
- S. Tiago de Fraião

domingo, 14 de abril de 2024

LUTO NACIONAL pelo falecimento da Lobita Gabriela Maia Teixeira Moreira.



 LUTO NACIONAL pelo falecimento da Lobita Gabriela Maia Teixeira Moreira.

Os Escuteiros de Nogueiró enviam sentidas condolências e um abraço forte de solidariedade a toda a família e amigos da Gabriela, bem como aos irmãos escutas do agrupamento 528, e ao Núcleo de Barcelos.
Que o Chefe Divino acolha a Gabriela no Acampamento Eterno.
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Extrato da OSN 763, de 30 de abril de 2024
1. DETERMINAÇÕES
Pelo falecimento da Lobita Gabriela Maia Teixeira Moreira, ao abrigo do artigo 9º, do Regulamento de Protocolo do CNE, a Junta Central, solidária com o Agrupamento 528 - Lijó, o Núcleo de Barcelos e a Região de Braga, decreta luto oficial nacional por um período de 7 dias, a contar do dia 14 de abril de 2024.
O luto manifesta-se institucionalmente, pelo hasteamento a meia-haste das bandeiras ou por uma banda de crepe preto a cobrir a parte superior de bandeiras quando estas se encontrem em mastros portáteis.
Individualmente, os associados, querendo, podem usar uma braçadeira estreita de crepe preto, colocada no braço esquerdo, sobre o uniforme, como forma de manifestação pessoal de luto seja este institucional ou pessoal.
Lisboa e Sede Nacional, 14 de abril de 2024
O Chefe Nacional
Ivo Faria

sábado, 13 de abril de 2024

O “Grito” do Patrono dos Caminheiros

O "Grito" do Patrono dos Caminheiros"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 12 de abril 2024 no jornal diário "Correio do Minho"


«Eu sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne. Pois o querer o bem está ao meu alcance, não porem o praticá-lo. Com efeito, não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero.»

Este “grito” de São Paulo, o Patrono dos caminheiros, alerta a nossa consciência de homens para o facto de transportarmos, na nossa própria carne, as consequências de luta permanente entre o “Bem” e o “Mal”, à qual dificilmente respondemos, com uma atitude reta e coerente, ao apelo amoroso de Deus, nos caminhos das nossas vidas.
Tal como Paulo, também nós, caminheiros e dirigentes, somos chamados a fazer ouvir a Sua voz, para que, com o testemunho dado, todos os outros possam responder a este apelo amoroso de Deus.
O Rover, designação específica do acampamento de caminheiros, deverá sempre refletir uma marca indelével nos seus participantes, tal como aquele encontro do Senhor com Saulo de Tarso, a caminho de Damasco: uma mudança profunda na vida dos membros desta “cidade de lona”.

Neste sentido, todos os caminheiros de um Rover serão Bem-Aventurados por emprestarem a sua voz a todos os que a perderam. Esta luta que dilacera o coração humano, na fronteira da liberdade e do dever, é tão profunda que o mesmo apóstolo chega a afirmar que cada homem é formado por dois: “O Homem Velho, levado pelo princípio do mal” e o “Homem Novo, levado pelo fermento da Páscoa de Cristo” (1 Cor 5, 7).
Que, nestes dias de peregrinos, por uma qualquer, ilha da Esperança, batizada com o nome do nosso Patrono Mundial, cada caminheiro saiba aproveitar os tempos de aprendizagem, de serviço e de partilha fraterna para libertar o seu “Homem Novo” tendo consciência que o protótipo do Homem Novo é Cristo, o Filho de Deus que, feito homem, desceu à terra e que o próprio se auto identificou como sendo “O Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6).
Pensemos no “grito” lançado bebé que nasce e que parece dizer à mãe: “olá, cheguei, cá estou vivinho! E no grito de Paulo que, quando atingido pelo raio de luz, caiu do cavalo e para ele foi o início de uma nova vida dedicada ao serviço do Senhor.

Ou o grito dos caminheiros quando se reencontram em campo não será ele sinal de alegria pelo reencontro de velhos amigos de tantos caminhos. Ou o grito libertador de energia, quando são atingidos os objetivos, o retomar de novos caminhos, de novas verdades e de novas vidas. Que nos dirão os gritos soltos depois uma jornada de serviço samaritano ao próximo, não exprimem eles a felicidade que supera a dor e o cansaço?
Estes gritos que brotam do coração e que marcam o final de uma etapa e o recomeço de uma nova caminhada, são sinal de crescimento interior, social e espiritual que vos levarão a uma sólida aprendizagem na prestação de serviço aos mais frágeis e à partilha com o próximo que, gradativamente, vos conduzirá ao estatuto de “Bom Samaritano”, de semeadores de Esperança e de construtores de Paz.

Então sereis verdadeiros membros da “Comunidade da Vida ao Ar Livre” 1 com que o Baden-Powell sonhava para todos os Caminheiros e que vos tornastes verdadeiros seguidores do Homem Novo e no final todos reconhecerão que cada um de vós deixou o mundo um pouco melhor do que o encontrou. Que vivestes felizes e que fizestes os outros felizes!
Como nos lembrou, no passado dia 29 de março último, o Senhor Arcebispo - Dom José Cordeiro, na Oração de Laudes da Sexta-feira da Paixão do Senhor, na Sé Catedral de Braga: «É necessário ajudar as crianças, os adolescentes e os jovens a desenvolverem uma personalidade de paz» enfatizando que estes devem ter uma «educação para a paz e o perdão».


1 In Baden-Powell, A Caminho do Triunfo, Edições Flor de Lis, 2ª Edição, Companhia Editora do Minho, Barcelos, 1974, p. 9.

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domingo, 7 de abril de 2024

segunda-feira, 1 de abril de 2024

sexta-feira, 29 de março de 2024

Revisitar as Origens para não Perder a Essência

Revisitar as Origens para não Perder a Essência"


por: Carlos Alberto Lopes Pereira
artigo publicado a 29 de março 2024 no jornal diário "Correio do Minho"


O Escutismo foi criado por Baden-Powell em 1907, sendo que a grande motivação do fundador mundial está claramente associada à juventude que encontrou, aquando do seu regresso a Inglaterra, em 1901, onde foi recebido como herói nacional. Uma grande parte dos jovens estava sem emprego e sem perspetivas de futuro profissional e social, muitos dedicavam-se à delinquência juvenil, a sociedade abandonara-os à triste sorte, para eles, não havia perspetivas de futuro com dignidade. A sua ideia era encontrar uma forma de inverter esta tendência que destruía a vida de tantos e tantos jovens.
Por isso, procurou documentar-se sobre contexto Londrino, Inglês (leia-se Império Britânico), na Europa e no Mundo. Também descobriu, com grande espanto que «o seu livro “Aids to Scouting”, destinado ao exército Estava a ser usado como livro de texto nas escolas masculinas.

B.-P. viu nisto um chamamento especial. Compreendeu que tinha agora uma excelente ocasião para ajudar os rapazes da sua Pátria a converterem-se em jovens fortes. (...) Pôs mãos à obra, aproveitando as suas experiências na Índia e na África (...) Reuniu numa biblioteca especial de livros, que leu, a respeito da educação dos rapazes através dos tempos – desde os espartanos, antigos bretões, peles-vermelhas, até aos nossos dias.
Lenta e cuidadosamente B.-P. foi desenvolvendo a ideia do escutismo. Para ter a certeza de que daria resultado, no verão de 1907 levou consigo um grupo de rapazes para a Ilha de Brownsea, no Canal Inglês, para realizar o primeiro acampamento escutista de todos os tempos. Este acampamento foi um grande êxito.
E a seguir, nos primeiros meses de 1908, publicou em seis prestações quinzenais, ilustradas por ele próprio, o seu manual de instrução Escutismo para Rapazes, sem sequer sonhar que este livro ia desencadear um movimento que havia de afetar os rapazes do mundo inteiro.1»

Em Portugal as três primeiras associações surgiram:
1913 – AEP • Associação dos Escoteiros de Portugal – em Macau;
1919 – UAP • União dos Adueiros de Portugal – no Porto (extinguiu-se na década de trinta do século passado);
1923 – CNE • Corpo Nacional de Escutas (designação inicial: Scouts Católicos Portugueses) – em Braga.
Todas elas foram beber as suas preocupações com a juventude ao pensamento do Fundador: ajudar os jovens a darem um sentido ao caminho das suas vidas.
Não temos dúvidas que, tanto a AEP como o CNE, hoje instituições centenárias, se questionam permanentemente sobre a atualidade e utilidade das suas propostas educativas.
No CNE procuramos permanentemente novas respostas para que a educação para a cidadania, comprometida com a construção de um mundo melhor e da fraternidade universal escutista, sejam cada vez mais eficazes e apelativas.

Comparando a sociedade dos tempos de Baden-Powell com a dos nossos dias, continuamos a sentir que se mantêm os mesmos problemas, com algumas variações. Por isso, somos levados a pensar que, mais do que nunca, se justifica dotar crianças e jovens, com ferramentas apropriadas, para o exercício da cidadania.
Hoje, em nome da Paz, mata-se para se ter mais territórios, para se erradicar pessoas/populações que pensam de forma diferente. Destes conflitos, que todos os dias aproximam o homem de verdadeiros e insaciáveis predadores, muitos dos quais, nós cidadãos com acesso quase que universal à informação, desconhecemos a sua existência e dimensão. No princípio do século vinte, quando o acesso à informação era dificílimo, esta ignorância era compreensível para a esmagadora maioria das populações, mas nos dias de hoje não tem justificação, nem mesmo sabendo que um falso quinto poder condiciona, leia-se, reescreve a informação.

Baden-Powell a todos provoca quando escreve: «Todo o escuteiro deve preparar-se para ser bom cidadão do seu país e do mundo.
Para isso deveis começar, enquanto novos, a considerar todos os rapazes vossos amigos. Lembrai-vos, quer sejais ricos quer pobres, da cidade ou do campo, de que tendes de vos conservar unidos para bem da vossa pátria. (...)
Lembrai-vos também de que o escuteiro não é apenas amigo dos que o cercam, mas “amigo de todo o mundo”. Os amigos não lutam entre si.2»
António Sérgio, contemporâneo de Baden-Powell, recomendava que, crianças e jovens, devem aprender a participar na vida da cidade, para, com esta aprendizagem, se tornarem bons cidadãos.

P.S.:Votos de Santa Páscoa aos leitores e à equipa do Correio do Minho

1In Baden-Powell, Escutismo para Rapazes, Edições Flor de Lis, 3ª Edição, Companhia Editora do Minho, Barcelos, 1968, p. 298-299.
2Ibidem, p. 290 e 291.


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quarta-feira, 27 de março de 2024

MENSAGEM DO SANTO PADRE - AOS JOVENS NO V ANIVERSÁRIO DA EXORTAÇÃO CHRISTUS VIVIT


 

MENSAGEM DO SANTO PADRE

AOS JOVENS
NO V ANIVERSÁRIO DA EXORTAÇÃO CHRISTUS VIVIT
Queridos jovens,
Cristo vive e quer-vos vivos! É uma certeza que sempre enche de alegria o meu coração e me leva a escrever-vos esta mensagem agora, cinco anos depois da publicação da Exortação apostólica Christus vivit, fruto da Assembleia do Sínodo dos Bispos que teve como tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional».
Queria, antes de mais nada, que as minhas palavras reavivassem em vós a esperança. De facto, no atual contexto internacional marcado por tantos conflitos, tantos sofrimentos, posso imaginar que muitos de vós se sintam desanimados. Por isso desejo começar, juntamente convosco, do anúncio que está no alicerce da esperança para nós e toda a humanidade: «Cristo vive!»
Digo-o a cada um de vós em particular: Cristo vive e ama-te infinitamente. E o seu amor por ti não está condicionado pelas tuas quedas ou pelos teus erros. Ele que deu a sua vida por ti, não espera pela tua perfeição para te amar. Olha os seus braços abertos na cruz e «deixa-te salvar sempre de novo» [1], caminha com Ele como com um amigo, acolhe-O na tua vida e deixa-O compartilhar as alegrias e as esperanças, os sofrimentos e as angústias da tua juventude. Verás que o teu caminho se iluminará e até os fardos maiores se hão de tornar menos pesados, porque estará Ele a carregá-los contigo. Por isso, invoca diariamente o Espírito Santo, que «te faz entrar cada vez mais no coração de Cristo, para que te enchas sempre mais com o seu amor, a sua luz e a sua força». [2]
Como gostaria que este anúncio chegasse a cada um de vós e cada qual o sentisse vivo e verdadeiro na própria vida e tivesse o desejo de o partilhar com os seus amigos! Sim, porque vós tendes esta grande missão: testemunhar a todos a alegria que nasce da amizade com Cristo.
Ao início do meu Pontificado, durante a JMJ do Rio de Janeiro, disse-vos alto e bom som: fazei-vos ouvir! «Hagan lio!». E o mesmo continuo a pedir-vos hoje: fazei-vos ouvir, gritai, não tanto com a voz mas sobretudo com a vida e o coração, esta verdade: Cristo vive! Para que toda a Igreja seja impelida a levantar-se e pôr-se incessantemente a caminho a fim de levar a sua Boa Nova a todo o mundo.
No próximo dia 14 de abril, comemoram-se quarenta anos do primeiro grande Encontro dos jovens, no contexto do Ano Santo da Redenção, que constituiu o gérmen das futuras Jornadas Mundiais da Juventude. No fim daquele Ano Jubilar, em 1984, São João Paulo II entregou a Cruz aos jovens com a missão de a levarem a todo o mundo como sinal e memória de que, só em Jesus morto e ressuscitado, há salvação e redenção. Como bem sabeis, trata-se duma Cruz de madeira sem o Crucificado, desejada assim para nos lembrar que a mesma celebra sobretudo o triunfo da Ressurreição, a vitória da vida sobre a morte, para dizer a todos: «Por que buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!» ( Lc 24, 5-6). E vós, contemplai Jesus assim: vivo e transbordante de alegria, vencedor da morte, um amigo que vos ama e quer viver em vós. [3]
Só assim, à luz da sua presença, é que será fecunda a memória do passado e tereis a coragem de viver o presente e enfrentar o futuro com esperança. Podereis livremente assumir a história das vossas famílias, dos vossos avós, dos vossos pais, das tradições religiosas dos vossos países, para serdes, por vossa vez, construtores do amanhã, «artesãos» do futuro.
A Exortação Christus vivit é fruto duma Igreja que quer caminhar em conjunto e por isso coloca-se à escuta, em diálogo e constante discernimento da vontade do Senhor. Assim, há mais de cinco anos e já em vista do Sínodo sobre os jovens, foi pedido a muitos de vós, vindos de várias partes do mundo, que partilhassem as próprias expetativas e anseios. Centenas de jovens vieram a Roma e trabalharam juntos durante alguns dias, recolhendo as ideias a propor: graças ao seu trabalho, os Bispos puderam conhecer e aprofundar uma visão mais ampla do mundo e da Igreja. Foi uma verdadeira «experimentação sinodal», que produziu muitos frutos e preparou a estrada também para um outro Sínodo, aquele que temos estado a viver, nos últimos anos, precisamente sobre a sinodalidade. Com efeito, como lemos no Documento Final, de 2018, «a participação dos jovens contribuiu para “despertar” para a sinodalidade, que é uma “dimensão constitutiva da Igreja”». [4] E agora, nesta nova etapa do nosso percurso eclesial, precisamos, mais do que nunca, da vossa criatividade para explorar caminhos novos, sempre na fidelidade às nossas raízes.
Queridos jovens, vós sois a esperança viva duma Igreja em caminho! Por isso agradeço a vossa presença e contribuição para a vida do Corpo de Cristo. E recomendo-vos que nunca nos deixeis faltar o vosso barulho bom, o vosso impulso como o dum motor limpo e ágil, o vosso modo original de viver e anunciar a alegria de Jesus Ressuscitado! Fico a rezar por isto; e vós, por favor, rezai também por mim.
Roma, São João de Latrão, 25 de março de 2024, Segunda-feira da Semana Santa.

FRANCISCUS

[1] Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit (25/III/2019), 123.
[2] Ibid., 130.
[3] Cf. ibid., 126.
[4] XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Documento Final «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional», 121.

domingo, 24 de março de 2024

domingo, 17 de março de 2024